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Cinquenta tons de mentira: Christian Grey e lobo mau não existem

2014
carolina_careta@hotmail.com
Psicóloga clínica e escritora.

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Cinquenta tons de mentira: Christian Grey e lobo mau não existem

 

É muito interessante a perspectiva da raça humana, principalmente seus tabus e paradigmas firmados ao longo de toda “evolução da sociedade”.

Sim, creio na evolução em muitos aspectos! Embora observamos que a estrutura psíquica tanto para a população masculina quanto à feminina, sempre foram e continuam sendo as mesmas.

 Um bom exemplo desses critérios estão descritos no livro “ Cinquenta Tons de cinza” de E. L. James. Logo abaixo temos um resumo da história, e de seguida a opinião de uma feminista e para finalizar a visão psicológica dos fatos.

 

No livros Cinquenta Tons de Cinza de E. L. James ,mergulhamos na história de uma estudante recém formada, sem muitas condições financeiras, jeito simples de se vestir e se portar. Quando de repente, cai nas garras de um multimilionário experiente, provido de grande beleza física e seguro de si.

Sem contar que é excelentemente bom de cama ( Capaz de fazer sua parceira chegar ao orgasmo diversas vezes em questão de minutos ?!). E não para por aí: se preocupa com sua alimentação, contrata um personal trainer para lhe auxiliar, troca seu fusca por um AUDI ( Esse era o carro da protagonista), aparece de forma “milagrosa” com crises de ciúmes e proteção quando algum homem se interessa e se aproxima... Também quer que saia do trabalho humilde em uma loja para trabalhar em sua multinacional...

 

OPINIÃO DE UMA FEMINISTA

... É compreensível que, no primeiro livro, ao longo de umas duzentas e poucas páginas, seja intrigante. Porém, acaba por se tornar cansativo. E apenas algumas almas muito carentes, inseguras e um tanto quanto insatisfeitas com a própria vida e sua relação, continuam a ler com muita veemência os outros dois volumes. Inclusive sonhando com um Christian Grey em suas vidas!

Creio que seja muito contraditório, na sociedade atual, onde mulheres disputam cargos anteriormente apenas masculinos, batalham por independência total , optam por terem filhos mais tarde. Ou caso, a maternidade lhe bata à porta, jamais fecha a janela da individualidade e o prestígio profissional. Venha a acreditar que Cinquenta Tons de Cinza é uma história altamente envolvente e que valorize a figura feminina.

É uma luta travada há muito tempo, e com muita garra somente, que foi alcançado alguns direitos como, por exemplo: estudar e não costurar, usar calças compridas e não saias, participar da sociedade democrática e direito ao voto, liberdade sexual (Onde podem dialogar, sentir prazer e realizar suas fantasias). Também deixaram de pilotar o fogão e hoje dirigem carros, caminhões e ônibus.

Substituíram a função “Do Lar” por profissões renomadas, e ainda conseguem administrar a casa, aguentar as dores do parto, ser mãe, esposa, cuidar dos pais idosos, frequentar instituições religiosas, muitas vezes fazer parte de obras sociais e praticar a caridade.

VOCÊ! Mulher, mãe, esposa e profissional: sonham acordadas esperando ou imaginando um Grey em suas vidas?! Cadê o seu valor e os pés no chão, de uma mulher digna do Século XXI?!

Ou então me digam: para que serviu tudo isso?

 

VISÃO PSICOLÓGICA ( NATUREZA HUMANA)

Passam-se anos, décadas, milênios, mas a estrutura contida nos Polos: feminino e masculino continuam fortemente em sua essência.

Características primordiais contidas em ambos os sexos, são um pouco lapidadas ao longo dos tempos, mas a essência não se modifica. É como o sexo, que foi, é e continuará sendo um grande Tabu.

Um bom exemplo, inclusive marcante, foi assistir um programa de Televisão “A Liga” na TV Bandeirantes com o seguinte tema: Mulheres do Funk. Foram entrevistados meninos entre onze e dezesseis anos explicando claramente que as meninas com saias muito curtas, que rebolam se “esfregando” nos meninos, se apresentam nos palcos de maneira sensual ou até vulgar (segundo eles), não são para andar de mãos dadas e firmar um relacionamento sério.

É cômico, atualmente, ver que os frequentadores mais assíduos dos bailes Funks, em tenra idade, podem ser comparados aos antigos frequentadores de bordéus, que viviam atrás de meretrizes. Esses que se divertiam nesses locais, sempre regados a muita bebida, enquanto suas esposas estavam em casa cuidando da casa e dos filhos. Somente “essas” que eram dignas de carregarem seus sobrenomes.

E vejam como é curioso: diante de toda banalização e liberdade, a essência e os valores continuam os mesmos!

Digo o mesmo com o perfil feminino: depois de toda a luta pela igualdade, pelo direito de ir e vir sem a submissão masculina... Boa parte, derretem-se e sonham com um Christian Grey! E por quê?

Porque a mulher naturalmente carrega em sua Psique a fragilidade, quer ser cuidada e protegida por alguém que lhe dê amor, carinho e segurança financeira igualmente (Mesmo que trabalhe e seja independente, é preciso sentir essas características de seu companheiro). Na cama, preferem “algo mais intenso”, justamente, porque seu inconsciente as leva para revidarem o perfil masculino da antiguidade, em que a liberação sexual e suas fantasias somente eram despertas e liberadas com as famosas meretrizes. Agora é um recado de que as “mulheres de família” também podem e devem!

Um outro exemplo típico são os relatos de mães que choram ao deixarem seus filhos na escola o dia todo e sentirem-se culpadas, querendo mais tempo com eles. (Eis o instinto frágil novamente). Porém, dificilmente ouviremos falar que o pai chorou e está sentindo o mesmo, pelo menos não com a mesma intensidade...

E vamos culpar os homens?

Ou as mulheres?

Na realidade, ninguém...

É nítido que, ao longo do tempo, as mulheres conquistaram o respeito e a dignidade de um ser humano. Que pode ter sua individualidade, seu trabalho, pode cuidar-se mais e ser participativa na sociedade, de maneira geral.

E o mais interessante é que os conceitos foram lapidados, tanto para a liberdade feminina, quanto para a aceitação masculina.

Dessa forma, é necessário olhar-se e viver de forma harmoniosa, em sua condição de homem ou mulher. Sem disputas, fuga do próprio instinto e responsabilidades.

Sempre com o pensamento de que Christian Grey e Lobo mau não existem! Portanto, procuremos viver conforme nossa realidade, da maneira mais saudável e otimista possível. Pois com diálogo, esforço e amor poderemos transformar nossas relações e aceitar quem verdadeiramente somos:

-  Mulheres frágeis, porém, FORTES!