Como intervir nos casos de dislexia escolar
vicente.martins@uol.com.br
Professor de Linguística e Educação Especial da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), de Sobral, Estado do Ceará (Brasil)
Para uma eficaz intervenção psicopedagógica nos casos de
dislexia, disgrafia e disortografia, há necessidade de o profissional
descrever a situação para poder explicar perante aos pais e à escola o que
ocorre no cérebro das crianças com necessidades educacionais específicas.
Isto significa dizer que terá a missão de representar fielmente o caso do
disléxico em seu plano de trabalho, por escrito ou oralmente, no seu todo ou
em detalhes. É através da descrição que o Profissional fará relato
circunstanciado das dificuldades lectoescritoras, de modo a explicar, em
seguida, as dificuldades lectoescritoras caracterizadas na anamnse.
Uma descrição rica de detalhes historiais dos educandos com necessidades
educacionais permitirá uma melhor elucidação das dificuldades de
aprendizagem lectoescritoras e, também, justificará medidas mais seguras e
eficientes no momento da avaliação e da intervenção psicopedagógica.
Outro verbo a ser conjugado pelo psicopedagogo é o de avaliar para intervir
e a partir solucionar ou compensar a dificuldade do educando. Assim,
descrito e explicado o caso psicopedagógico, o profissional que atua com as
crianças, jovens ou adultos com dislexia, disgrafia ou disortografia poderá
verificar, objetivamente, os dados das dificuldades levantados junto aos
professores, pais dos alunos e os próprios alunos. A pauta, protocolo ou
ficha de observação quanto mais ampla mais eficaz. As avaliações escolares
tradicionais também não podem ser descartas ou negligenciadas uma vez que
são verificações que objetivam determinar a competência do educando.
A intervenção psicopedagógica deve ocorrer quando o profissional se sente
seguro teoricamente para praticar atividades que atuem diretamente nas
dificuldades dos educandos disléxicos, disgráficos e disortográficos. A
intervenção psicopedagógica é uma capacidade, advinda da experiência, de
fazer algo com eficiência. Em geral, é um período em que alunos deixam, em
algumas horas do seu tempo regular de estudo escolar, na própria instituição
de ensino, a sala de aula e passam a receber treinamento específico para a
superação de suas dificuldades.
Para ilustrar no artigo com exemplos reais de casos de dislexia, vamos expor, de forma sintética, relatos de pais, profissionais de educação da fala e educadores sobre dificuldades específicas na linguagem escrita de seus filhos e educandos:
1º caso - “ Fui chamada na escola de meu filho porque ele tem problemas com a escrita, faz trocas de letras como v/f, d/t, ele tem 9 anos está na terceira serie, pediram para que o leve para fazer uma avaliação com uma fono, queria saber se este caminho que devo seguir, ou o que devo fazer grata “
2º caso – “Tenho uma
paciente de 27 anos que apresenta algumas dificuldades na escrita e na fala.
Em uma das atividades que realizei com ela, a mesma apresentou-se nervosa ao
ler,trocando algumas letras. Ao pedir para ela falasse qual o número que
estava no dado, a mesma teve dificuldades; tendo dificuldade também em
distinguir letras aleatórias, trocando principalmente as letras F e V. A
paciente relata ser muito agressiva querendo bater nas pessoas e não gosta
de "conviver" com elas. Sente ódio de todos.Gostaria de saber como faço para
verificar se ela pode ter Dislexia?.”
3º caso – “ Tenho uma filha de 8 anos e meio diagnosticada com
dislexia, além de ter disgrafia e disortografia. A Fono disse que a dislexia
dele é bem leve. Ela lê razoavelmente bem, apesar de soletrar muitas vezes,
principalmente as palavras pouco freqüentes, mas eu acredito que a disgrafia
e a disortografia nela sejam um pouco mais severas que a dificuldade de
leitura propriamente dita. Ela não consegue escrever uma frase sem cometer
vários erros, em palavras que já escreveu várias vezes (sempre escreve valar
ao invés de falar, xegou ao invés de chegou, soldade ao invés de saudade
entre outras coisas) e a aparência gráfica de sua letra é muito franca,
parece de criança ensaiando as primeiras letras. No entanto ela gosta muito
de escrever, tem um diário, escreve historinhas, só que é uma luta
conseguirmos decifrar o que ela quis dizer.Gostaria de saber, se poderia
indicar alguma literatura, que contivesse exercícios especificamente para
disgrafia e disortografia .”
Tomando, para a rápida análise e sistematização dos relatos de casos de dislexia acima, muito comuns nas queixas de crianças, pais e docentes, observaremos que, em geral, são estes indícios típicos de dificuldades em leitura, escrita e disortografia:
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Progresso muito lento na aquisição das habilidades de leitura;
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Problemas ao ler palavras desconhecidas (novas, não-familiares), que devem ser pronunciadas em voz alta;
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Tropeços ao ler palavras polissilábicas, ou deficiências o ter de pronunciar a palavra inteira;
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A leitura em voz alta é contaminada por substituições, omissões e palavras malpronunciadas;
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Leitura muito lenta e cansativa;
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Dificuldades para lembrar nomes de pessoas e de lugares e confusão quando os nomes se parecem;
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Falta de vontade de ler por prazer;
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Ortografia que permanece problemática e preferência por palavras menos complexas ao escrever;
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Substituição de palavras que não consegue ler por palavras inventadas e (10) Problemas ao ler e pronunciar palavras incomuns, estranhas ou singulares, tais como o nome de pessoas, de ruas e de locais, nomes dos pratos de um menu.