Máscaras sociais: que uso fazemos delas?
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-02-26
Podemos entender as máscaras sociais como os papéis ou as personagens que desempenhamos em diferentes esferas da nossa vida e que são fundamentais para garantir a nossa adaptação social.
As exigências e as pressões do exterior obrigam-nos a encarnar diferentes personagens, tais como os de profissional, colega, pai, filho, irmão ou amigo e isso traduz-se na tonalidade de voz, no tipo de discurso, na imagem e na expressão corporal que adotamos em diferentes contextos.
As nossas personagens servem a situação na qual nos encontramos e saber escolhê-las e usá-las, com consciência e responsabilidade, sabendo quem é o nosso verdadeiro Eu e que ele está sempre presente, é um indicador de flexibilidade e saúde mental.
Por exemplo, se temos de ir a uma festa num dia em que nos sentimos tristes, vamos escolher e usar um personagem que, por um lado, vai proteger a nossa intimidade do exterior e por outro, irá promover a nossa inserção naquele meio. Não nos deixamos de sentir tristes naquele contexto, mas não é dessa forma que nos queremos apresentar, sendo portanto útil o recurso a uma personagem cortês e bem educada que responda às exigências daquela situação e ao que é esperado pelo coletivo.
As maiores dificuldades no uso de personagens surgem quando não existe um verdadeiro auto-conhecimento e o Eu fica identificado à personagem, fazendo com que a pessoa passe a agir sempre em personagem sem ter consciência disso. Exemplo disso é o caso de uma pessoa que passa a falar e a agir identificado à personagem de workaholic e de autoridade que ocupa no seu trabalho, abordando as outras áreas da sua vida, isto é, família, amigos e lazer da mesma maneira, como tarefas a cumprir e a encaixar na agenda. Nestes casos, a perda de certos cargos profissionais pode ser sentida como uma perda de uma parte da própria identidade, podendo levar a quadros depressivos graves.
O uso adequado de máscaras sociais possibilita experimentarmos o mundo de uma forma saudável, sem ficarmos reféns da desajabilidade social e perdermos a nossa identidade entre todos os outros que vão aparecendo na nossa vida.
Para além disso podemos considerar que também existem máscaras que nos ajudam a reforçar a nossa auto-estima e a desenvolver as nossas potencialidades, quando, por exemplo temos de fazer de conta que estamos seguros, confiantes e à vontade num determinado papel e mais tarde essas características passam efetivamente a fazer parte da nossa identidade.
E você conhece as suas máscaras? Que uso faz delas na sua vida?
Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.