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A Ecosofia aplicada na psicologia humana

2014
daniel@novaconsulta.com.br
Jornalista e publicitário, pela Universidade Estácio. Pós-graduando em Psicologia Junguiana, pela PUC. Autor e palestrante do projeto de palestras sociais em comunidades carentes - Comunidade Profissional. Gestor de treinamento da empresa Patrimóvel. Palestrante. Orientador de carreira e colunista da Catho. Apresentador da BusTV e da TV Max – canal 25 – NET. Editor e consultor do Portal Nova Consulta

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A Ecosofia aplicada na psicologia humana

 

O estudo da Ecosofia foi apresentado, pela primeira vez, pelo filósofo francês, Félix Guatarri - (1930 -1992), em seu livro, As Três Ecologias, onde a palavra ecologia é abordada como nunca antes, com um olhar literal, interconectado e ‘eco-lógico’.

O autor aponta que, todos nós, em uma ótica existencial, interagimos com três tipos diferentes de ecologia: a mental (pessoal), a social e a ambiental, de forma interligada, através de uma interconexão entre estes fenômenos, e em uma transversalidade ecossistêmica, que nos demanda, de forma consciente e pró-ativa, uma alteridade ‘transdisciplinar’ levando-se em consideração estas três máximas existenciais.

Embora o estudo tenha se aprofundado sob diversos aspectos, vejamos em um contexto básico o que são as três ecologias na visão do autor:

Ecologia mental/pessoal - está relacionada a todo o ecossistema que ocorre em nossa mente e em nosso corpo, e que influencia e é influenciado pelos meios social e ambiental.

Ecologia social - está relacionada à interação/influências que temos com o meio social em que convivemos, bem como os ambientes e pessoas com que/quem nos relacionamos, de forma que tais relações ou práticas sociais possam ou não fazer bem à nossa ecologia pessoal e ambiental.

Ecologia ambiental - está relacionada à nossa interação pessoal e social com o meio ambiente natural, onde todas as más e boas práticas pessoais e sociais retornam negativa ou positivamente, afetando de forma direta ou indireta nossa ecologia pessoal e social.

Portanto, as três ecologias estão interligadas, de forma que, duas ou mais ecologias mentais/pessoais, quando em harmonia, formam uma boa ecosofia social, e uma, ou mais, ecologias sociais, quando em harmonia, formam uma boa ecosofia ambiental. Sobretudo, tal processo nos remete à reflexões profundas em diversos campos existenciais, assim como aprofundou-se Guatarri quando apresentou tal estudo.

O Filósofo atenta, de forma contundente, que todas as sociedades, de uma modo geral, estão desequilibradas, alienadas em um estruturalismo reducionista e sistemático, em uma ‘subcultura’ de consumismo massificado, com um bombardeio tecnológico, produtor de diversas subjetividades às três ecologias, com neutralidades destrutivas, com dogmas capitalísticos, mortíferos, e, sem a presença de líderes ou visionários transversais e inovadores.

Segundo Guatarri, a ecologia mental e social, historicamente, por exemplo, praticada pelo ser humano vem destruindo a ecologia ambiental, de forma desastrosa, já tendo bifurcado o planeta em grandes catástrofes naturais e o homem, dentro de sua psicologia mental, em grandes depressões.

Neste contexto, através desta percepção triádica, é possível estabelecermos a ‘multivalência’ da palavra ecologia em diversos campos diferentes, como os da filosofia, das ciências, e, sobretudo, no campo da psicologia humana.

Se paramos para analisar a psicanálise conjugada em uma ótica cientifica, por exemplo, é correto afirmar, que, segundo as leis naturais da física, os desvios e devaneios psíquicos, de um modo geral, são desvios de energia, e que, tão logo, um sujeito equilibrado é aquele que equilibra bem suas energias, em diferentes atividades, em diferentes territórios (ecosofia).

E, uma vez que tal energia não é bem administrada, ou então canalizada demais em uma fonte que não seja a melhor para tal pessoa ou para o mundo externo, este fenômeno pode acarretar em depressão ou problemas psíquicos.

Visto nesta ótica o ser ‘’ecosófico-integral’’ é aquele que consegue administrar com êxito suas três ecologias, pessoal social e ambiental. E uma vez que uma dessas canalizada de menos ou demais, isso pode gerar um desvio de princípio de realidade, desalinhado sobre outros, de natureza psíquica, utópica, neurótica, o psicótica.

O estado de luto ou de separação, por exemplo, que leva muitas vezes uma pessoa a procurar ajuda profissional, pode significar que houvera uma territorialidade de energia muita grande retida em alguém/algo, muito próximo, e, quando, de repente, tal ‘laço’ é ‘cortado’ esta energia fica ‘’sem gravidade’’ na ecosofia existencial.

Tão logo, uma vez que desterritorializada esta energia que estava canalizada em sua ecologia social, pode canalizar-se de maneira possante para a ecologia pessoal, gerando, desta forma, a extensão do luto, a depressão, e, até mesmo, problemas psíquicos mais graves.

Com base nestas considerações, Feliz Guatarri foi um filosófico que explorou o tema com grande veracidade, associando-o com questões políticas, econômicas, socais e de sustentabilidade, mas, é, também, notório o quanto seu trabalho dentro da Ecosofia pôde e ainda pode contribuir muito para a psicologia humana, promovendo aos profissionais deste setor, uma ótica racional, singular, e, sobretudo mais cientifica para se analisar e diagnosticar pessoas, uma vez que as três ecologias possam ter seus equilíbrios ou desequilíbrios mensurados, através de sinais, signos e símbolos lingüísticos, revelados por um paciente em uma sessão de terapia, onde o psicanalista tenha esta visão sendo levada em consideração, servindo-lhe como base psicanalítica.

Ou seja, a questão a ser analisada é em qual ‘território’ uma energia está canalizada, ou se está distribuída harmoniosamente entre as três ecologias, ou em qual território ecológico tal pessoa está em falta ou em excesso. O mesmo vale para o coletivo social, faltante ou excessivo, e, assim por diante.

Portanto, tal teoria, no campo da psicanálise, pode ser facilmente conjugada com os preceitos psicanalíticos, de forma prática, orientando tanto ao profissional quanto ao analisado a identificar em qual ecologia este está concentrando mais sua energia, em qual ou quais deve se trabalhar mais, de forma consciente.

Sobretudo, cabe a nós, em nossa ecologia pessoal, refletirmos o quanto estamos administrando e canalizando nossas energias nas atividades, em pessoas e lugares que sejam ecológicos a uma evolução, consciente, da nossa vida pessoal, social e ambiental.

 

Referências Bibliográficas:

As três Ecologias, Felix Guatarri