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A comunicação no relacionamento conjugal

2009
nvundat@gmail.com
Licenciado em Psicologia Clínica pela Universidade Agostinho Neto. Mestrando em Novas Tecnologias aplicadas a Educação pelo Instituto Universitário de Posgrado ( Madrid ). Docente na Universidade Óscar Ribas. Psicólogo Clínico no Hospital Psiquiátrico de Luanda.

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A comunicação no relacionamento conjugal

Luanda tem registado, nos últimos tempos, um número crescente de matrimónios entre jovens. O relacionamento conjugal, quando mal gerido, pode ocasionar conflitos e situações frustrantes, o que tem preocupado a sociedade coetanea sobre a importância do enlace matrimonial.

O objectivo primário desta análise é o estabelecimento de uma ponte de informação aos cônjuges, a partir de uma perspectiva psicológica elementar – a comunicação.

 

A comunicação nos relacionamentos conjugais é uma ferramenta indispensável para a construção do bem-estar psíquico do indivíduo. Esta peça é condição sine qua non para o fortalecimento das necessidades, troca de ideias, ideais, opiniões e ponto de vista; ao mesmo tempo é algo complexo e exige um exercício de paciência, autocontrolo e, acima de tudo, uma vontade extrema de construir a relação, a partir de uma perspectiva humanista.

Os indivíduos em sociedade são educados desde cedo sobre o direito de resposta e exposição de ideia antes de atacar compulsivamente o seu próximo. Actuando individualmente ou em pequenos, é essencial a habilidade pessoal para enviar, receber e interpretar as informações com precisão audiófila. 

Para a compreensão do outro, o homem precisa de ser entendido e de entender os demais. Nos relacionamentos, a comunicação não é transparente (no sentido lato da palavra), pois cada cônjuge interpreta as situações quotidianas, de acordo com as suas experiências pessoais, preconceitos, estereótipos, crenças, aspirações e sentimentos fraternos.

Quando, por exemplo, um dos cônjuges exprime as suas ideias sobre determinado assunto, o outro (a) mantém uma expectativa: Será que ele vai lembrar que sou importante? Se ele pensa isso, é porque realmente não gosta de mim! Ele deve agir propositadamente para me magoar!

Deste modo, aquilo que o cônjuge contar, a mensagem expressa é somente uma parte da comunicação, pois ela pode ser entendida e recebida pelo outro (a) de maneira diferente. Pode, por vezes, moldar-se um cenário imaginário, antes mesmo de o outro (a) terminar o seu raciocínio. Este processo ocorre, a maior parte das vezes, de forma inconsciente, e o indivíduo sente-se incapaz de controlar tais pensamentos.

Em outras palavras, pode-se dizer que a ansiedade casual antes de qualquer troca expressiva domina as acções, os pensamentos, os ideais e as frases de quem escuta. Podemos tomar o seguinte exemplo para ilustrar o leitor: o marido está a beber cerveja e diz à mulher: “Eu te amo”. A mulher certamente não vai levar em consideração as palavras do parceiro, pois o conteúdo verbal da mensagem foi “eu te amo”, mas o facto de estar a beber simultaneamente faz que ela interprete as palavras de outro modo: sou menos importante que a cerveja.

  

Tipos de linguagem

Os seres humanos gozam e utilizam para a comunicação, com o mundo externo, três tipos de linguagem: verbal (constituída por palavras, frases e orações), não verbal (feita por meio de símbolos, ícones, gestos, etc) e mista (que contém o verbal e o não verbal – banda desenhada).

Pesquisadores de uma universidade americana afirmaram que, ao expressar sentimentos, o que se diz representa só 7% da mensagem. O restante depende de como se diz (38%) e com que cara se pronuncia (35%).

Segundo a sabedoria popular com o transcorrer dos anos, o homem vai entendendo cada vez melhor, abrindo-se mais na sua comunicação. Diz-se, por exemplo, que até o marido mais obtuso, depois de um quarto de século de convivência, desenvolve uma compreensão mais respeitosa.

A segunda analogia popular diz que “só o facto de viver e coabitar o mesmo espaço físico é condição básica para entender a outra pessoa”.

Isto não tem validade científica e a realidade tem mostrado, justamente, o oposto da questão. Estudos demonstraram que, através dos anos, os casais não aumentam a sua capacidade para prever o comportamento do outro. Esta insegurança está associada, de alguma forma, à insatisfação conjugal.

Além disso, nem sempre aumenta o canal de comunicação com o passar do tempo. Pode acontecer o contrário. Quanto maior o nível de expressividade negativa, mais difícil torna-se o entendimento recíproco. Surge-nos agora uma pergunta angustiante:

É bom contar tudo ao parceiro?

 

Vamos exemplificar a resposta

Após um acto sexual, a parceira diz ao companheiro que o namorado anterior era mais ágil na cama. Essa revelação pode desencadear um ressentimento afectivo corporal, isto é, sempre que estiver a fazer amor e olhar para o corpo dela, lembrar-se-á das palavras (o fulano foi melhor na cama) e o acto sexual passará a ser uma disputa para reverter a ideia de parceira em vez de prazer total.

Caminhar pelo comboio da comunicação aberta e total pode ser demasiado perigoso, tanto para os casais, quanto para os terapeutas.

 

Quais as soluções e o que fazer?   

Para todas as situações, é necessária uma preparação educacional sobre a relação a dois, bem como a importância do matrimónio, o respeito e a moral que a sociedade preserva. Devemos perder o conceito que o indivíduo ganha maturidade social quando assume um parceiro (a). Pode acontecer que determinados indivíduos encarem essa nova fase de forma diferente e procurem não mudar o seu comportamento em função das responsabilidades actuais.

Em todo o caso, é necessário que o indivíduo esteja consciente da magnitude das suas acções e as responsabilidades inerentes ao compromisso contraído perante a comunidade.

Assim sendo, devemos ter ainda em linha de conta os seguintes parâmetros:

1-  Não adianta os pais pensarem que o filho adolescente ainda é a mesma criança e se calhar não namora. Os psicanalistas demonstraram que o modo pelo qual a sexualidade infantil é sentida e vivida modela profundamente as atitudes e os sentimentos que a criança, uma vez adulta, experimentará em relação à vida sexual e que é, em parte, responsável pela qualidade da sua adaptação à sexualidade adulta.

2-  O homem deve respeitar e olhar para a mulher como companheira, parceira, amiga, alguém com quem ele pode contar para a divisão de projectos, expectativas, passeios, namoro e abandonar a imagem de mero objecto tétrico, que serve unicamente para cozinhar, engomar e cuidar de si quando se encontra sintomaticamente ou psicologicamente doente. Faz-se mister frisar que os relacionamentos conturbados provêm, muitas vezes, de ideais ou crenças irracionais de um ou de ambos cônjuges.

A terapia antes do enlace matrimonial deve dilacerar possíveis querelas existentes, de forma intensa, para afastar os sentimentos de insegurança, temor, fracasso e de recusa. Para tal, é essencial que cada um respeite a individualidade do outro.

3- Os problemas relacionados com o ódio devem sugerir o abandono do lado egocêntrico. A maioria dos ressentimentos surge, porque a outra pessoa não se comporta como o parceiro esperava ou gostaria.

4-  A mulher deve exercer, no relacionamento, o papel de homeostase (equilíbrio emocional), isto é, se o parceiro estiver alterado emocionalmente, ela pode deixar que ele desabafe as suas angústias e rancores. No final da explanação destemperada, chegar perto do companheiro e reflectir de forma racional num tom de voz ligeiramente baixo. Se acontecer o contrário (que é freqüente entre nós), o homem grita pelos cantos da casa e a mulher reage compulsivamente, então se instala um clima de tensão e descontrolo emocional que pode terminar em profundas desavenças.

 

Em suma, os cônjuges devem assumir um comprometimento total perante as suas acções e reacções.