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Tem-te bem

2015
apsicologasara@gmail.com
Psicóloga. Psicoterapeuta. Membro da coordenação terapêutica do Centro WONDERFEEL - Um Novo Bem-Estar. Membro efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses
Publicado no Psicologia.pt a: 2016-07-18

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Tem-te bem

Quis esta placa algures no distrito de Santarém inspirar-nos para o artigo de hoje. Aqui entre nós, reparar na toponímia portuguesa pode ser um exercício assaz interessante, e por sinal, muitas vezes cheio de ilações…! :)

“Ter-se bem” ou tratar-se em conformidade, ser gentil consigo mesmo à primeira vista parece ser muito simples, de tão óbvia a sua importância para o curso das nossas vidas. Porém, mesmo sendo uma atitude tão determinante para o bem-estar e para a saúde em geral (nossos como daqueles que nos rodeiam), é ainda – apesar da sua simplicidade – uma tarefa para muitas pessoas difícil de praticar. As demandas e exigências do mundo moderno traduzem-se muitas vezes em “stress” auto-imposto, acrescido de um mordaz sentido crítico face a nós mesmos, de juízos de valor à força bruta e julgamento exacerbado.

Para além disso, no caminho das nossas vidas experimentamos o sofrimento, perdas e decepções que põem à prova e incitam, sobretudo nesses tempos difíceis, a esse senso auto-crítico duro e por vezes até violento connosco mesmos ( “que estúpido que sou!” ou “mas porque é que isto só me acontece a mim?!” ou “também eu queria muita coisa mas não posso!”, etc., you feel it?! ;) ) Sem se aperceber, uma pessoa, através deste tipo de diálogo interno ou discurso exterior, estabelece uma forma nociva de se relacionar com ela própria.

Exercício para hoje, pode ser? :) Que frases ou ideias eu vou repetindo continuadamente? Sim, sobre si ou sobre os outros… O que é que eu penso verdadeiramente em relação a sentir-me merecedor de coisas boas?... Que julgamentos faço ou que sentimentos secretos cultivo em relação às pessoas que estão ou aparentam estar “de bem com a vida”?... Estou a crescer/realizar-me com a vida que levo e mantenho? Como é que eu estou a lidar com as mudanças e a passagem do tempo?...

Tratar-se bem, ter-se bem, ser gentil e compassivo consigo mesmo, antes sequer de ser uma acão, é uma atitude que pode decidir a sua vida. Decidindo cultivar as sementes que moram em si, como um jardim…

Nos momentos difíceis por que todos passamos, cuidar de si mesmo pode ser a alternativa ou o passo entre levantar-se ou cair. Entre parar ou continuar. Ser amável e compreensivo consigo próprio não é sinónimo de ser auto-indulgente ou auto-centrado. Ser gentil connosco mesmos vem de reconhecer a nossa humanidade de base, essencial e comum, estando cientes das nossas vulnerabilidades mas ao mesmo tempo respeitá-las. Tendo a necessidade de nos tratar tão bem quanto àqueles que mais amamos ou que são preciosos para nós, ou seja, reconhecendo que não somos nem superiores nem inferiores a ninguém, mas semelhantes. Fazemos parte uns dos outros e de toda a vida.

As evidências científicas estão aí, a toda a hora, a comprovar aquilo que muitos de nós provavelmente já supunha... Que os benefícios da bondade pessoal (ter-se bem, tratar-se bem!) dão saúde, anos de vida e fazem crescer. As pessoas que se têm bem tratam melhor os outros, para além de que mal conhecem ou ouviram falar desses “bichos papão” dos tempos modernos: ansiedade, depressão, raiva, etc. Pelo contrário, têm um elevado ‘QI” emocional.

Quando somos muito críticos de nós mesmos mais tendemos a adoptar essa postura perante os outros, quer o percebamos quer não. Da mesma forma, quanto mais bonomia e tranquilidade transmitirmos aos outros mais portas abrimos para que estes tenham a mesma atitude para connosco, impactando positivamente os nossos relacionamentos interpessoais.

Observe com cuidado quais são os seus erros ou dificuldades em abrir espaço para criar empatia com aqueles que o rodeiam. Aliás, pode querer bem aos outros quem não se quer bem a si mesmo?

Sara Ferreira

Sara Ferreira é psicóloga, psicoterapeuta, com formações especializadas na área da Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Comunitária, sendo actualmente também autora e co-autora em diversas publicações técnicas e científicas de renome, assim como portais de referência na área da Psicologia, desenvolvimento pessoal, saúde e bem-estar. Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Licenciada em Psicologia Aplicada pelo ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada, com experiência curricular e profissional no acompanhamento psicológico de utentes (ambulatório e consultas externas) na Unidade de Psicologia do Hospital de Santa Marta em Lisboa, exercendo actualmente a sua prática clínica maioritariamente em contexto privado. Colaborou como psicóloga na Direcção de Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde, e em diversos projectos da Comissão Europeia, nomeadamente nas redes EAAD – European Alliance Against Depression e IMHPA – Implementing Mental Health Promotion Action, tendo também colaborado na preparação e edição do Programa Nacional de Luta Contra a Depressão, no contexto de programas prioritários do Plano Nacional de Saúde 2004-2010. Colaborou no Grupo de Coordenação da Saúde, no contexto da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, tendo também desempenhado funções de investigadora em diversos projectos de investigação e grupos de trabalho nacionais e internacionais sobre boas práticas em saúde mental e na área da Psicologia da Saúde, nomeadamente, a European Health Psychology Society.

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