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Apenas Timidez? Ou Fobia Social? - Ter conhecimento para entender

2016
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2016-10-10

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Apenas Timidez? Ou Fobia Social? - Ter conhecimento para entender

A Timidez deriva do medo da exposição perante as outras pessoas e de falar em público. Este medo pode variar de intensidade, originando pessoas simplesmente mais reservadas, ou no outro extremo, originando pessoas que chegam ao estado fóbico – Fobia Social.

A Fobia Social caracteriza-se por um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho (avaliação). Exemplos: manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares, ser observado a comer ou a beber e situações de desempenho diante de outros, tal como apresentar um trabalho. O confronto ou a antecipação de uma dessas situações provoca uma resposta imediata de ansiedade. Esta resposta pode assumir a forma de um Ataque de Pânico, existindo um reconhecimento pela pessoa de que o seu medo é excessivo ou irracional. Nas situações sociais ou de desempenho temidas, as pessoas com fobia social têm preocupações relativas ao seu embaraço e temem que os outros as avaliem de forma negativa, bem como medo em demonstrar sintomas de ansiedade. Existe uma grande tendência da pessoa evitar os sintomas que lhe causam sofrimento e assim, evitar essas situações, criando um condicionamento na rotina diária, no funcionamento ocupacional ou na sua vida social. Os casos de fobia social podem originar o aparecimento de estados depressivos ainda mais limitantes, tal como a depressão, afastando a pessoa do contacto social.

Assim, podemos dizer que o “Núcleo” da Ansiedade Social é o medo de ser incompetente, de falhar ou de se comportar de forma ridícula (Insegurança acerca das suas capacidades) e o desejo intenso de transmitir aos outros uma impressão favorável de si mesmo, havendo uma grande preocupação de uma possível avaliação negativa.

Desta forma, quando sofremos de ansiedade social, as situações sociais tornam-se ameaçadoras, originando uma hipersensibilidade à possibilidade de sermos avaliados, e assim é desenvolvida uma hipervigilância cognitiva à rejeição, que se traduz numa alteração no processamento de informação, mais especificamente, enviesamento nos processos de atenção, avaliação e interpretações das situações sociais. A interpretação das situações sociais como ameaçadoras está relacionada com uma vivência de vulnerabilidade à avaliação pelos outros, que por sua vez resulta da existência de auto-esquemas de ineficácia e incompetência para lidar com situações sociais. A existência de regras rígidas acerca do comportamento social e o engrandecimento das consequências do fracasso são aspectos que também se encontram presentes.

O medo de não causar uma impressão positiva ou de ser avaliado negativamente pelos outros em situações sociais é um dos aspectos centrais. Uma hipersensibilidade às críticas (ou possíveis críticas) dos outros contribui para que nos sintamos permanentemente observados e avaliados. Assim, está presente uma vigilância e avaliação sobre nós próprios e sobre os nossos comportamentos e acções, como também uma comparação com os outros, na tentativa de nos protegermos dessas avaliações negativas.

Quando somos confrontados com uma possível situação desencadeadora de ansiedade, desenvolvemos uma série de expectativas negativas acerca das possibilidades de ficarmos ansiosos, e da percepção dessa ansiedade pelos outros, que nos leva a avaliar a situação como ameaçadora e a conduzir até a uma atenção auto-focada.

A atenção auto-focada faz-nos aumentar a consciência de nós próprios, ampliando a percepção de ansiedade e desconforto (intensificando os sintomas somáticos e cognitivos), fazendo assim diminuir a atenção disponível para os estímulos exteriores relacionados com a situação. Para além disso, cria um efeito de interferência no processamento dos estímulos: interpretamos sinais de forma enviesada, como também construímos uma imagem de nós mesmos que assume automaticamente ser a impressão que os outros têm de nós. Esta imagem é construída a partir de uma perspectiva de observador, como se nos observássemos de um ponto de vista exterior a nós.

Pelo apresentado neste texto, é fácil perceber a importância de enfrentarmos este problema o mais cedo possível. Desse modo, podemos reduzir o desgaste emocional associado à ansiedade social e prevenir os outros problemas que dela derivam. Uma abordagem terapêutica adequada permitir-nos-à ter uma vida mais tranquila e satisfatória, e isso passará naturalmente por nos confrontarmos com as situações, e pensar, sentir e agir nesses momentos, de forma diferente da habitual, para quebrar o nosso ciclo vicioso de ansiedade social.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

 

Fontes:

- American Psychiatric Association (APA) (2013). DSM – V: Diagnostic and Satistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Washington: New School Library.

- Gouveia, J. P. (2000) Ansiedade Social: da timidez à fobia social. Coimbra: Quarteto Editora.

Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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