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Cognição, afetividade, lembranças, autoestima e ser humano psicológico: algumas ideias

2014
faustomenon@gmail.com
Psicólogo pela Universidade São Francisco/Itatiba. Mestre em Educação pela FE/Unicamp. Psicólogo da Prefeitura Municipal de Itatiba/São Paulo.

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Cognição, afetividade, lembranças, autoestima e ser humano psicológico: algumas ideias

 

"Maravilhas nunca faltaram ao mundo, o que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las"
(MÁRIO QUINTANA)

1. Cognição. De uma forma geral, o termo cognição refere-se a todo o processamento mental que faz com que tomemos consciência do mundo em que vivemos. Essa palavra indica que há uma série de processos, tais como: memória, inteligência, associação de ideias, pensamento, fantasia e outros mais. Desde cedo, o ser humano recebe o seu ambiente através dos órgãos dos sentidos (visão, audição...) e vão-se formando conceitos das coisas e das pessoas. Um conceito é um significado concreto ou abstrato que representa aquilo que conhecemos. Pense na cadeira. Isso é um objeto real que traz um sentido concreto. Agora, pense na paz. Talvez até haja algo que a represente, porém o significado abstrato é de cada pessoa; assim vale para amor, carinho e tudo mais. Na linguagem do dia a dia da psicologia, costuma-se usar cognição como sinônimo de pensamento. Quando uma pessoa pensa em algo ela está mostrando como é que ela vê, ou simplesmente, reflete acerca dos objetos, das vivências e inclusive das pessoas de seu convívio sócio familiar. Há tempos, a palavra cognição significava quase que sinônimo de razão. Ou seja, quando alguém pensasse em algo deveria fazê-lo seguindo certa ordem lógica. De maneira resumida, as emoções, os sentimentos e os afetos prejudicariam por completo a atividade racional; devendo se distanciar deles. Por cognição entendia-se a capacidade de prestar atenção, guardar os acontecimentos, associá-los entre si, deduzir, induzir, raciocinar. Atualmente, descrevendo melhor esse conceito, presumimos que frente a uma determinada situação o ser humano abstraía apenas alguns dados da realidade, atribuindo respectivos significados e implicações. Observe que não é cópia da realidade, e sim uma interpretação subjetiva. Neste funcionamento psicológico, a afetividade tem um papel importante. O estado afetivo influencia na maneira pela qual se percebe e se interpreta as coisas, as vivências e as pessoas. Trata-se de um colorido que circunda os pensamentos, dando-lhes forma e conteúdo.  Desse modo, não haveria por que falar numa diferença entre pensar e sentir (cognição e afetividade). Mesmo com caraterísticas próprias, pensamento e sentimento estão dialogando entre si, o que corresponderia a uma cognição-afetiva.

2. Afetividade. A palavra afetividade sempre esteve presente na vida dos seres humanos. Por exemplo, sobre a alegria William Blake escreveu: “Aquele que se deixa prender por uma Alegria /Rasga as asas da vida; /Aquele que beija a Alegria enquanto ela voa /Vive no amanhecer da Eternidade". De uma maneira geral, afetividade quer dizer o conjunto de emoção e sentimento. Isso significa que a afetividade engloba tanto uma reação do corpo, como também uma experiência subjetiva. Para uma breve compreensão, do latim movere (movimento), definimos as emoções como um estado psicológico que ocorre de forma rápida (um começo e um fim) e que acompanha uma reação do corpo. Como exemplo, quando estamos apaixonados, nosso coração bate mais rápido, a boca fica seca e as mãos trêmulas. Conceituamos os sentimentos como um estado psicológico de longa duração e que têm um componente mental ou psíquico, isto é, atribuímos um valor aquilo que sentimos, seja um objeto, uma vivência qualquer ou podendo ser até uma pessoa no nosso convívio sócio familiar. Um dos exemplos de sentimentos é o amor. O que é o amor? Existem muitas definições para essa palavra. Caracterizamos o amor como gostar de alguém. Quando se gosta de coração,  expressa-se esse sentimento em gestos, atitudes e palavras. Entenda que o amor não é simplesmente a manifestação de carinho que temos por alguém, mas sim o cuidado que temos por essa pessoa ao longo de sua vida. Sentindo-se amada e cuidada, a sua autoestima se fortalece e adquire confiança em si própria. Acreditamos que quem ama demonstra delicadeza nas palavras, é tolerante e escuta com atenção. Também, quando se ama de verdade,  um silêncio ou um olhar pode significar tanto quanto um abraço carinhoso.  Para  finalizar, as lágrimas são um bom exemplo de emoção, porque podem sair livremente dos olhos; inundando-os de água. Alguém por perto pode dizer:  ah, esta pessoa está triste, porque os seus olhos choram. Isso é a emoção; tem a ver com o corpo. Entretanto se quiser realmente saber o que a pessoa está sentindo, deve-se perguntá-la, com muito desvelo:  por qual motivo os seus olhos tanto choram?!  

3. Lembranças. Certa vez eu li uma frase, escrita por Robert Louis Stevenson, que dizia assim: "Como um pássaro cantando na chuva, deixe memórias agradáveis sobreviverem em tempos de tristeza".  Um dos conteúdos psicológicos mencionados nessa frase é a lembrança. Lembrar significa recordar. Para recordar é de suma necessidade usar a nossa memória. Em simples palavras, definimos a memória como a faculdade psicológica que nos faz guardar as inúmeras vivências e experiências que temos com as coisas, as situações e as pessoas. Posteriormente nos lembraremos de cada uma delas. Por exemplo, pela memória vem a idade que possuímos, a rua em que residimos, o nome da professora do colégio, o(a) primeiro(a) namorado(a), o que comemos ontem no almoço, etc. De certa maneira, diríamos que nem todos os acontecimentos das nossas vidas, ao longo de um dia, ficam retidos na memória, e sim apenas os mais significativos. Um acontecimento somente é considerado particularmente importante desde que esteja envolto de um conteúdo afetivo, tanto positivo, como negativo. Para procurarmos exemplificar, podemos nos lembrar, na forma de reminiscências, de uma esfuziante alegria por uma vivência ao lado de algum familiar tão muito querido (conteúdo positivo) ou mesmo até de uma saudosa tristeza pela perda de uma pessoa amada que falecera recentemente (conteúdo negativo).

4. Autoestima. Há uma definição habitualmente ouvida: “autoestima é a forma como eu me vejo”. Comentando essa frase, as pessoas conheceriam apenas “a imagem que elas fazem de si mesmas”. Isso corresponde à autoimagem. Autoestima é um estado psicológico em que atribuímos a nós mesmos(as) algo de bom ou de ruim; em outras palavras: uma qualidade ou um defeito simplesmente. Portanto, seria o valor que eu dou a mim, seja positivo ou negativo. Por isso, a pergunta: quanto gosto de mim? Se eu gostar um pouco de mim, a autoestima é baixa (negativa); se, por outro lado, gostar mais de mim, a autoestima é elevada (positiva). Uma pessoa com autoestima baixa pode vir a ter problemas pessoais e de relacionamento interpessoal; não conhecendo, pois, suas capacidades, só realçando suas fraquezas.  Já uma pessoa com autoestima elevada tem um bom entendimento de suas qualidades pessoais, conhece os seus sentimentos e  procura corrigir as suas atitudes,  se for necessário.

5. Ser humano psicológico. Nos últimos anos, escrevemos uma série de ensaios[1], no sentido de elaborar um modelo representativo de sujeito psicológico, também chamado de ser humano psicológico. Para essa concepção, o ser humano não é apenas um ser meramente racional, que constrói relações lógicas entre a sua realidade externa e interna, nem tampouco só é afetivo, com suas inúmeras emoções, sentimentos e estados de ânimo, mas por que não dizer a somatória dinâmica dessas duas dimensões (cognição-afetiva), exprimindo aquilo que o ser humano realmente é: seus pensamentos, suas atitudes, suas competências, seus temperamentos, seus afetos, o que corresponderia a sua personalidade, um Self ou simplesmente um Eu. O ser humano psicológico ainda pode retirar da sua consciência as suas vivências e lembranças. Contudo, nem tudo é processado psicologicamente pela consciência, mas ligado a um plano inconsciente, inerente ao consciente, cujas recordações (boas e/ou ruins) ficam guardadas, sem uma compreensão cônscia da pessoa. No futuro, buscaremos aprofundar todos esses conceitos teóricos anteriormente citados.

[1]Para mais detalhes, ver: PINTO, F. E. M. Quem é o sujeito psicológico? Algumas reflexões e apontamentos teóricos futuros. PSICOLOGIA.PT, p. 1-19, 2009.