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Eixo mente-tempo

2018
daniel@institutolascani.com.br
Jornalista. Publicitário (Estácio). Pós-graduado em Psicologia Analítica (PUC/Rio). Leader Coach, Life Coach e Business Coach do IBC - Instituto Brasileiro de Coaching. Coautor do Livro - O Impacto do Coaching no Dia a Dia. Apresentador dos canais BusTV e TV Max. Colunista e Consultor da Catho. Colaborador da Revista Psique (Brasil, editora Escala). Autor e Palestrante do projeto social - Comunidade Profissional; Diretor do Instituto Lascani.

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Eixo mente-tempo

Desde a Grécia antiga, muitos pensadores buscaram entender o que é o tempo. Mesmo com diversos estudos e teorias, ninguém, de fato, conseguiu defini-lo. Ao que parece, e com base nas principais linhas de pensamento, antigas e contemporâneas, cientificas e filosóficas, o tempo é parte intrínseca e fundamental da psicologia humana.

Em todos os períodos da humanidade muitos tentaram decifrá-lo, com teorias que confundiram bastante o planeta. Pensadores, tais como, Epicuro (341 a.C.-270 a.C.), Agostinho (354 d.C. - 430 d. C.), Blaise Pascal (1623-1662), dentre muitos outros. Mas, foi o físico Alemão Albert Einstein (1879 -1955), quem revolucionou o conceito de tempo, através de sua Teoria da Relatividade Especial. Einstein, demostrou que o tempo não é um ‘’Tic Tac’’ universal para todos, mas, sim, transpassa em medidas diferentes na mente de cada ser humano, de acordo com a velocidade que nos locomovemos no espaço. A Relatividade nos diz que quando viajamos em grandes velocidades ocorre uma distorção no espaço-tempo. O espaço se comprime e o tempo se dilata. E quanto mais se aumenta a velocidade de um corpo no espaço, maior se torna esta distorção temporal. Tal distorção foi postulada com base no Fator de Lorentz, do Físico holandês, Hendrix Lorentz (1853 -1928). O limite deste experimento foi medido por Einstein, calculando-se objetos percorrendo próximos à velocidade da luz. Neste exemplo, um corpo no espaço, que viaja, por exemplo, durante um ano, em tal velocidade, ao retornar à Terra, poderá se assustar com um passar de tempo de até 16 anos. A Relatividade Especial tem um fator de Lorentz, em média, de 16 para 1, quando medida próxima à velocidade da luz, do espaço físico. E, assim sucede, com distorções proporcionais em outras velocidades. Desta forma, a Relatividade Especial também indica o tempo  como a quarta dimensão do espaço. Pois, para que um corpo no espaço se locomova em qualquer velocidade, este processo engendra o fenômeno que chamamos de tempo. E assim nasceu a expressão, espaço-tempo. Na visão relativística, o tempo e o espaço estão intimamente relacionados.

Entretanto, quando Einstein estava bem famoso, com sua teoria, conhecera o filosofo francês Henri Bergson (1941-1859), que o contestou, publicamente. Na visão Bergsoniana, o tempo é um fenômeno mental e não espacial. É apenas uma percepção humana, - uma construção psicológica. A consciência, através da memória, produz o tempo passado e, também a noção de tempo futuro. Qualquer lembrança está presente, podendo ser atualizada em nosso cérebro, relativamente, em qualquer momento. O passado é representado por nossas lembranças, memórias, conhecimentos, habilidades, razões; nosso futuro são nossas esperanças, encantamentos, ansiedades, criações e emoções. Já, o presente, é apenas um constante sentir, através da consciência. Nossa mente cria esta divisão cartesiana entre passado, presente e futuro, que denominamos como tempo.

Bergson acreditava que o tempo e sua relatividade estão na mente humana e não somente no espaço. Pois, assim como na teoria de Einstein, um corpo, que se locomove de um espaço a outro, leva um tempo, e, assim, deste movimento, o tempo nasce, da mesma maneira, para Bergson, no espaço virtual da mente, também se leva um tempo, entre um pensamento e outro, que ele chamara de Duração. Que é, justamente, o que nos faz perceber o que acontece no mundo/espaço externo. Essa experiência também é relativa, e, já varia, naturalmente, entre cada um de nós. Neste contexto, é correto afirmar que o eixo espaço-tempo de Einstein, é, também, um eixo mente-tempo, para Bergson.

Einstein, ignorou seus argumentos, mas, ainda assim, o filósofo foi muito respeitado por suas contestações. Um dos maiores físicos do mundo não queria admitir uma relatividade do tempo que fosse mental, mas, fatalmente, a fez, quando a explicou, em seu encontro, com o presidente norte-americano, Franklin Roosevelt (1881-1945), utilizando-se de um exemplo, com aspecto psicológico, para que o presidente entendesse o que é a relatividade. Disse Einstein: ‘’coloque seu dedo em um chapa quente por um segundo e parecerá uma hora; passe uma hora com uma bela mulher e parecerá um segundo’’.

Atualmente, postulados da mecânica quântica, conseguem unir as duas teorias.  A mesma distorção espaço-tempo que ocorre no espaço material também ocorre em nosso espaço mental, portanto, são uma mesma realidade colapsada. Nossa mente (mundo interno) e o espaço (mundo externo) são dois polos de uma mesma realidade. E o tempo é uma construção, que a nossa consciência produz, deste colapso. Neste contexto, a teoria da relatividade, com a contribuição de Bergson, constata que cada ser humano também pode sentir o tempo passar de forma diferente, sem necessariamente viajar na velocidade da luz. Há um fator de Lorentz, também, dentro de nossa mente, assim como há entre o espaço- tempo.

A psique humana consegue observar que o presente está sempre passando, que o passado está sempre presente, se acumulando, e que o futuro é um tempo presente que está sempre chegando, em cada instante no contínuo espaço-tempo. Tudo é um constante tempo presente. Temos percepções produzidas, relativamente, pela nossa memória. Para uns, um dia pode passar rápido, para outros, nem tanto, dependendo do eixo mente-tempo que também se relativiza, inconscientemente, em cada um.

Bergson, definia consciência e duração como o espaço mental entre ação e reação. Nos dias atuais, estamos em um mundo que nos exige ações e reações rápidas. Neste processo, deixamos de vivenciar aquilo que nos diferencia de todos os seres vivos: o poder de pensar, criar, e o de se construir um tempo bem aproveitado. Podemos raciocinar sobre um assunto, ao invés de reagir espontaneamente. Quando agimos e reagimos, no automático, às demandas do mundo externo, estamos usando mais os nossos instintos em uma esfera mais habitual, primitiva, determinada, sobretudo, no tempo espacial, de Einstein. Mas, quando, em vez de reagirmos, e, calmamente, paramos e pensamos, estamos usamos mais a nossa intuição em uma esfera mais virtual, evolutiva, indeterminada, sobretudo, no tempo mental, de Bergson. O tempo espacial de Einstein, é um eixo espaço-tempo; o tempo mental de Bergson,  é um eixo mente-tempo.

 

Referências bibliográficas: 

Einstein, Albert. A Teoria da Relatividade Especial e Geral (Methuen e Co Ltd);

Bergson, Henri. Duração e Simultaneidade (Martins Fontes, São Paulo, 1999);

Bergson, Henri. Matéria e Memória (Martins Fontes, São Paulo, 1999).

 

Artigo publicado na Revista Psique  (Editora Escala, Brasil).