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Emoções desagradáveis… para que servem e qual a sua importância?

2017
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-05-21

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Emoções desagradáveis… para que servem e qual a sua importância?

Todas as emoções têm um propósito e são fundamentais para a nossa sobrevivência, bem como para o desenvolvimento psicológico e social.

O medo, a raiva, a alegria e a tristeza são as quatro emoções básicas do ser humano que correspondem a padrões inatos e não requerem de aprendizagem. 

Apesar da tendência para categorizarmos as emoções em positivas e negativas, o que existe são emoções mais ou menos agradáveis, mas todas são necessárias e têm uma função específica. Contudo, do ponto de vista social e cultural, está implícito que sentir algumas destas emoções pode ser algo nocivo. Muitos de nós fomos educados com a ideia de que a manifestação da tristeza ou do medo são sinais de fraqueza a serem evitados e que a expressão da raiva é altamente condenável, imperando a necessidade de agradar aos outros. A falta de permissão para expressar as emoções e a desvalorização das mesmas, leva a que muitas pessoas entrem em processos de negação, repressão ou distorção dessas emoções, em vez de as regularem e expressarem adequadamente.

Em relação ao medo, podemos dizer que é uma emoção cuja função é nos advertir e preparar para uma situação de perigo, por exemplo uma ameaça no meio, um conflito entre objetivos ou a falta de recursos. O medo, através das modificações fisiológicas que comporta (aumento da tensão muscular, aceleração respiratória e cardíaca) mobiliza o organismo, multiplica por dez as nossas forças físicas e psíquicas e aumenta o nosso estado de alerta para detetar o perigo, enfrentá-lo, eliminá-lo ou fugir. Quando o medo provoca uma reação de bloqueio ou até de negação, impossibilitando a mobilização de uma ação adequada, acaba por ter um efeito desorganizador, podendo levar ao desenvolvimento de quadros graves de ansiedade.

Relativamente à tristeza, é a emoção gerada pela experiência de perda que pode ser de alguém significativo, de uma esperança, da saúde ou de um lugar. Normalmente, depois de um período de tristeza, segue-se uma sensação de alivio pela libertação da tensão através do choro e a aceitação da realidade que abre a possibilidade para o investimento em novas coisas e pessoas. A tristeza efetua assim um trabalho importante de integração e de reparação.

Por sua vez, a raiva é uma emoção cuja função é permitir a reparação perante a frustração, a injustiça e a ofensa, possibilitando a restauração do sentimento de integridade do indivíduo. A raiva, pela tensão muscular que provoca, aumenta a nossa força e energia e cria em nós um impulso para a ação que visa defender os nossos direitos e impor limites face à invasão do espaço pessoal. O silenciar da raiva impede que o outro tome conhecimento do dano que está a causar e que tenha possibilidade de o reparar. Nestes casos, a internalização da raiva acaba por dar lugar a quadros de depressão e ansiedade.

As emoções, mesmo que sentidas como desagradáveis, têm como vimos um  propósito específico e devem ser experienciadas adequadamente para que sejam potencialmente reparadoras, prevenindo o aparecimento de perturbações psicológicas.

A psicoterapia, pode ajudar o paciente a entrar em contacto com as suas verdadeiras emoções, a reconhecê-las, aceitá-las e a geri-las de forma mais adequada, possibilitando uma maior satisfação na relação consigo e com os outros.

Joana Valério

Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.

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