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Avenida do Pensamento - psicologia dos complexos unos através da observação do Homem

2018
margaridaoliveir@gmail.com
Psicóloga Clínica. Mestre em Saúde Mental. Especialista em Psiconeuroacupuntura

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 Avenida do Pensamento - psicologia dos complexos unos através da observação do Homem

Há escondido no corpo humano uma substância metafisica, conhecida por poucos,

 e que no fundo não necessita de qualquer medicamento,

 pois ela mesmo se assume como medicamento incorruptível e inextinguível”.

(Dorneus, 1581)

 

O Homem às vezes é retratado como se fosse do domínio do acessível, padronizável e do conhecimento geral, mas ele pertence às mais obscuras e misteriosas vivências dos tempos imemoriáveis da existência.

Nunca se sabe o bastante neste domínio! Na minha prática clínica, poucos são os dias que não me defronto com algo inquietante vindo da dialética entre o consciente e o inconsciente.

Supostas soluções ou transformações, embora que temporárias ou transitórias, surgem após: bom e acertado conselho; confissão e aceitação de material interno aprisionado; reconhecimento de conteúdos essenciais até então inconscientes, cuja consciencialização imprime um novo impulso à vida; libertação da psique infantil e nova adaptação racional à condição de vida atual; e finalmente perante uma mudança externa positiva (gravidez, casamento, emprego).

Estas situações, onde o processo analítico chega a um fim provisório, levam sempre a um confronto, mais ou menos intenso, entre o paciente e eu, sentindo-o na própria pele, pois ninguém mexe no fogo ou no veneno sem ser por ele atingido em algum ponto vulnerável.

A arte de ser terapeuta consiste em fazer o possível para ajudar o outro nesta busca de sentido e verticalidade, mas o caminho é feito de desvios e extravios que serpenteiam os opostos numa dualidade labiríntica. Estas experiências são extremamente dispendiosas na medida que exigem a totalidade do eu no tempo e espaço presente, com incursões momentâneas noutros tempos e espaços passados. Ao contrário da Psicologia do compartimento, onde cada gaveta nada sabe do que na outra existe.

A educação anímica do Homem europeu é profundamente segmentada, fragmentada, direcionada para o exterior e para o ter e saber. O dom precioso da dúvida do SER, essencial para manter a virgindade dos fenómenos inomeáveis e inumeráveis, é realmente mal visto e não aceite. Uma trágica cegueira!

O intuito primordial é proporcionar possibilidades para um melhor entendimento do que existe, aguçando o olhar para a riqueza do sentir. Na essência do consciente é preciso separar os opostos uns dos outros, mas isso é contra a natureza, pois os opostos buscam-se, da mesma forma que o inconsciente caótico busca a unidade harmonizada.

Não pode haver hesitação na inter-relação entre o espírito e o físico, e esta dialética confronta o paciente com as suas sombras e obscuridade interna, promovendo após a aceitação de quem é, um salto quântico inestimável em toda a sua vida futura.

A fatalidade do destino, o confronto com a realidade, a indignação e a perda de vontade de rir de natureza psíquica, são alquimia conscienciosa secreta, projetando o inconsciente na escuridão da matéria, a fim de clareá-la através dos sonhos. Em rigor, a projeção nunca é feita, simplesmente acontece.

A teoria das correspondências é imoral e imprópria, pois são as vivências psíquicas que nos tornam únicos, e a nossa postura sobre as situações não advém destas, mas da realidade projetada do inconsciente. O Shen enquanto substância primordial, invisível e fruto de todas as interações, forma-se a si mesmo, já o pensamento forma-se por efeito da ilusão necessariamente do próprio (imaginação verdadeira que possui o poder de informar com suprema lucidez da consciência do próprio e que só a ele faz sentido).

De acordo com a antiga conceção alquímica, a terra surge das águas caóticas e originárias da massa confusa, sobre elas o ar acumula-se como elemento volátil, desprendendo-se da terra, e acima de tudo está o fogo, substância mais fina que toca o trono dos deuses (Jung, 1992).

Enquanto os sentidos transmitem a perceção de si, a vontade dá origem ao pensamento e as coisas são transformadas através do tempo e de definições precisas do intelecto, na medida que as partes são assimiladas umas às outras no conteúdo e na forma, condensando-as.

As experiências ditas negativas, fazem parte da vida, por isso temos um leque alargado de emoções, para usa-las de forma adequada a cada situação. O negativo, ou o que nos traz sofrimento deve ser aceite tal como o positivo, pois ambos são prolongamentos da ação vivencial, em última análise não há bem que não possa produzir mal e não há mal que não possa produzir bem; lei de interpenetração dos polos.

O paciente não deve ser inativo, deve fazer o que é correto, de acordo com a sua força e energia anímica, a fim de não permitir que a pressão do negativo se torne excessiva e acabe por o dominar ou transformar à sua imagem.

A problemática dos opostos desaparece quando estes se fundem, dando origem à unidade incorruptível e inextinguível do homem, a sua pedra filosofal.

Aspiremos todos a um espírito livre e vazio de tabus, de acordo e em harmonia com a obra individual do autoconhecimento. O caminho pode saber a vinagre, mas o seu fim terá um sabor inomeável.