E quando o peso da responsabilidade nos deixa sem forças?
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-03-20
É na fase de adulto que se encontram as maiores exigências da vida. Ser adulto implica construir um caminho no sentido da realização profissional, afectiva e familiar. Na área profissional podem surgir algumas questões relacionadas com a satisfação no trabalho, a pressão que se sente para se ser mais competente, a competitividade, o salário, ou a gestão das relações com colegas e chefes. Na área familiar existem as preocupações de se querer constituir família, as relações amorosas, o ser-se pai/mãe, gerir o tempo entre trabalho e família. E também na área pessoal surgem dúvidas: do que é que realmente gosto? O que é que me satisfaz? Como é que me sinto bem? E equilibrar todas estas áreas não é uma tarefa fácil. Por um lado pensar em nós próprios, ao mesmo tempo que se tem que dar respostas aos outros. Por outro lado a necessidade do tempo e do espaço que precisamos para nos sentirmos livres e livrarmo-nos desse peso, ao mesmo tempo o querer criar raízes e construir algo que naturalmente, implica responsabilidade.
Como manter acordada essa criança que está em nós, essa parte mais curiosa, divertida e espontânea, quando se vive num dia a dia de responsabilidades e exigências?
Cada pessoa poderá ter as suas estratégias, cada pessoa encontrará as suas formas, no entanto é importante pensarmos sobre o que nos leva a sentirmo-nos por vezes culpados, por darmo-nos tempo. Consideramos o lazer algo secundário na nossa vida? Consideramos todas as actividades profissionais prioritárias? Quanto tempo por semana me permito não fazer nada? Quanto tempo por semana me permito a fazer algo por mim e para mim apenas? Não, isso não tem que ser egoísmo... Na nossa sociedade cada vez se valoriza mais os resultados e o termos tempo para nós, tende a ser visto negativamente.
Contudo, para não nos deixarmos consumir pelo peso dos “tens” e “deves” e até mesmo para que as responsabilidades sejam assumidas de forma mais responsável, é de grande importância, termos a capacidade de procurar formas de equilibrar as nossas necessidades, e de mantermos a nossa criança curiosa e permitir que tenha tempo para brincar. Sim, porque os adultos também se riem, divertem e brincam.
Alguém partilhou esta frase... “o adulto é uma criança que cresceu”. Isto não significa que seremos, no fundo, todos crianças?
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.