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A arte de não engolir sapos? Ou a arte de os saber digerir?

2018
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2018-01-29

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A arte de não engolir sapos? Ou a arte de os saber digerir?

Todos nós já passámos com certeza por algumas situações em que nos vimos “obrigados” a engolir sapos... Isso não significa que tenhamos sido obrigados a não dar o nosso parecer e a nossa opinião, como também não significa que tenhamos ficado zangados o resto da semana por termos engolido esse sapo. E se pensarmos bem, se calhar até nem fomos realmente obrigados a engoli-lo. O mais provável é que tenhamos optado pelo que nos parecia a atitude com mais ganhos, ou pelo menos com consequências menos negativas.

O que afinal será mais sensato? Não aceitar engolir os tais ditos sapos? Assumir uma postura de rejeição total perante qualquer situação que nos obrigue a engolir sapos? Em todas as circunstâncias? E se não considerarmos o engolir sapos, como uma atitude total de submissão e passividade, mas sim de opção?

Será mais sensato aprendermos a fazer uma digestão, a melhor possível, para cada tipo de sapo que engolimos?

Aqui, no momento antecipatório em que decidimos engolir ou não o sapo, a nossa leitura e interpretação sobre o acto em si, irá influenciar a nossa decisão. Se eu sentir, por exemplo, que estou a ser humilhada propositadamente, e se isso me revoltar, e reagir de forma mais impulsiva, provavelmente não vou suportar a ideia de engolir o sapo. Ou, ao considerar que a situação não é justa, mas que a pessoa até pode não conseguir ver a minha perspectiva, posso decidir não engolir o sapo, por não concordar, contudo, posso explicar o meu ponto de vista e a minha razão para não o fazer. Contudo, talvez caso essa pessoa seja o nosso chefe, ou alguma pessoa que nos pode criar alguns problemas, essa ponderação já poderá ser diferente. Ou seja, apesar da minha vontade poder ser a mesma, de não engolir o sapo e de responder de acordo com a minha leitura, posso adoptar uma atitude mais controlada e tranquila. E até poderei decidir, que naquele caso, aquele sapo não me irá incomodar assim tanto...?

A sensação de desconforto nesses momentos, pode ser sentida de forma menos intensa, exactamente porque podemos conseguir ver que é uma opção nossa, e que de facto até tenho a ganhar (ou a não perder) e por esse motivo, essa decisão pode acabar mesmo por ser uma atitude de maturidade? O conseguirmos tolerar a frustração, não ficando a remoer, aceitando que a nossa opção é a mais acertada no momento.

A capacidade de reflexão, a avaliação da situação por diversas perspectivas e a ponderação, serão com certeza grandes ajudas que nos ajudam a decidir se não o vamos engolir, ou se vamos colocar condimentos para nos facilitar a digestão...

 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

 

Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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