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O desejo não desaparece com a idade: visão da sexualidade numa fase avançada da vida

2008
joanapatriciadias@sapo.pt
Licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Estagiária (estágio académico) no Hospital de Magalhães Lemos (Porto, Portugal) na área de geriatria

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O desejo não desaparece com a idade: visão da sexualidade numa fase avançada da vida

Ao longo dos últimos tempos, nos países desenvolvidos a esperança média de vida tem vindo a aumentar. Hoje em dia os idosos constituem grande parte da população.

É um facto que o nosso país está a envelhecer, e verifica-se uma acentuada tendência para que esta situação se mantenha nos tempos que se avizinham.

Porém, este tema não tem assumido a devida importância na sociedade, que insiste em ‘marginalizar’ estes indivíduos, colocando-os à margem da população activa.

A sexualidade normalmente é um tema de difícil entendimento por parte das sociedades existentes, mesmo para os jovens, facto que se agrava ainda mais quando consideramos o caso dos idosos.

Insiste-se em acreditar que a actividade sexual desaparece com a idade, muito embora se trate de uma crença sem qualquer fundamento. Uma visão restritiva em relação à sexualidade considera que com a idade avançada vive-se apenas um período em que o indivíduo assume unicamente o papel de avô ou avó, cuida dos seus netos, faz tricô ou vê televisão.

Muitas pessoas na oitava década de vida continuam sexualmente activas, e mais de metade dos homens acima dos noventa anos assume manter desejo sexual.

A sustentação da crença de que com o avançar da idade e o declínio da actividade sexual estejam inexoravelmente ligados tem sido responsável por não se prestar atenção suficiente a uma das actividades mais fortemente ligadas à qualidade de vida, a sexualidade.

Esta tem sido devotada como uma actividade própria das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e aquelas que são fisicamente atraentes.

A ideia de que as pessoas de idade avançada também possam manter relações sexuais ainda não é culturalmente aceite. As pessoas preferem ignorar, fazendo desaparecer do imaginário colectivo a sexualidade da pessoa idosa.

Apesar deste viés cultural, a velhice conserva a necessidade de uma expressão sexual continuada, não havendo, pois, uma idade para que a actividade sexual, os pensamentos sobre sexo e o desejo acabem.

A sexualidade continua impregnada de uma ideia muito associada ao coito, não compreendendo ou concebendo outras atitudes, condutas ou práticas da mesma forma prazerosas. O diálogo envolto de palavras carinhosas, estimulantes, carícias preliminares, um forte entendimento e cumplicidade... tudo isso faz parte da expressão sexual, e há que encontrar aquelas que mais se coadunam a cada casal idoso.

Há, efectivamente, uma evidência de que as pessoas de idade avançada são capazes de ter relações sexuais e sentir prazer nas mesmas actividades a que se entregam as pessoas mais jovens. Apesar de existirem modificações na resposta sexual e desta se tornar mais lenta com a idade, pode afirmar-se que ela nunca desaparece por completo.

O preconceito existe devido à falta de informação.

A sexualidade nesta fase da vida até pode ser experienciada de forma mais intensa e com maior qualidade, uma vez que, à partida, os problemas do quotidiano relacionados com a criação dos filhos e horários de trabalho, muitas vezes já se encontram estabilizados.

“É bom na terceira idade amar e ser amado”.

Pense-se sobre isso.