PUB


 

 

Resoluções de ano novo?!? E por que não gratidões pelo que terminou?

2016
ana.luisa.oliveira.msc@gmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-01-08

A- A A+
Resoluções de ano novo?!? E por que não gratidões pelo que terminou?

Há cerca de duas semanas celebrou-se o solistício de Inverno, o que significa que durante os próximos seis meses os dias serão cada vez maiores. Estou grata por isso.

Passaram-se também alguns dias após o Natal. Seja por motivos religiosos, por tradição cultural, ou outra, esta é uma época em que geralmente se oferece e se recebe: presentes, companhia, memórias, emoções.

O ano de 2016 terminou há pouco, o que faz também, habitualmente, deste um  tempo de balanço e de desejos para o novo ano.

Para muitos de nós é mais fácil olharmos para aquilo que não queremos ver repetido no novo ano que iniciamos, desejar coisas novas, diferentes, melhores, do que focarmo-nos no que passou ou está ainda a passar-se. Como em muitos outros momentos, depositamos o nosso tempo e energia a fazer algo enquanto prestamos atenção noutra coisa qualquer, o que nos faz perder, por um lado, momentos significativos das nossas vidas, e, por outro, a consciência dos julgamentos e escolhas que vamos fazendo no nosso dia-a-dia. Mas, sem estarmos atentos ao presente, como podemos no futuro não repetir os mesmos padrões do passado? Como podemos questionar os julgamentos que vamos fazendo, a forma como agimos, ou duvidar que as nossas crenças podem não corresponder a uma realidade factual e imutável?

Por outro lado, prendermo-nos aos erros do passado, faz com que a auto-critica, aquela vozinha interior, consiga por estes dias um ambiente óptimo para florescer, minando a nossa confiança em nós mesmos, e comprometendo fortemente o nosso bem-estar: “devias ter feito isto e aquilo! Mais um natal em que andas a correr a comprar presentes desinteressantes à última a hora! Muito bem… um ano passou e quantas das tuas resoluções para 2016 concretizaste?”.  Contudo, uma voz construtiva, de aperfeiçoamento, que nos ajude a fazer ajustes, a corrigir o que precisa ser corrigido, é muito bem-vinda.

Esquecemo-nos muitas vezes que a vida é naturalmente imprevisível e imperfeita, e por isso esquecemo-nos também de ficar gratos pelo que temos, ambicionando quase exclusivamente mais e melhor. Experienciar gratidão pelo que temos, na simplicidade de um pôr-do-sol, ou no sorriso de outra pessoa, não faz de nós pessoas ingénuas e/ou pouco ambiciosas... As pessoas que estão gratas pelas e nas suas vidas já passaram, muitas vezes, por momentos de profundo sofrimento e perceberam que, para elas, são as simples mas significativas coisas da vida que fazem com que tudo valha a pena, perceberam que não precisamos de ter medo de viver o momento (pelo contrário), que isso não nos torna mais fracos e vulneráveis, e que nos permite continuar a abraçar (até de forma mais completa e profunda) novos e grandes desafios.

Estarmos gratos não compromete o nosso esforço e empenho no nosso futuro, permite-nos contudo aceitar que temos mais motivos para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos acerca de quem somos e do que alcançámos, do que ousamos habitualmente reconhecer.

Hoje venho propor que possamos olhar com gratidão para o ano que agora encerrou: as aprendizagens que fizemos, as pequenas (ou grandes) coisas boas que nos aconteceram, as menos boas que conseguimos evitar ou com as quais soubemos lidar. Difícil?! É comum olharmos para aquilo que esperamos ter ou ver realizado no próximo ano. Mas hoje, mesmo que já em 2017, desafio que olhemos para o que o ano de 2016 nos trouxe de bom... E a ficarmos gratos por isso.  

Ana Luísa de Castro Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia

Ana Luísa de Castro Oliveira

Ana Luísa de Castro Oliveira é Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva (APTCC). É Licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade de Évora, tendo realizado também Pós-Graduação em Psicologia Comunitária e Protecção de Menores, no ISCTE-IUL, e em Psicoterapia, na APTCC.
Desenvolveu atividade clínica com crianças, adolescentes e adultos no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital do Espírito Santo (Évora), onde integrou também a Equipa de Saúde Mental Infantil. Paralelamente à actividade clínica em contexto privado, dinamizou atividades de promoção de competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, bem como apoio psicossocial às suas famílias, no Bairro da Quinta do Loureiro, em Lisboa.
Integrou uma equipa multidisciplinar de intervenção comunitária no concelho do Seixal, onde realizou diversas atividades de promoção de competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco de exclusão, atividades de promoção e apoio à empregabilidade, sessões de acompanhamento psicológico individuais e de aconselhamento parental com famílias em situação de vulnerabilidade.
Atualmente exerce clínica privada com adultos em Lisboa e Almada, e é Bolseira de Investigação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que, através dos seus serviços em consultório, domicílio e via online, tem como objectivo promover a saúde mental e a qualidade de vida de jovens, adultos e séniores.

mais artigos de Ana Luísa de Castro Oliveira