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Um convite à mudança

2015
gelcinogueira@hotmail.com
Psicóloga. Especialista Clínica. Especialista em Avaliação Psicológica. Escritora e Palestrante

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Um convite à mudança

 

1. Intervenções multidisciplinares

Refletindo o compromisso psicossocial da Psicologia, neste mês de Agosto, em que se comemora no dia 27, o dia dos Psicólogos brasileiros (53 anos de regulamentação da profissão de psicólogo(a)), reconheço que muito cresci e evolui como pessoa e profissional (graduação em 1994), levando suporte psicológico a quem procura. De modo a dar mais clareza e visibilidade ao que fazemos enquanto profissionais da Psicologia, temos é que apresentar o que e como fazemos, o nosso fazer diário.

Nosso maior desafio é, nos desafiar em nosso processo psicoterápico próprio e contínuo, uma vez que, as mudanças de paradigmas são reais e constantes. O que, evidentemente, conquistamos com investimentos psicoterápicos, nos torna mais empáticos, tolerantes e compreensivos. O amadurecimento e crescimento profissional se dá através do investimento do profissional também em sua psicoterapia pessoal e, constante atualizações dos conhecimentos, em estudos mais avançados, em sua área de atuação. O que torna mais credível e Ética a carreira profissional dos psicólogos, perante a sociedade, gerações presentes e futuras.

O contexto presente é sempre o melhor chão em que se pisa, no dia 25/08/2015, tive um dia de trabalho psicossocial gratificante na Instituição, que reforça-me e fortalece-me enquanto profissional de Psicologia. E hoje (momento em que escrevo este artigo, parte da manhã, porque a tarde haverá o MatiBaile), 27/08/2015, dia do Psicóloga(o), com muito orgulho podemos comemorar os espaço sociais conquistados.

O título desse artigo refere-se justamente aos nossos vínculos conosco mesmo e com os outros, no que diz respeito à mudanças de atitudes (como reagimos às diferentes provocações do contexto familiar) e posturas (o modo como se intervém e se posiciona), perante colegas de equipe e clientela com quem se atua.

O mês de Agosto, de fato é-me muito importante, abarca realidade familiar e profissional, entre aniversários familiares (pai), dia do estudante, Semana Nacional do Aluno Excepcional (APAEs no Brasil) e fechando com o dia do Psicólogo.

 

2. Abordagens iniciais

Mostro aqui um pouco de meu fazer diário, numa APAE, ‘Escola de Educação Básica Zilda Arns, Ed. Infantil/anos iniciais, Ed. Profissional na Modalidade de Educação Especial’. Em meus primeiros contactos com a Instituição (Março/2015), observei um clima interno de frustrações, alguns professores cedidos do Estado em greve, outros ressentido por ter de trabalhar enquanto uns estavam parados. Percebi a necessidade de levantar informações tanto da equipe técnica, quanto dos professores, funcionários e clientela, afim de conhecer melhor o funcionamento institucional.

Elaborei uma pequena escala de levantamento de necessidades e propus uma palestra de apresentação de meu plano de trabalho, primeiro para os membros da Instituição, segundo para as famílias, intitulada de “DIRETRIZES DOS TRABALHOS EM PSICOLOGIA NA INSTITUIÇÃO APAE- Escola de Educação Básica Zilda Arns, Ed. Infantil/anos iniciais, Ed. Profissional na Modalidade de Educação Especial/2015. Em pauta:

1 - PRINCÍPIOS ÉTICOS

1.1-Todas as atividades que envolvem a Instituição, Equipe Multiprofissional, Clientela e Famílias, estarão protegidos pelas normas que regem o Código de Ética/CFP. 1.2-Preparou-se uma breve escala para um prévio conhecimento formal das Equipes e Familiares, onde cada membro estará respondendo algumas questões.

2 - DAS AÇÕES

2.1-As ações da Psicologia na Instituição abrangem, para além da clientela e familiares, todos os membros da Instituição, por entender que se trata de Seres Humanos que também apresentam necessidades de atenção e escuta seletiva, na modalidade Teórica Sistêmica. 2.2-Pretende-se, juntamente com a Equipe Técnica, preparar um calendário de atividades com encontros mensais, abrangendo cada sub-equipe, formando pequenos grupos de apoio mútuo.

A Escola de Educação Básica Zilda Arns, Ed. Infantil/anos iniciais, Ed. Profissional na Modalidade de Educação Especial/APAE, completará em Outubro/2015, 25 anos de funcionamento, com uma clientela de aproximadamente 70 alunos, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos.

 

3. A fundamentação teórica

As praticas de meus trabalhos pautam-se na abordagem Sistêmica, em que o método é o da observação direta da interação familiar (grupos representantes dessa orientação metodológica são Escola de Palo Alto, entre outras; fonte: www.scielo.br/ acesso em 23/08/2015); é uma proposta que tende a compreender o individuo na relação com seus diversos sistemas –família, trabalho, escola, comunidade, os quais são interdependentes entre si. Por outro lado as abordagens diretamente com a clientela tem como vertente Teórico/pratica a Psicomotricidade (base de minha formação acadêmica clínica infantil) e, também Dinâmicas de Grupo (formação de capacitação com o Instituto Gaya, Campo Grande/MS).

 

4. Os resultados das Escalas

Os resultados das Escalas de levantamento de necessidades revelaram-se surpreendentes. Efetuou-se uma palestra primeiro com todos os Membros da Instituição, onde no final, (incluindo direção e equipe SUS), responderam as questões, identificando-se e assinando. De seguida efetuou-se outra palestra com presença dos pais, professores e alunos. No final da palestra, os professores ajudaram os pais a responder as questões da Escala, identificando-se e assinando, conforme modelo em anexo.

No tempo decorrido entre as palestras de apresentação e identificação de necessidades, foi-se efetuando visitas domiciliares em casos mais urgentes, conforme a equipe e direção identificavam. Nestas visitas observou-se a necessidade que a maioria das mães tem de ser escutava e orientadas, quanto aos vínculos que mantém com a criança. Dificuldade em compreender as necessidades afetiva e sexuais dos filhos, como orientá-los no aprendizado da higiene (queixa dos educadores), e quantos aos horários e modo correto de dar a medicação. Algumas mães, a partir da palestra, passaram a procurar a Psicóloga, expressando elogios, comentando o quanto foi importante as informações acerca de com o a Psicologia pode ajudar na compreensão dos vínculos afetivos familiares.

Quanto aos resultados das Escalas destacou-se, como necessidades principais entre a equipe técnica, corpo docente e direção, no item A, 90% concordam que os recursos técnicos e psicológicos no atendimento das demandas da clientela inda são pouco eficientes. No item B, abordou-se a autoestima de todos (professores, equipe SUS, faxineiras, cozinheiras, instrutor, atendentes, direção, secretárias e motoristas), o resultado apresentado foi de 75%, considerando-se com média autoestima, 10% com boa autoestima e 15% com autoestima ruim. O item C abordou conhecimento da realidade da clientela (famílias, condições de moradia, etc.), a maioria 75%, respondeu que conhece a realidade de alguns alunos, 24% respondeu que conhece a realidade de todos eles, e 1% respondeu que não conhece. O item D abordou a Instituição como local de trabalho bom ou ruim, a maioria 99% respondeu que gosta de trabalhar na Instituição e, 1% não se manifestou, deixando sem resposta essa questão.

A partir desses resultados, imediatamente, formou-se dinâmicas de grupos mistos, juntamente com a direção e coordenadora pedagógica, de acordo com os horários de atividades de cada um, com duração de 45 minutos em média, de encontros mensais, envolvendo todos os profissionais e funcionários, inclusive a direção e técnicas. As atividades dos grupos envolvem técnicas de relaxamento e falas espontâneas, pertinentes ao trabalho com a Instituição, Clientela, Equipes e Familiares.

Que mudanças houve na Instituição, envolvendo toda a equipe, a partir dessas intervenções? Aquele clima psicológico interno tenso, com muito ruindo psicológico sonoro (gritos com alunos, críticas negativas entre colegas, etc.), aos poucos foi silenciando, observou-se posturas mais objetivas e focadas no trabalho formal interativo.

Quanto às famílias dos alunos, após a primeira palestra (1º ENCONTRO DA NOVA PSICÓLOGA CONTRATADA PELA INSTITUIÇÃO/M.2015), com o levantamento das necessidades, proferiu-se um novo encontro, com nova palestra, em que a maioria se fez presente, onde revelou-se à eles os resultados da Escala de necessidades que eles havia respondido e iniciou-se o tema: HIGIENE E SAÚDE dos alunos (uma das queixas dos educadores); pontuando que em seguida estaríamos convocando-os para encontros mensais, em pequenos grupos, de acordo com os horários em que os filhos estavam na escola, viabilizando a eles um espaço de relatos pessoais e apoio psicológico.

Os resultados da Escala com os pais, revelaram necessidades de mais engajamento da equipe, uma vez que, no item A, 95% dos pais responderam que gostam da Instituição, no item B 99% dos pais acham a Instituição segura, no item C 75% dos pais estão satisfeitos com a equipe, no item D, que abordou as necessidades da clientela, quanto à atenção com seus filhos, 70% acham que seus filhos necessitam de mais atenção, 23% dos pais acham que seus filhos necessitam ser mais compreendidos e, quanto a necessidades alimentares (famílias carentes), 7% dos pais acham que necessitam de alimentação.

Estes resultados foram apresentados aos pais numa palestra em que os professores e equipe técnica também se fez presente. No final da palestra, alguns deles, se manifestaram com depoimentos, elogiando esta nova maneira com que a Psicóloga vem atuando na escola, onde eles tem sido mais ouvidos e orientados, e que em casa, já perceberam mudanças para melhor, no relacionamento com os seus filhos.

Todo o trabalho acima mencionado, desenvolveu-se no 1º semestre/2015, coincidindo com novos procedimentos curriculares, em que os gestores (Diretora e Coordenadora Pedagógica) foram convocados, em encontros de formação, através do Estado no II Encontro Estadual de Educação e Ação Pedagógica-FEAPAES/PR/2015, com tema: Integração...reflexão...ação -Convite à uma nova postura; a ser implementado em toda as escolas APAEs essa nova mudança de postura frente à essa clientela, com nova grade curricular. O que muito me alegrou e reforçou-me na maneira como encaro minhas ações profissionais em contexto institucionais. Fui convidada pela Direção para colaborar na explanação e repasse das novas informações e procedimentos aos professores, auxiliares e demais membros da equipe, a nova abordagem, intitulada de: ‘Currículo funcional natural na abordagem ecológica’, no sentido de ensinar habilidades que tenham função para a vida atual e futura dos alunos.

De fato esta nova visão curricular veio de encontro ao que Eu já vinha desenvolvendo dentro da modalidade Sistêmica, reforçando a postura Ética com o educando, familiares e entre equipes, nestes termos, a nova grade curricular aborda a postura Ética: Ética no atendimento das pessoas com deficiência intelectual e múltipla; […] elevar a vida coletiva, impedir a desertificação do futuro, não acatar a esterilização dos sonhos, isto é, fazer com que a vida possa ir no máximo das suas possibilidades. Portanto, essa capacidade de fazer bem traz dentro dela a necessidade de fazer o bem. Ética é vida boa, para todos e todas, em instituições justas”.

As mudanças de atitudes e posturas vem para renovar e fortalecer o nosso fazer diário, bem como para nos fazer crescer enquanto pessoa e profissional. Fechamos o mês de Agosto com o ‘1º Encontro Temático dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Município de Salto do Lontra agosto, 25/2015’, onde mais uma vez reuniu-se todas as famílias, dirigentes municipais, autoridades locais para tratar da legalização dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Fui convidada a proferir a Palestra, juntamente com a equipe Técnica e Direção.

E por fim encerramos o Mês de Agosto/2015 com a grande festa da Semana Nacional do Excepcional, justamente no dia do Psicólogo, em 27 de Agosto/2015, com um matibaile, (uma mistura de matine e baile dançante), num dos municípios integrantes das APAES da Região Sudoeste/PR, onde a APAE Paulo Freira foi a organizadora do evento, na cidade em que resido atualmente (São Jorge D’Oeste/PR/BR). Foi um momento incrível poder observar a interação de alunos de 8 APAEs, numa tarde recreativa com shows e danças e noite com jantar. Nossa equipe encantou-se com a disciplina dos 37 alunos adultos de nossa escola, junto aos outros. Ali todos eram iguais, brincado, sorrindo e dançando, num total aproximado de 350 pessoas; entre eles, percebia-se, iniciativa em chamar um colega pra dançar ou mesmo um professor ou profissional técnico, sem qualquer inibição ou reação aversiva, numa total integração intermunicipal.

A integração entre as escolas e, interação entre alunos foi natural e divertida, ali não havia aluno excepcional, no sentido deficiente, mas sim alunos normais, socialmente bem comportados e participativos. O prazer de trabalhar com essa clientela tem sido tão gratificante, que me senti motivada a dar visibilidade, registrando os fatos vividos e observados em tempo real, enquanto profissional da Psicologia, revelando algo que já mostrou resultados.

5. Considerações finais

Finalizo este artigo com a Reflexão da Professora Fabiana Maria das Graças Soares de Oliveira (FENAPAES/2015), no que diz respeito a nova postura do educador, na íntegra: ‘A meta prioritária no desenvolvimento de serviços especializados: incluir a aceitação de princípios básicos, respeito pelo indivíduo e sua família, inclusão das necessidades e desejos da pessoa em qualquer plano de apoio, e o desenvolvimento de planos de apoio que sejam minimamente restritivos, culturalmente sensíveis, e estimuladores do crescimento e autonomia da pessoa.

Fica aqui momentos de vivências profissionais que podem servir de pauta para muitas reflexões, frente ao modo como a sociedade civil encara o aluno com deficiência.