O que há de "errado" num elogio que o torna desconfortável?
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-04-16
Como nos sentimos ao receber um elogio? Quais os primeiros pensamentos que nos vêm à cabeça? Que tipo de respostas costumamos dar? Como reagimos? Para muitos de nós, receber um elogio pode ser um momento algo forçado. Podemos ter dificuldade de aceitar o elogio quando não acreditamos que somos merecedores de tal atitude por parte do outro. Caso seja assim, o que nos faz não acreditar no que esta pessoa nos está a dizer? E se essa pessoa nos criticasse, seria mais aceitável? Porque será que é mais fácil aceitar uma crítica do que um elogio? O que tem um elogio de tão “errado”, para se tornar desconfortável para muitos de nós?
Diversas razões podem influenciar esse desconforto, muitas dessas razões estão relacionadas com a questão educacional, a forma como fomos ensinados a lidar com a crítica e com o elogio, como nos vemos e como nos sentimos merecedores ou não desse elogio, como também a forma como ao longo da vida fomos criticados e elogiados. Contudo há uma outra razão: o peso da responsabilidade do elogio.
Ao elogio também estão associadas as expectativas. Ou seja, quando alguém nos congratula por sermos o melhor aluno, a empregada do mês, um grande guitarrista, uma óptima actriz ou porque pintámos um quadro muito bonito, podemos criar em nós uma pressão, porque pensamos que: "Tenho que ser sempre assim tão bom, porque essa é a imagem que esta pessoa tem de mim”. E, ao não querer defraudar esta pessoa, criamos a responsabilidade de manter esse nível e uma obrigação em continuarmos a ser muito bons. Caso isso não aconteça, podemos sentir que falhámos...
Como podemos aceitar de forma mais natural os elogios? Podemos ouvir um elogio e não associar a uma expectativa do outro? Conseguimos aceitar um elogio como algo puramente genuíno da parte do outro? Mesmo que o outro crie expectativas sobre nós, como podemos lidar de forma positiva, sem permitir que elas nos boicotem com o receio de falhar? As respostas são diversas: auto-conhecimento, consciência, reflexão, autoconfiança.
Sugestão do dia: elogiar o que nos agrada e experimentar receber elogios e sentirmo-nos simplesmente agradados.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.