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Escolaridade obrigatória e necessidades educativas especiais

2017
safetydialogues@gmail.com
Psicóloga. Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos. Mestre em Psicologia. Pós-graduada em Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais

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Escolaridade obrigatória e necessidades educativas especiais

Penso que todos nós sabemos que a escolaridade obrigatória em Portugal leva os nossos “petizes” até ao 12º ano ou aos 18 anos, se por qualquer motivo houve uma ou outra reprovação.

Também penso que todos vemos benefícios e desvantagens nesta obrigatoriedade. Para um menino com um percurso sem grandes dificuldades, este panorama surge como positivo e impulsionador das suas capacidades intelectuais. A grande questão levanta-se quando os meninos têm necessidades educativas especiais.

Na minha experiência como psicóloga clinica surgem uma série de cenários de crianças e jovens que em nada foi facilitador ou impulsionador das suas capacidades. O problema coloca-se logo na sinalização e sua posterior avaliação. O percurso é demasiado longo e, durante esse tempo de análise, reuniões e discussões, a criança continua a confrontar-se com a sua dificuldade, a sentir-se diferente, preguiçosa, burra, incapaz.

Também nos confrontamos com dificuldades “extra criança” como a reticência e resistência que alguns agrupamentos exercem aos pais se a criança é avaliada por um psicólogo externo ao Agrupamento. Aqui cabe a todos seguir a lei e penso que não existem Universidades que formem “aqueles psicólogos ou outros técnicos que trabalham na escola versus os de instituições ou particulares".  Isso é o chamado “bairrismo” e não é de todo um comportamento profissional. E, mais uma vez, temos uma criança que continua a confrontar-se com as suas dificuldades, sem que lhe chegue uma real e rápida ajuda neste processo. E passa-se um ano e outro ano.

Infelizmente, são muitos os casos de crianças que reprovam vários anos sem que isso seja produtivo ou eficaz para elas, pois as dificuldades são reais e não uma mera “desmotivação, falta de estudo, de atenção ou de trabalho”. Passaram-se muitos anos, e aquela criança, agora jovem, odeia a escola porque ali sente-se burra, incapaz. E por isso desiste de tentar. Aquela criança agora responde aos professores, é má educada e falta às aulas. Aquela criança aprende que, se perturbar a aula, chama a atenção dos colegas e professores. Aquela criança, juntamente com outras com um perfil de vida igual ou parecido, reforça, incentiva e ensina o seu grupo a, como ela, chamar a atenção dos outros.  Aquela criança torna-se um jovem problemático, problematizando toda uma turma, impossibilitando a aprendizagem daqueles que querem aprender.

Surge então o encaminhar para um curso vocacional, profissional ou um Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF) que lhe possibilite o acesso a escolaridade obrigatória.

A questão é: será que proporcionamos a estas crianças/jovens todos os recursos, condições e incentivos ao longo do seu percurso escolar? Ou será que nos deixamos “levar” pelo “bairrismo”, papéis, reuniões, processos e outros ao longo do seu percurso?

Penso que todos temos de pensar seriamente toda esta questão, para que tudo possa ser fluído, rápido e eficaz. Afinal não nos podemos esquecer que se trata de crianças, de jovens e do seu futuro...