PUB


 

 

A maior falácia que impingimos aos outros: "somos todos iguais"! - A psicologia da diferença

2017
lmaia@ubi.pt
Licenciado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade do Minho. Mestre em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Doutorado em Neuropsicologia pela Universidade de Salamanca. Especialista em Neuropsicologia e Psicobiologia pela Universidade de Salamanca. Pós-Doutorado em Ciências Médico-Legais pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar. Docente universitário no Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior. Neuropsicólogo e psicólogo clínico (prática privada). Editor associado da "Revista Psicologia e Educação" (UBI). Editor da “Iberian Journal of Clinical & Forensic Neuroscience” (Portugal). Editor da RUMUS "Revista Científica da Universidade do Mindelo" (Cabo Verde)

A- A A+
A maior falácia que impingimos aos outros: "somos todos iguais"! - A psicologia da diferença

Dou por mim a pensar no quanto somos fracos para aceitar algo que a maioria das pessoas parece sentir, mas não tem a coragem de aceitar: quase todos nos achamos especiais e diferentes, e não queremos ser iguais “aos outros”, mas temos medo de declarar de viva voz. Parece-me aquela típica atitude portuguesa que diferencia a opinião pública e a opinião publicada: ou seja, publicamente ou não, até digo o que penso acerca do assunto, mas se for para ser gravado ou publicado, ah, então já tenho que ter uma atitude politicamente correta e dizer o contrário do que penso! Claro que acredito na igualdade de princípios universais constitucionalmente assentes em que todos somos iguais em termos de direitos, liberdades e garantias. Mas, psicologicamente, moralmente, deontologicamente, somos todos iguais?

Tenho visto inclusivamente que esse tem sido um dos principais fatores que levam ao sofrimento psicológico de centenas de crianças - jovens (e até adultos) que procuram ajuda psicológica porque se sentem diferentes e, na tentativa de se aceitarem como são, e na de se enquadrarem num grupo de referência em que todos devem ser da mesma forma, entram num sofrimento atroz que por vezes leva a desfechos medonhos.

Um dia mais tarde, espero que tenham a maturidade de perceberem que os outros até podem rir-se de si por ser diferente, mas deveria sentir-se orgulhosa da pessoa que é, e rir-se dos outros, por serem todos iguais (Bob Marley aborda muito bem este assunto nos seus temas).

Pensem nisto: “Riem-se de mim por eu ser diferente? Pois eu rio-me de vós por serem todos iguais!”

Pode parecer uma atitude elitista, mas a psicologia tem demonstrado que é na aceitação do meu eu, na construção do meu self, do aumento da minha autoestima, da aceitação da minha autoimagem e no fortalecimento dos valores e princípios que me foram ensinados, que vou desenvolvendo o sentido da minha vida como um ser único, amado pelos outros, que ama e vive com os outros, mas que eu deveria ser capaz de me amar e mimar todos os dias. E isso eu só consigo pela minha diferença (tal como cada um deveria tentar fazer; pelo menos é o que eu penso).

Para quê querer enquadrar-me num grupo e por vezes, para fazê-lo, ter que partilhar a minha vida e os meus problemas. Como diz um grande pensador, se passarmos a vida a contar os nossos problemas aos outros, 90% não quer saber disso para nada, e os outros 10%, ainda por cima fica feliz por você ter problemas! Sei que estou a generalizar, mas refiro-me aqui a “outros” como as pessoas que não fazem verdadeiramente parte da nossa vida. Para quê lamuriar-se pelos problemas que tem? Abençoe a vida e faça como muitos de nós… pense assim: apenas há dois tipos de problemas, os que têm solução e os que não têm. Desta forma, dedique-se sobre os que têm solução, não se lamurie... quantos aos que não têm solução, já estão solucionados! Passe à frente e mude a página!

Augusto Cury tem uma frase fabulosa acerca disto: “Produzir ideias tem um preço, ser diferente tem um preço, nem sempre fácil de pagar, mas é necessário para saldar o débito com o nosso próprio Eu”.

Ao contrário do que sugeria alguém, eu não vou pedir desculpas à sociedade por ser diferente!

Olhemos à nossa volta e vejamos se nos identificamos com a maioria das coisas que vemos… Queremos mesmo ser iguais e defender as mesmas ideias que nos vamos apercebendo todos os dias, seja no trabalho, numa conversa caída do céu num café, na defesa de uma constante irritabilidade, queixume e agressividade que se banalizou de forma que nos deveria envergonhar, quer em meios mais acessíveis a todos como as redes sociais, quer em meios mais (supostamente) seletivos, como os media? Varpechowski tem uma frase fortíssima quanto a isso: "Quanto mais enquadrado na sociedade, mais perto da morte se está".

Com este ponto de vista não quero dizer que deva pensar mal das pessoas que me parecem proceder mal; como sugeria Sócrates (o filósofo), prefiro acreditar que estão equivocadas!

E para ser diferente termino assim: “A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia.” (Michel Foucault) E é a paz que esta diferença louca me traz que me ajuda a ser feliz e me manter sereno para atender centenas de pessoas nos seus momentos de maior angústia.

Como psicólogo, cada um dos meus utentes sabe que procuro ajudá-los a sentirem-se fortes e realizados e a interiorizar que a pessoa mais importante do seu mundo deveria ser ela própria, única, incomparável, especial. Se a pessoa estiver bem, então poderá espalhar o bem a todos à sua volta (e isso não é sinal de egoísmo, mas sim de responsabilidade para consigo e para com os que ama).

Citando Aristóteles “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”. Por isso meus amigos vos peço, da próxima vez que me virem, respeitem a minha diferença e, por favor, tratem-me de forma desigual! Creiam que estarão a contribuir para a minha felicidade, como eu gostaria de contribuir para a felicidade de cada pessoa que tenha a coragem de ser diferente, como Fernão Capelo Gaivota.

“Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando?”  (Richard Bach)

Abrace a psicologia da diferença e seja feliz! Cumprimentos a todos!

Luis Maia

Luis Alberto Coelho Rebelo Maia é Licenciado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade do Minho, Mestre em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Lisboa, Doutorado em Neuropsicologia pela Universidade de Salamanca, Especialista em Neuropsicologia e Psicobiologia pela Universidade de Salamanca e Pós-Doutorado em Ciências Médico-Legais pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar.
É docente universitário na Universidade da Beira Interior, no Departamento de Psicologia e Educação, onde lecciona nas áreas das neurociências, metodologias de avaliação e intervenção psicológica e psicologia do desporto.
É também terapeuta com consultório próprio na Cidade da Covilhã, onde exerce a sua função de neuropsicólogo e psicólogo clínico, abrangendo diversas áreas da avaliação e intervenção psicológica. Está registado na Ordem dos Psicólogos Portugueses, com Título de Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Neuropsicologia.
Autor de mais de duas dezenas de livros, conta com alguns best sellers, nomeadamente as obras “Educar Sem Bater”, “E tudo Começa no Berço”, “A psicologia do verbo amar e o erradicar da negligência”, “Violência Doméstica e Crimes Sexuais”, e ainda “Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica”.
É ainda autor de centenas de artigos científicos publicados nacional e internacionalmente, tendo sido galardoado com cerca de uma dezena de prémios de mérito nacionais e internacionais pelos seus trabalhos e desempenho no campo da psicologia.

mais artigos de Luis Maia