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É preciso mudar para depois se ganhar

2017

Psicólogo. Terapeuta de casal e familiar. Autor do livro “Sentimento de Pertença – Um caminho a percorrer por mim e por ti”

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É preciso mudar para depois se ganhar

«É preciso perder para depois se ganhar e, mesmo sem ver, acreditar.

Vida que segue e não espera pela gente. Cada passo que dermos em frente, caminhando sem medo de errar».

Excerto da música ‘Melhor de Mim’ de Mariza.

 

No meu exercício profissional, em contexto clínico, escuto e vejo a desesperança a entrar na vida das pessoas, sem bater à porta, e a instalar-se numa mente cansada. Há pessoas que verbalizam essa falta de esperança letra a letra, palavra a palavra, frase a frase, de forma bem clara, e há outras que o dizem através da «voz do silêncio». A sua forma de expressão pode variar, mas ambas as versões transportam consigo uma retaguarda muito sofrida e um presente de desânimo. Um passado com demasiadas situações de insucesso e de negatividade, cujo efeito na linha do tempo transporta descrença e desencadeia um pessimismo que se perpetua na vida quotidiana, dia após dia. Um peso excessivo para uma caminhada tão longa e exigente: a caminhada da vida, na busca incessante por um sentido para a mesma. A partir de uma determinada altura, para estas pessoas, deixa de fazer sentido acreditar nas vitórias tão desejadas. Nalguns casos, como se não bastassem os vários fracassos, acopla-se a autoculpabilização e a autopunição, percecionada como merecedora. Como agravante, no caso de persistir uma visão amargurada durante o processo de ajuda/mudança, algumas das novas tentativas podem voltar a expor o erro, a falha, o insucesso. Desta forma, mesmo que pelo meio alguns efeitos positivos possam aparecer, acaba por sair reforçada a visão pessimista e a perceção desoladora de incapacidade total, ou seja, a pessoa sente que está a lutar pelo impossível. Posso dar-lhe um exemplo que ajuda a clarificar. Um dia, numa consulta, uma senhora, relativamente a um objetivo traçado, disse-me o seguinte: «Eu acredito que vou alcançá-lo, mas sei que vou falhar! É sempre assim!». Na realidade, sabendo que vai falhar, acredita mais no seu falhanço do que na vitória.

Qual o trabalho a realizar? Com grande sentido de responsabilidade, deve-se implementar a mudança de pensamentos e de comportamentos, explorar as emoções e sentimentos que vêm sendo carregados(as) e persistir, de forma planeada e organizada, na resolução dos problemas, implementando estratégias eficazes para se atingir os objetivos, incluindo a reeducação relativamente ao erro – numa crónica que escrevi para a imprensa, intitulada ‘A utilidade do erro no desenvolvimento humano’, disse que «errar é uma excelente oportunidade para fazermos muito melhor e sermos melhores pessoas». Se até ao dia de hoje nada funcionou (ou tudo foi percecionado como tal), é preciso mudar para depois se ganhar – arriscando na implementação de novas práticas, desmistificando e retirando o peso excessivo dos erros, dos falhanços e dos insucessos, criando novos e realistas significados para os acontecimentos do passado, aprendendo com determinação e caminhando, pouco a pouco, com mais sabedoria. Um processo de transformação essencial para devolver o bem-estar, a qualidade de vida e a saúde de quem mais precisa. Assim, se as forças lhe começam a faltar, ou a quem está próximo de si, a entrada num processo de ajuda/mudança deve ser prioritária.

 

Tiago Sá Balão

Tiago Sá Balão é psicólogo (licenciado e mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade do Porto), terapeuta de casal e familiar, palestrante, formador e autor do livro «Sentimento de Pertença – Um caminho a percorrer por mim e por ti». Atualmente, no que se refere ao exercício profissional, assumindo funções em vários espaços, destaca-se a grande dedicação ao Relaction – Gabinete de Psicologia. Nos últimos tempos, de forma regular, tem colaborado com a imprensa, podendo destacar-se as presenças na TVI, Men's Health, Sábado e Vogue. A escrita é uma paixão e um meio que privilegia para impulsionar a reflexão crítica, desafiando os leitores a transformações pessoais, relacionais e sociais.

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