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O cancro da mama e a influência dos factores psicológicos

2019
jvalerio@netcabo.pt
Psicóloga clínica

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O cancro da mama e a influência dos factores psicológicos

O diagnóstico de cancro da mama é um dos mais receados pelas mulheres, por ser uma doença estigmatizante, potencialmente mortal e, habitualmente, com consequências ao nível do seu funcionamento biológico, psicológico e social.

Sendo a mama um símbolo da sexualidade e feminilidade, a perda deste órgão pode comprometer directamente a auto-estima e auto-imagem da mulher, reactivando sentimentos de desvalorização e inferioridade que podem comprometer os relacionamentos sociais e particularmente, a relação conjugal e a sexualidade.

A mama, para além de estar ligada à estética feminina, exerce uma função fisiológica de amamentação, sendo um símbolo de maternidade. Perder esta parte do corpo, representa, simbolicamente uma diminuição destas capacidades maternas e um comprometimento na imagem sexuada, uma vez que a mama é também das partes do corpo mais associadas ao prazer na relação sexual.

Apesar de toda a evolução da medicina, o momento do diagnóstico é ainda sentido como uma sentença de morte, dando lugar a angústia e sofrimento, bem como a sentimentos de incerteza e ansiedade quanto ao futuro e a pensamentos recorrentes sobre a morte, o que também é vivido por parte da família que acompanha este processo.

Os impactos emocionais mais comuns após o diagnóstico são a perda do controle sobre a vida, mudanças na auto-imagem, medo da dependência, do abandono, do isolamento e da morte, sendo as comorbidades mais frequentes a ansiedade e depressão.

Vários estudos referem que a forma da mulher se posicionar e lidar com a doença, do ponto de vista emocional, é de extrema importância para o sucesso do tratamento. As perturbações emocionais prejudicam o bom funcionamento do sistema imunológico causando alterações bioquímicas, pelo que as pessoas mais combativas e que adoptam uma atitude positiva, têm maior esperança de vida do que as que reagem com uma perceção de baixa auto-eficácia e sentimentos de desesperança. O peso emocional de uma doença varia de pessoa para pessoa e é influenciado por vários fatores tais como as vivências passadas, a personalidade, o grupo de familiares, amigos e desconhecidos.

O acompanhamento psicológico nestes casos é de extrema importância para a adaptação emocional e funcional inerente a todo este processo, promovendo ainda a participação mais ativa e positiva da mulher durante o tratamento e a sua qualidade de vida.

Mas para além dos profissionais que podem ajudar, é muito importante o suporte social e familiar. A perceção por parte da mulher da disponibilidade daqueles que lhe são chegados e o sentir que não está sozinha nesta luta, é sem dúvida determinante para a promoção do seu bem-estar emocional.

 

Joana Valério

Joana Valério é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia (área de especialização de Psicologia Clínica) pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Realizou formação em Psicoterapia Psicanalítica pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e é Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Desenvolveu atividade clínica no Serviço de Psicologia e na Equipa de Almada (consulta externa e internamento) do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, ao nível da avaliação psicológica e psicoterapia. Exerceu atividade como formadora e, desde 2012, é técnica do Centro de Recursos para a Inclusão da Cerci, integrada no projeto de parceria com os agrupamentos de escolas locais, onde presta acompanhamento psicológico e psicopedagógico aos alunos referenciados com necessidades educativas especiais. Exerce clínica privada e, desde Março de 2016, integra a Equipa da ClaraMente, Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, que visa a promoção da saúde mental e da qualidade de vida daqueles que a procuram.

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