A relação fraterna, conforme Anton (2000) é um treino que prepara as pessoas para não só reconhecer a diferença, como também para ser diferente e conviver bem com as diferenças. A autora também afirma que para viver o amor, amar e ser amado, é necessário que se saiba aceitar e administrar as diferenças.

Apesar da relação mãe-criança ser a matriz da formação da identidade, a descoberta das diferenças promove a individuação e é acentuada a partir da ambivalência em relação aos rivais.

A posição do nascimento pode ser um dos fatores que contribuem para o estabelecimento de alguns comportamentos, mas não o único. Berthoud (2000) afirma que “é difícil fazer previsões, em relação ao sistema, decorrentes de acontecimentos isolados de um ou outro membro ou de qualquer aspecto do meio externo que sempre se relaciona ao sistema”. É preciso ampliar o contexto e buscar a compreensão da totalidade. A ordem de nascimento é apresentada como um fator que pode contribuir para a construção do relacionamento, mas não é vista como determinante na construção da diferença. A ordem de nascimento dos irmãos não é considerada, como única determinante do comportamento e das características dos irmãos, mas sim como mais um fator, entre tantos outros, que podem ser significativos na construção da diferença no relacionamento fraterno.

A rivalidade pode estar presente no relacionamento entre irmãos, e pode ter iniciado e ser mantida por uma série de fatores e contextos.

A rivalidade fraterna é bastante conhecida através da simbólica história bíblica de Caim e Abel. Rivalidade esta tão grande, que levou um irmão a matar o outro. Nesta história tão conhecida estão presentes os três fatores, que são considerados por Brito (2000) o tripé da rivalidade: a hostilidade, a inveja e o ciúme. Os sentimentos de inveja são direcionados de um irmão ao outro e o ciúme ocorre pela relação do irmão com os pais. O sentimento de ciúme é baseado, em condutas de proteção e privilégio de um filho em detrimento do outro.

A hostilidade surge como que destes sentimentos de ciúme e inveja. A manifestação da rivalidade pode ser discreta ou até mesmo camuflada e pode chegar a ser declarada podendo chegar a níveis patológicos.

Meynckens-Fourez (2000) afirma que o sentimento de injustiça surge com certa freqüência no relacionamento entre irmãos. E completa exemplificando que “mesmo que cada filho receba o mesmo pedaço de chocolate, ele nunca será realmente o mesmo!”.

Sugerimos abaixo algumas intervenções que poderão ajudar os pais e as relações fraternas tornando-as mais saudáveis.

Os pais podem utilizar as seguintes formas de comunicação para auxiliarem as relações com os filhos:

Podemos destacar os seguintes aspectos de apoio e continência entre os pais e os demais filhos:

É importante que os pais saibam ter um manejo seguro dos comportamentos entre os irmãos e entendam que eles deixam de brigar com o passar do tempo. À medida que amadurecem, vai passando o egoísmo, a competição, e surgindo comportamentos mais solidários e de colaboração.

Sugerimos algumas brincadeiras que poderão ajudar as relações fraternas, mas cada ambiente familiar pode se beneficiar de outras atividades de lazer e convívio entre os pais/filhos e irmãos/irmãos de forma criativa e variada.

Faixa etária de 0 a 6 anos:

Faixa etária de 7 a 10 anos:

Faixa etária de 11 anos em diante:

 

Referências Bibliográficas

BRITO, N.. Rivalidade Fraterna: O ódio e o ciúme entre irmãos. São Paulo: Ágora, 2002.

CASTRO, K. R.P. de. Visitando a família ao longo das fases do ciclo vital: O olhar dos filhos, 2003. 371p. Dissertação (Mestre Psicologia Clínica) PUC. São Paulo.

CEVERNY, C. M.O. Ciclo vital. In: CEVERNY, C.M.O.; BERTHOUD C.M.E. e col. Família e ciclo vital: nossa realidade em pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

OLIVEIRA, A. L. de. Irmãos ao longo da vida: “Construindo uma memória compartilhada – compartilhando uma memória construída”, 2000.p. Dissertação (Mestre em Psicologia Clínica) PUC. São Paulo.

OLIVEIRA, A. L. de. Irmãos, meio-irmãos e co-irmãos: A dinâmica das relações fraternas no recasamento, 2005. 371p. Dissertação (Doutora em Psicologia Clínica) PUC. São Paulo.

MEYUNCKENS-FOUREZ, M. A fratria do ponto de vista eco-sistêmico. In: TILMANS-OSTYN, E. & MEYUNCKENS-FOUREZ, M. (org). Os recursos da fratria. Trad. Carlos Arturo Molina-Loza, Ana Maria Prates. Belo Horizonte: Artesã, 2000.