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Mas já pensaste em fazer psicoterapia? - Psicoterapia? Para quê? Aquilo não é só conversa?

2016
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga clínica

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Mas já pensaste em fazer psicoterapia? - Psicoterapia? Para quê? Aquilo não é só conversa?

Ouvi este pequeno diálogo na rua e fiquei a pensar de que forma é que se poderia tentar chegar até estas pessoas, que realmente pensam que psicoterapia é apenas conversa. Mas ao mesmo tempo questionei-me se esta seria a opinião de muitas pessoas. E pensei que não se deveria desvalorizar o poder da conversa. Efectivamente a Psicologia e a Psicoterapia ainda são vistas como algo secundário e menos importante, felizmente cada vez menos. Mas continua a ser quase mais fácil procurar-se um psiquiatra ou até mesmo o médico de família, que nos receita um antidepressivo ou um ansiolítico e o problema fica resolvido. Mas será que fica?

Falarmos sobre o sofrimento que sentimos é essencial para superarmos uma dificuldade ou um trauma. Ao fazermos isso, somos capazes de nos reorganizarmos a nível emocional. Afinal, a tal conversa pode produzir efeitos reorganizadores na mente de uma pessoa. Apenas a necessidade de traduzirmos o que estamos a sentir para palavras, dá-nos por vezes uma outra perspectiva que, de outra forma não teríamos acesso.

A Psicologia vê o funcionamento da pessoa como uma consequência da soma da inter-relação entre cognição, emoção e pensamento e assim, o comportamento e as emoções são determinados, numa grande parte, pela maneira como pensamos sobre nós e sobre o mundo à nossa volta. Quando essa percepção se encontra afectada, surgem os problemas emocionais. A psicoterapia é o tratamento dessas problemáticas para promover o bem-estar. Através das técnicas psicoterapêuticas e ao se explorar novas perspectivas, vamos sendo cada vez mais capazes de regularmos as nossas necessidades psicológicas e, assim, encontrarmos o nosso equilíbrio emocional.

Felizmente têm havido inúmeros estudos que comprovam as alterações do cérebro, pelos efeitos da psicoterapia. Com o desenvolvimento das neurociências, há nova informação sobre esta questão que é importante dar-se cada vez mais a conhecer. O avanço da tecnologia possibilitou o desenvolvimento de técnicas de neuro imagem, que têm sido cada vez mais utilizadas em pesquisas científicas sobre o funcionamento cerebral associado aos transtornos mentais e ao seu tratamento. As neurociências têm procurado esclarecer os efeitos da psicoterapia no cérebro, e as pesquisas realizadas têm comprovado que existem mudanças neuronais, levando a uma melhoria dos sintomas das pessoas.

Ritchey e col. (2011), fizeram um estudo com pacientes depressivos sem o uso de medicação que demonstrou que a psicoterapia promoveu um aumento geral na activação do córtex pré-frontal, e a uma maior excitação na amígdala, núcleo caudado e hipocampo (uma das regiões cerebrais envolvidas na expressão das emoções). Outra investigação, da Universidade da Califórnia demonstrou, através de estudos de neuro imagem, uma redução da actividade metabólica no núcleo caudado (estrutura localizada no hemisfério cerebral direito, com papel importante no sistema de aprendizagem e memória) em pacientes com Transtorno Obsessivo Compulsivo, que passaram por psicoterapia.

Todos estes resultados demonstram que os circuitos cerebrais e nervosos são muito mais flexíveis do que se pensava anteriormente. A psicoterapia pode alterar o funcionamento cerebral de forma a que as memórias recolhidas pelo hipocampo sejam reorganizadas de uma forma significativa pelos lobos frontais e consolidados novamente na memória. O processo de sentir, falar sobre o que se sente, expressar as emoções, ligando isso a uma memória, tem consequências duradouras e benéficas para a qualidade de vida emocional das pessoas.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

 

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Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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