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O outro em mim

2015
icaroberbert_7@hotmail.com
Psicólogo pela IUNI Educacional Unime Itabuna/BA (Brasil)

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O outro em mim

 

Existe em cada um de nós, um atributo que valiosamente está presente em todas as nossas experiências, de forma oculta ou não. Não adianta ler livros de autoajuda e fazer doações vazias para possuí-lo, é necessária uma disposição interna e persistente para que o “olhar pelo ponto de vista do outro” seja incorporada à nossa personalidade. Empatia é o nome dado à capacidade psicológica de se colocar no lugar do outro mental e afetivamente, na tentativa de compreender seus pensamentos, sentimentos e percepções expressas numa dada situação.

Por que nem sempre no fluir das relações interpessoais o ato de ser sensível ao próximo está presente? Diariamente as notícias televisivas expõem sem pedir licença os desencontros e percalços da vida do homem: quanto mais assistimos mais conscientes e emocionalmente afetados nos sentimos; cenário semelhante e tão habitual das nossas relações cotidianas que ao vivo e a cores nos deparamos. Por que “emocionalmente afetados”? Talvez não seja pela fala firme e sensacional do jornalista, mas pelo caráter subjetivo da informação, que insiste em “amolecer” o coração, quando os autores do sumiço dos filhos são os próprios pais e a causa dos desmoronamentos de quem vive literalmente à margem da sociedade não foi a chuva irregular, mas a falta de investimento financeiro - carência do ato de poder estar na pele do outro.

Na literatura do Desenvolvimento Humano aprendemos que desde muito cedo precisamos de outras pessoas para a nossa sobrevivência, e durante toda a nossa vida participamos de diversos grupos que nos auxiliam na construção de um ser histórico e social. E é sempre bom recordar, que é pela práxis que se vai desenvolvendo a capacidade de pensar, sentir e agir sob a perspectiva do outro. Entretanto, no recorte cotidiano é possível testemunhar a aplicação da máxima filosófica de Rousseau “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”, tão clichê que logo dar conta de acalmar os ânimos daqueles que incessantemente se interessam pelo comportamento humano e buscam explicações para suas mazelas. A justificativa da aplicação prática da frase está na evidência da “fragilidade” do humano, quando o assunto é ser coerente, ético, íntegro e humano frente às oportunidades de benefícios oriundos de um Poder. Não há como negar que as condições sociais são determinantes da individualidade, mas atribuir culpa única à camada tão externa de nós mesmos – a sociedade – é um deslize, e suspende a responsabilidade que temos sobre os nossos atos.  

Tornar-se indivíduo significa interagir, determinar e ser determinado pelas relações sociais, exatamente por ser protagonista de um processo que constrói o mundo interno, psicológico através da realidade externa. Isso quer dizer que é mediante a realização de suas atividades que a materialização de um “eu” vai se constituindo, individualizando o ser humano diante da multiplicidade de matérias e de tantos outros seres. Esta análise contribui para a reflexão de que no desenvolvimento de sua particularidade, o homem apropria-se do coletivo que o cerca, atribuindo-lhe um significado. Mas, o que tem acontecido com as últimas gerações? As crianças têm apreendido elementos do seu meio sem os seus próprios construtores (pessoas significativas)?

Algumas pessoas quando criança parece que ao passar pela fase do desenvolvimento cognitivo “Período Pré-operatório” defendido por Jean Piaget, apresentaram uma fixação ou não tiveram condições favoráveis para a passagem para a fase seguinte. Ilustrando o período citado, Bock, A. M. B., Furtado, O e Teixeira, M. de L. T. (2002) afirmam que:

Por ainda estar centrada em si mesma, ocorre uma primazia do próprio ponto de vista, o que torna impossível o trabalho em grupo. Esta dificuldade mantém-se ao longo do período, na medida em que a criança não consegue colocar-se do ponto de vista do outro (p.103).

 

A energia psíquica dos elementos presentes durante a formação da personalidade do indivíduo – infância e adolescência – fica armazenada no inconsciente, e assim que possível aparecerá, determinando uma parcela significativa dos comportamentos atuais. A interação do sujeito com seus semelhantes e diferentes determinam suas relações futuras, e para que estas sejam de qualidade, em seu espaço de vida precisam caber atores relevantes, dotados de sentimentos, significados e história, como: um familiar, colega, amigo, vizinho, professor, etc. Talvez este raciocínio, possa responder aos questionamentos anteriores.

Pessoas que crescem em um ambiente preenchido por estima e apreço tendem a fortalecer-se, podendo ser capaz de reconhecer e valorizar as habilidades e potencialidades do seu próximo. O esforço de compreender as vivências de outras pessoas amplia a nossa percepção da realidade, permitindo-nos considerar o valor singular e irrepetível que cada um possui, sobretudo a sua criatividade. Por conseguinte, em cada etapa da vida, o homem tem a oportunidade de conhecer experiências cada vez mais elaboradas, que exigem dele determinadas atitudes, e é enfrentando os desafios da vida prática que é possível perceber a sua capacidade de adaptação e o nível de suas competências, inclusive para lidar com outro homem.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bock, A. M. B., Furtado, O e Teixeira, M. de L. T. (2002). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva