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Intervenções psicossocioeducativas: introdução ao tema

2011
joaobeauclair@yahoo.com.br
Escritor, Arte-educador, Psicopedagogo, Mestre em Educação. Palestrante e Conferencista Internacional.

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Intervenções psicossocioeducativas: introdução ao tema

 “... todo conhecimento é conhecimento do outro.”
Sara Pain[1]

 

Antes de ampliarmos nossas ideias sobre o tema “Intervenções psicossocioeducativas”, acredito ser de relevância trazer, a palavra e seu significado, em cena.

De acordo com o nosso mais famoso dicionário, a palavra intervenção é assim definida: 

 

“s.f. Ação de intervir; mediação; intercessão. Medicina. Tratamento ativo, operação: intervenção cirúrgica. Direito. Ato de intervir como parte em demanda pendente ou como interveniente no aceite ou pagamento de uma letra de câmbio. Bras. Ação direta do governo federal em um Estado da Federação e, p. ext., do governo estadual em um município. Interferência de uma nação, pela força, nos assuntos internos de outra nação.  Também pode ser considerada nação interventora aquela que tentar defender seus interesses em outros territórios. Um exemplo de intervenção foi a exigência feita pelos E.U.A., em abril de 1898, para que a Espanha retirasse suas tropas da ilha de Cuba, que se encontrava, então, em estado de rebelião contra o domínio espanhol.”
www.dicionariodoaurelio.com/Intervencao

Ainda trago aqui outras duas definições, que se aproximam:

“intervenção
(latim imperial interventio, -onis)
s. f.1. Acto!Ato de intervir.
2. Acção!Ação conciliadora de terceiro.
3. Intermédio.
4. Operação cirúrgica.”
www.priberam.pt/

“Classificação morfossintática:
- [intervenção] substantivo fem. singular .
Sinônimos: impedir, contornar, prover .
Antônimos: permitir, insuflar.
Palavras relacionadas: coibir, mediar, ajudar a.”
www.dicionarioinformal.com.br

Com isso, acredito ser de grande relevância pensar juntos sobre a própria palavra e, com o desenvolver deste pequeno texto, aproximar compreensões sobre sua importância à Educação, Psicologia, Gestão de Pessoas e Processos, Recursos Humanos e Psicopedagogia, enfim, aéreas que definimos como sendo das Ciências Humanas e que, com elas, envolvidos estamos em nossas práticas sociais e profissionais.

Se a palavra intervenção possui sentidos diversos, sendo algo autoritário ou democrático, sem sombra de dúvida intervir requer posturas de tomada de consciência para com nossas interações sob o objeto de nossas ações. Intervir passa, essencialmente, por optar entre diferentes possibilidades de movimentarmos o nosso agir, o nosso fazer.

Deste modo, intervir sempre se vincula a uma ação que, em meu sentipensar, passa essencialmente por escolher aprender e seguir aprendendo sobre o que é mediar. Nos processos terapêuticos, intervir é ajudar algo ou alguém: 

·  A sair do lugar da queixa;
·  A buscar “luz nas trevas”;
·  A perceber possibilidades de cura;
·  A compreender seus movimentos internos;
·  A apoiar-se em si mesmo para encontrar alternativas;
·  A superar traumas e questões ainda não assumidas e resolvidas;
·  A rever o percurso do vivido, para compreender a própria trajetória;
·  A assunção da sua autoria de pensamento.

Os riscos sempre são muitos e adaptações são vitais. Supervisão, intercâmbios e grupos de estudos são processos de enriquecimento do profissional que intervêm e que media tomadas de decisões, de atitudes, de enfrentamentos das múltiplas dimensões presentes no viver de cada um de nós, aprendentes e ensinantes na magia da vida.

Cabe-me, neste pequeno texto, a tarefa de tão somente sistematizar alguns pontos de partida à elaboração de nossas agendas de trabalhos. Por isso, situar minha compreensão sobre esta temática é importante no que se refere aos meus próprios modos de conceber proposições interventivas, onde sejamos arautos da saúde e da busca do bem viver.

Mais do que nunca, imersos num sistema global de excessivas informações, carece a cada um de nós fazer opções e, com isso, perceber com profundidade que jamais iremos dar conta dos desafios plurais da realidade complexa que vivemos. Apenas com um corpo teórico ou uma linha de raciocínio única limitam nossas potencialidades pouco apóiam nossos processos criativos.

Somos desafiados a compreender a pluralidade e nos envolver em campos referenciais que facilitem aproximações com a diversidade de ideias fomentadoras a aberturas de pensamentos e percepções.

 Nossos modos de nos situarmos frente à vida podem ganhar novas mobilidades e nossas ações e condutas podem ser ressignificadas com prazer, alegria, criatividade, autoria e imaginação, pois se desejamos fazer novas ciências e ampliarmos nossas consciências, sem estes importantes fatores de nossas vidas e formações pessoais, ficamos limitados. De acordo com Jacob Bronowski

“se a Ciência é uma forma de imaginação, se toda experiência é um tipo de jogo, então a ciência não pode ser árida. Para o autor nem a Arte nem a Ciência são monótonas, toda atividade é criativa e divertida, mas nenhum trabalho criativo na arte ou na ciência existe para o individuo se não houver recriação, a incorporação de uma parcela de criação pessoal”.[2]

Portanto, a formação de grupos de estudos em intervenção psicossocioeducativa é um modo que possuímos de seguir adiante, elaborando e reelaborando, de modo coletivo, estratégias e movimentos processuais de ampliação de saberes e enfretamentos de nossas “ignorâncias”. Assim, com os pilares teóricos da Interdisciplinaridade[3] nos servindo de ferramentas conceituais e visando a Transdisciplinaridade, aliadas a minha proposição de autoria com a MOP Metodologia de Oficinas Psicossocioeducativas[4], o meu trabalho de mediação de grupos humanos em formação contínua perpassa por exposições e vivências dialógicas e dialéticas que incluem assertivas e intervenções que ampliem perspectivas no que se refere a: 

·  Ação;
·  Comunicação;
·  Funções;
·  Papéis;
·  Desenvolvimento em grupo.

Em trabalho anterior, destaquei:

“Ocupados, cada vez mais ocupados, ficamos sem o necessário tempo para melhor discernimento e opinião reflexiva: nossa formação acelerada, rápida, em muitos momentos, não faz com que seja elaborado o necessário vínculo ao nosso desenvolvimento como aprendentes.

Mediante o exposto, devemos nos questionar:

·  Quem somos nós?
·  Em que acreditamos?
·  Quem nos forma/deforma?
·  Quem (e como) formamos/deformamos?
·  Em prol de que projeto de vida atuamos?
·  Que visão de mundo apostamos nosso futuro?
·  Situados em que premissas estão os nossos afetos?
·  Sobre que pilares se constrói, hoje, a estrutura interna de cada sujeito?”
[5]

Todas estas proposições de presentificam no seguir caminhando, compartilhando e desejando outros tempo e modos de ser e estar no mundo. Caminho, compartilhamentos e desejos que, quando coletivamente produzidos ampliam possibilidades, nos refaz energias e renova nossas autorias e vidas. Sigamos em frente.  

 

Bibliografia:

BEAUCLAIR, João. Dinâmica de Grupos: MOP Metodologia de Oficinas Psicossocioeducativas (uma introdução). Editora WAK, Rio de Janeiro, 2009.

BEAUCLAIR, João. “Me vejo no que vejo”: o olhar na práxis educativa psicopedagógica. Exclusiva Publicações, São Paulo, 2008.

BEAUCLAIR, João. Do fracasso escolar ao sucesso na aprendizagem. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2008.

BEAUCLAIR, João. Ensinar é acreditar. Coleção Ensinantes do Presente, volume I. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2008.

BEAUCLAIR, João. Educação & Psicopedagogia: aprender e ensinar nos movimentos de autoria. Pulso Editorial, São José dos Campos, São Paulo, 2007.

BEAUCLAIR, João. Incluir, um verbo/ação necessário à inclusão. Pulso Editorial, São José dos Campos, São Paulo, 2007.

BEAUCLAIR, João. Para entender psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2006. Segunda edição 2007.

BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2004. Terceira edição 2008.

BRONOWSKI, Jacob. Arte e conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. A formação do professor pesquisador: 30 anos de pesquisa. In: TORRE, Saturnino de La (direção). Transdisciplinaridade e Ecoformação: um novo olhar sobre a educação. Triom Editora. São Paulo, 2008.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. (org.).  Didática e interdisciplinaridade. Papirus Editora. São Paulo, 2005.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: qual o sentido? Editora Paulus. São Paulo, 2003.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (org). Dicionário em construção: Interdisciplinaridade.  Cortez Editora. São Paulo, 2002.

FERNANDEZ, Alicia. Os idiomas do Aprendente. Artes Médicas, Porto Alegre, 2001.

FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a Psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Artes Médicas, Porto Alegre, 2001.

FREIRE, Paulo e FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1985.

MORAES, Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Editora Vozes. Petrópolis, 2003.

MORAES, Maria Cândida e TORRE, Saturnino De La. Sentipensar: Fundamentos e Estratégias para Reencantar a Educação. Editora Vozes. Petrópolis, 2004.

 

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[1] PAIN, Sara. Citada por GROSSI, Esther Pillar. A coragem de mudar em Educação. Editora Vozes, Petrópolis, 2000, pág.19.

[2] BRONOWSKI, Jacob. Arte e conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

[3] Refiro aqui aos princípios interdisciplinares da espera, da humildade, do respeito e do desapego, que podem conduzir nossos desejos de aprofundamentos e sistematizações. In: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (org.). Dicionário em construção: Interdisciplinaridade.  São Paulo: Cortez, 2002.

[4] BEAUCLAIR, João. Dinâmica de Grupos: MOP Metodologia de Oficinas Psicossocioeducativas (uma introdução). Editora WAK, Rio de Janeiro, 2009.

[5] BEAUCLAIR, João. Quem aprende, ensina. Quem ensina aprende. Contribuições reflexivas a partir da Psicopedagogia. Síntese da Conferência pronunciada no XX Congresso de Educação do SINPEEM, em 30/10/09, São Paulo, SP. Publicado como artigo em: Revista Maringá Ensina. Secretaria de Educação de Maringá, Paraná. Ano V, Número 16 Agosto/Setembro/Outubro de 2010, p.38-43.