PUB


 

 

Sentir tudo em todas as suas formas... e a prática do Mindfulness

2017
ana.luisa.oliveira.msc@gmail.com
Psicóloga clínica
Publicado no Psicologia.pt a: 2017-03-06

A- A A+
Sentir tudo em todas as suas formas... e a prática do Mindfulness

Quantas vezes, na correria do dia-a-dia, ao tentarmos cumprir com todas as solicitações com as quais nos deparamos, ao tentarmos que nada nos escape, a correr de um lado para o outro na ânsia de bem sucedermos em todos os nossos papéis, ao procurarmos fazer o balanço entre as tarefas que cumprimos e as que nos faltam cumprir, acabamos por nos perdermos de nós próprios, por perder o contacto com o momento presente, com aquilo que estamos realmente a fazer e a sentir? E, não menos vezes, isso acaba por trazer cansaço, mal-estar, desilusão, frustração, dificuldade de concentração, e, até mesmo, uma acentuada redução da nossa capacidade de cumprirmos efectivamente com os mesmos desafios.

É por isso que hoje escrevo sobre Mindfulness, ou seja, sobre a capacidade de aumentarmos a nossa consciência acerca daquilo que estamos realmente a experienciar através dos nossos sentidos, ou acerca do nosso estado de espírito através dos nossos pensamentos e emoções.

O conceito de Mindfulness pode, então, ser definido com a capacidade humana de estarmos completamente presentes, conscientes de onde se está e do que se está a fazer, e não demasiado reactivos ou sobrecarregados com o que se está a passar à nossa volta. O mindfulness permite-nos colocar algum espaço entre nós próprios e as nossas reacções, agindo de forma mais consciente, reduzindo as nossas respostas condicionadas.

Por vezes confunde-se mindfulness com o desejo de serenar a mente ou de atingir um estado de calma e paz permanente. No entanto, a ideia, ainda que não seja fácil, é simples: observar o momento presente como ele é, sem julgamentos. Nem mesmo julgamento acerca dos julgamentos que possam surgir.

Ao tentarmos focar-nos no momento presente, é frequente sermos interrompidos por pensamentos ou preocupações acerca do futuro e arrependimentos acerca do passado. É importante não os ignorarmos, mas sim tomar uma espécie de nota mental acerca deles e deixá-los ir. Podemos então, novamente, voltar a observar o momento presente como ele é, o que faz do mindfulness a prática de voltar, uma e outra vez, ao momento presente. Em parte, o mindfulness parece resultar por nos ajudar a aceitar as nossas experiências (as boas, e as desagradáveis), em vez de as rejeitar ou evitar.

O mindfulness, apesar de não envolver qualquer prática ou crença religiosa, tem a sua origem no budismo, beneficiando de algo comum a várias religiões: uma prática que permite redireccionar os nossos pensamentos das preocupações para uma apreciação do momento e uma perspectiva da vida mais clara e consciente.

 

Ana Luísa de Castro Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

Ana Luísa de Castro Oliveira

Ana Luísa de Castro Oliveira é Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva (APTCC). É Licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade de Évora, tendo realizado também Pós-Graduação em Psicologia Comunitária e Protecção de Menores, no ISCTE-IUL, e em Psicoterapia, na APTCC.
Desenvolveu atividade clínica com crianças, adolescentes e adultos no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital do Espírito Santo (Évora), onde integrou também a Equipa de Saúde Mental Infantil. Paralelamente à actividade clínica em contexto privado, dinamizou atividades de promoção de competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, bem como apoio psicossocial às suas famílias, no Bairro da Quinta do Loureiro, em Lisboa.
Integrou uma equipa multidisciplinar de intervenção comunitária no concelho do Seixal, onde realizou diversas atividades de promoção de competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco de exclusão, atividades de promoção e apoio à empregabilidade, sessões de acompanhamento psicológico individuais e de aconselhamento parental com famílias em situação de vulnerabilidade.
Atualmente exerce clínica privada com adultos em Lisboa e Almada, e é Bolseira de Investigação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que, através dos seus serviços em consultório, domicílio e via online, tem como objectivo promover a saúde mental e a qualidade de vida de jovens, adultos e séniores.

mais artigos de Ana Luísa de Castro Oliveira