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Educação para todos! Mas, a responsabilidade é de poucos!?

2011
nsformiga@yahoo.com
*Aluna de Jornalismo da Faculdade Mauricio de Nassau - João Pessoa/PB, Brasil). **Doutor em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. Professor no curso de Psicologia na Faculdade Mauricio de Nassau - João Pessoa, Brasil)

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Educação para todos! Mas, a responsabilidade é de poucos!?

A sociedade tem, por função e estrutura, ser educativa e formadora de comportamentos, dado que a convivência entre seus membros, os homens, for principalmente, promovida pela educação. Ninguém! Ninguém escapa dela; seja em casa, na rua, na igreja, na escola, etc., todos estão envolvidos, responsáveis por criar e transmitir continuamente um conhecimento informal em formal e vice-versa, com o intuito de que as pessoas sejam autônomas, críticas e conscientes para a manutenção da cultura, dos costumes, maneiras de viver, vestir, de morar, de pensar, de expressar a linguagem e, especialmente, dos valores e atitudes, as quais fazem parte de um povo ou diferentes grupos sociais.

Nesta condição, a educação, por pressuposto, passaria a considerar o “Ser” e não o “Ter”, articulando a produção de um Conhecimento sobre nós e a sociedade, contribuindo para compreender o homem como um ser-no-mundo e com-o-mundo; pois, é somente ela que podemos dizer que temos alguma coisa unicamente para si, semelhante ao nosso corpo, o qual, cada um tem o seu e cuida dele. Isso é responsabilidade da própria pessoa, mas, também, daqueles que estão no nosso entorno. Mas, porque nem todos assumem isso? Principalmente, aqueles tão próximos (por exemplo, pais, professores, Estado, etc.). Mas, como revelar que o rei está nu, se nem mesmo nós sabemos a roupa adequada para usa?!  Ou melhor: a educação está semi-nua e nós e nossos jovens, prestes, a sermos, totalmente, despidos! Afinal estamos com as calças nas mãos. Mas, para vestirmos ou pendurarmos?! Aonde e como?!

Até que alguém, diga: Tenha educação! Quem foi teu mestre?! Menino, veste isso! Você precisa de comida, diversão e balet!? Não muito distante, apenas a 25 km da cidade de João pessoa-PB-Brasil, existe uma comunidade que se chama Águas Turvas. Ela é norteada de mata ainda virgem, onde vivem pessoas que desconhecem à proporção que tomou a violência, o uso de drogas e a criminalidade vivida nas grandes cidades. Lá, a educação não é diferente da que o Brasil tem, mas, as pessoas são; elas e seus interesses, motivações, preocupações... tudo a que possa juntar, positivamente, a ação...até tem animação somado a educação.

Na comunidade de Águas Turvas existe a (uma) escola - Escola Joaquim Torres - com tudo (quase) igual às outras: uma estrutura com salas, distribuição do tempo entre ensino e lazer, etc. Mas, é um igual-diferente. Lá, no intervalo, as crianças brincam de ciranda (e aquela dada por Lia de Itamaracá!) e de abraços. Abraços?! Onde já viu crianças brincarem de abraços?! Isso é somente para quando se tem saudades ou se recebe presentes. Mas, também, poderia ser briga?! Não! É brincadeira de abraços mesmo! E de abraços com sorrisos!

O mais impressionante na comunidade é o olhar das crianças e a felicidade refletida no rosto com uma expressão de realização na busca de um sonho. Reflexo parecido com o que temos quando, nós adultos, sonhamos (obviamente, quando em sono profundo) e ao acordarmos sorrimos satisfeitos, antes de escovar os dentes, lavar a louça, fazer café, etc., e não partilhamos com ninguém, muito menos, continuamos expressando a satisfação que estamos após nossos 40 segundos ou 1 minuto de espreguiçadas. Educação, cultura e formação, tudo isso, são fontes inesgotáveis – de satisfação, alegria, realização e cooperação - para qualquer individuo; e mais! É um direito! E um direito a vida... a vida social! A vida bela! Não se trata de um favor, por parte do professor, educar, ou das inúmeras justificativas do governo deflagrando a sua irresponsabilidade em oferecer e manter as oportunidades para que os jovens se eduquem intelectual e socialmente. O que falta é uma sensibilidade por parte de todos ao valorizar a educação como um fazer a vida, de qualquer ser humano, ser digna.

O que foi descrito acima, pode ser lido nas palavras de JLD (nome fictício), estudante de 9 anos, que vivi na comunidade: “Quero ser uma boa pessoa, o estudo é uma oportunidade para que eu seja vista como uma pessoa trabalhadeira” (o que é mais do que a formiga [trabalhadora] da fábula). Sonhos vislumbrados, mesmo com 9 anos, traz o despertar espriguicento desse sonho para tão perto dela. Sonhos que talvez não sejam realizados quando essa menina tão meiga, com a esperança no olhar, tornar-se mulher e procurar um lugar na sociedade, sendo ‘trabalhadeira’, ver e sentir que a educação que ela queria, foi medicada a ansiolíticos e anti-depressivos e está sonolenta... em sonolência crônica.

A diretora da escola, Ana Lucia, relata que “a educação na comunidade evoluiu muito. Há pouco mais de 10 anos, a escola ficava a 6 km da comunidade, não existia transporte escolar e os pais não deixavam seus filhos estudarem, primeiro pelo medo que tinham e segundo porque perdiam muito tempo para irem e voltarem da escola, pois seria melhor que as crianças trabalhassem para ajudá-los com as despesas da casa”.

Ainda dizia a diretora: “Hoje existe um transporte escolar adquirido pela própria comunidade, a prefeitura (despertada da sesta política! – grifo nosso) paga uma quantia - mínima - pelo deslocamento diário para levar e trazer os alunos e a manutenção do veículo. De acordo com a diretora, o terreno onde fica a Escola Joaquim Torres foi doado pelo antigo líder da comunidade. Segundo seu Josa (Um Ser que está bem despertado! E não é budista!), atual líder da comunidade, a escola e a igreja foram construídas por recursos quase que próprios da comunidade, já que a prefeitura não contribuiu com todo o investimento.

Apesar de toda dificuldade para a educação e a formação desses jovens, os adultos responsáveis encontram a harmonia, o respeito e a força para educar suas crianças e fazer de cada uma delas o melhor para uma sociedade (e para a comunidade) quase que totalizada pelo consumo desnecessário e a falta de consciência que um ser humano deveria exercer como seu importante papel de cidadão e educador básico, sedo conscientizador da vida.

Não é novidade que no Brasil a educação não seja prioridade, capaz de fomentar o governo, em suas importantes idéias – miseráveis – na busca de um pensamento e ação coletiva por meio (mas, o meio que é todo) a educação, a qual direito de todos. Essa é uma condição privilegiada em um país democrático como o nosso. Mas, cadê a democracia? Onde estão os democratas, principalmente, os cidadãos que se preocupam para além do seu umbigo? É! Parece que estão lá em Águas Turvas!

Chegar a uma comunidade como esta é acreditar que as pessoas lutam e persistem em acreditar que a vida pode sim valer a pena e valer muito com a educação em sua base social e humana. A vida é bela! Com uma bela educação!