Eixo mente-tempo
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Jornalista. Publicitário (Estácio). Pós-graduado em Psicologia Analítica (PUC/Rio). Leader Coach, Life Coach e Business Coach do IBC - Instituto Brasileiro de Coaching. Coautor do Livro - O Impacto do Coaching no Dia a Dia. Apresentador dos canais BusTV e TV Max. Colunista e Consultor da Catho. Colaborador da Revista Psique (Brasil, editora Escala). Autor e Palestrante do projeto social - Comunidade Profissional; Diretor do Instituto Lascani.
Desde a Grécia antiga, muitos pensadores buscaram entender o
que é o tempo. Mesmo com diversos estudos e teorias, ninguém, de fato, conseguiu
defini-lo. Ao que parece, e com base nas principais linhas de pensamento,
antigas e contemporâneas, cientificas e filosóficas, o tempo é parte intrínseca
e fundamental da psicologia humana.
Em todos os períodos da humanidade muitos tentaram decifrá-lo, com teorias que
confundiram bastante o planeta. Pensadores, tais como, Epicuro (341 a.C.-270
a.C.), Agostinho (354 d.C. - 430 d. C.), Blaise Pascal (1623-1662), dentre
muitos outros. Mas, foi o físico Alemão Albert Einstein (1879 -1955), quem
revolucionou o conceito de tempo, através de sua Teoria da Relatividade
Especial. Einstein, demostrou que o tempo não é um ‘’Tic Tac’’ universal para
todos, mas, sim, transpassa em medidas diferentes na mente de cada ser humano,
de acordo com a velocidade que nos locomovemos no espaço. A Relatividade nos diz
que quando viajamos em grandes velocidades ocorre uma distorção no espaço-tempo.
O espaço se comprime e o tempo se dilata. E quanto mais se aumenta a velocidade
de um corpo no espaço, maior se torna esta distorção temporal. Tal distorção foi
postulada com base no Fator de Lorentz, do Físico holandês, Hendrix Lorentz
(1853 -1928). O limite deste experimento foi medido por Einstein, calculando-se
objetos percorrendo próximos à velocidade da luz. Neste exemplo, um corpo no
espaço, que viaja, por exemplo, durante um ano, em tal velocidade, ao retornar à
Terra, poderá se assustar com um passar de tempo de até 16 anos. A Relatividade
Especial tem um fator de Lorentz, em média, de 16 para 1, quando medida próxima
à velocidade da luz, do espaço físico. E, assim sucede, com distorções
proporcionais em outras velocidades. Desta forma, a Relatividade Especial também
indica o tempo como a quarta dimensão do espaço. Pois, para que um corpo no
espaço se locomova em qualquer velocidade, este processo engendra o fenômeno que
chamamos de tempo. E assim nasceu a expressão, espaço-tempo. Na visão
relativística, o tempo e o espaço estão intimamente relacionados.
Entretanto, quando Einstein estava bem famoso, com sua teoria, conhecera o
filosofo francês Henri Bergson (1941-1859), que o contestou, publicamente. Na
visão Bergsoniana, o tempo é um fenômeno mental e não espacial. É apenas uma
percepção humana, - uma construção psicológica. A consciência, através da
memória, produz o tempo passado e, também a noção de tempo futuro. Qualquer
lembrança está presente, podendo ser atualizada em nosso cérebro, relativamente,
em qualquer momento. O passado é representado por nossas lembranças, memórias,
conhecimentos, habilidades, razões; nosso futuro são nossas esperanças,
encantamentos, ansiedades, criações e emoções. Já, o presente, é apenas um
constante sentir, através da consciência. Nossa mente cria esta divisão
cartesiana entre passado, presente e futuro, que denominamos como tempo.
Bergson acreditava que o tempo e sua relatividade estão na mente humana e não
somente no espaço. Pois, assim como na teoria de Einstein, um corpo, que se
locomove de um espaço a outro, leva um tempo, e, assim, deste movimento, o tempo
nasce, da mesma maneira, para Bergson, no espaço virtual da mente, também se
leva um tempo, entre um pensamento e outro, que ele chamara de Duração. Que é,
justamente, o que nos faz perceber o que acontece no mundo/espaço externo. Essa
experiência também é relativa, e, já varia, naturalmente, entre cada um de nós.
Neste contexto, é correto afirmar que o eixo espaço-tempo de Einstein, é,
também, um eixo mente-tempo, para Bergson.
Einstein, ignorou seus argumentos, mas, ainda assim, o filósofo foi muito
respeitado por suas contestações. Um dos maiores físicos do mundo não queria
admitir uma relatividade do tempo que fosse mental, mas, fatalmente, a fez,
quando a explicou, em seu encontro, com o presidente norte-americano, Franklin
Roosevelt (1881-1945), utilizando-se de um exemplo, com aspecto psicológico,
para que o presidente entendesse o que é a relatividade. Disse Einstein:
‘’coloque seu dedo em um chapa quente por um segundo e parecerá uma hora; passe
uma hora com uma bela mulher e parecerá um segundo’’.
Atualmente, postulados da mecânica quântica, conseguem unir as duas teorias. A
mesma distorção espaço-tempo que ocorre no espaço material também ocorre em
nosso espaço mental, portanto, são uma mesma realidade colapsada. Nossa mente
(mundo interno) e o espaço (mundo externo) são dois polos de uma mesma
realidade. E o tempo é uma construção, que a nossa consciência produz, deste
colapso. Neste contexto, a teoria da relatividade, com a contribuição de
Bergson, constata que cada ser humano também pode sentir o tempo passar de forma
diferente, sem necessariamente viajar na velocidade da luz. Há um fator de
Lorentz, também, dentro de nossa mente, assim como há entre o espaço- tempo.
A psique humana consegue observar que o presente está sempre passando, que o
passado está sempre presente, se acumulando, e que o futuro é um tempo presente
que está sempre chegando, em cada instante no contínuo espaço-tempo. Tudo é um
constante tempo presente. Temos percepções produzidas, relativamente, pela nossa
memória. Para uns, um dia pode passar rápido, para outros, nem tanto, dependendo
do eixo mente-tempo que também se relativiza, inconscientemente, em cada um.
Bergson, definia consciência e duração como o espaço mental
entre ação e reação. Nos dias atuais, estamos em um mundo que nos exige ações e
reações rápidas. Neste processo, deixamos de vivenciar aquilo que nos diferencia
de todos os seres vivos: o poder de pensar, criar, e o de se construir um tempo
bem aproveitado. Podemos raciocinar sobre um assunto, ao invés de reagir
espontaneamente. Quando agimos e reagimos, no automático, às demandas do mundo
externo, estamos usando mais os nossos instintos em uma esfera mais habitual,
primitiva, determinada, sobretudo, no tempo espacial, de Einstein. Mas, quando,
em vez de reagirmos, e, calmamente, paramos e pensamos, estamos usamos mais a
nossa intuição em uma esfera mais virtual, evolutiva, indeterminada, sobretudo,
no tempo mental, de Bergson. O tempo espacial de Einstein, é um eixo
espaço-tempo; o tempo mental de Bergson, é um eixo mente-tempo.
Referências bibliográficas:
Einstein, Albert. A Teoria da Relatividade Especial e Geral
(Methuen e Co Ltd);
Bergson, Henri. Duração e Simultaneidade (Martins Fontes, São Paulo, 1999);
Bergson, Henri. Matéria e Memória (Martins Fontes, São Paulo, 1999).
Artigo publicado na Revista Psique (Editora Escala, Brasil).