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O gene da incompetência. O (gene do) aproveitamento da incompetência. O sofrimento institucional. Bigodes e colares aos peitos

2018
pvpassos@gmail.com
Psicólogo clínico (ACES do Cávado I – Centro de Saúde de Braga, Portugal)

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O gene da incompetência. O (gene do) aproveitamento da incompetência. O sofrimento institucional. Bigodes e colares aos peitos

Levante contra as novas e actuais versões torturadoras da santa fogueira, numa época em que as noções de direito, de liberdade e de justiça estão letalmente feridas pela institucionalização de valores intencionados no seio da incompetência, da doença do amiguismo e do abusivo poder desleal.

Era de princípios invertidos e adulterados pela soberba e desmedida ambição em que se confunde, com ou sem intenção, a vida com a glorificação do sofrimento e da dolorosa e humilhante pobreza, para uns e, para outros, a glorificação do obscuro e desmedido despesismo, do caseirismo, da incompetência, da farsa, tudo na perfeita isenção de culpas e de responsabilidades.

Levante contra as intenções de que nenhuma construção se suporta quando iniciada pelos adornos. O material de construção dos indivíduos é o afecto continente, é o vínculo da segurança, é a disponibilidade na relação. Os materiais de construção não são os enfeites e os berloques, estes que, apenas servem para preencher o que está vazio. Quando se cresce na saúde relacional, não se cresce vazio nem no vazio, nem na doença.

A cegueira é um colosso, no que concerne à forma como se cresce em humano. Uma mera organização de pessoas a viverem debaixo do mesmo tecto e em cumprimento com uma pré-estabelecida matriz de valorizações, no registo hierárquico, não é uma família.

A protecção destes sistemas familiares (por colossal ignobilidade) tem sido a origem da doença psicológica, nas suas diversas expressões e da sua expansão epidémica.

São vidas maquilhadas de rancores arcaicos (que se acham luz), com origens na família.

Estão invalidados os postulados que regem que o indivíduo sobrevive em si. Sem relação não há relatividade e sem relatividade não há consciência de si, não há identificação e não há gente.

Resta o oco esperando ser preenchidos pelo disfarce.

Restam as doenças e os sintomas esperando por maquilhagem.

Levante contra a saliência das posições sociais e institucionalmente privilegiadas, arquitectadas pelas vias das desonestas personagens, formas e contextos, num palco mobilizadas e iluminadas pela focagem do acrítico farol (conveniente e pérfido) apontador. 

Levante o holofote da honesta observação psicossociológica, em convicto detrimento de preocupações das articulações idiossincráticas, interesseiras e figurativas.

Levante odes ao ser e ao trabalho qualificado.

Levante odes contra a incompetência, travestida de úteis contributos e produções.

Levante odes repreensivas, materializadas contra quotidianos e valores dominantes (corrosivos), invasores e parasitas do bem colectivo e do bem individual.

Levante odes contra o fedor a que tresanda a imoralidade e a toxicidade institucionais.

Levante odes luminosas de asserção, de justa, equitativa e livre valorização.

Levante odes à procura de virtuosas alternativas construtivas e maturadoras do desenvolvimento do carácter que se deseja humano e desencruado.

O verdadeiro poder está na sincera origem do altruísmo: é-se através do outro.

Levante denúncias às usuais e falhadas práticas relacionais impensadas (ou pensadas em conveniência do pobre pensamento doméstico), como exemplares códigos pré-estabelecidos de conduta, suportados por acríticos e institucionalizados (obscuros e letais) genes sociais e familiares. 

Levante a generalização através da conceptualização dos personagens e dos meios ambientais, com o cariz de exemplaridade que induz ao equilíbrio e à colectiva satisfação.

Levante aos contextos das odes à criação e actualização de representações mentais, para a construção de um todo e de um si integrados.

Alerte os perigos da passividade e da mansidão, pela denúncia da distorcida e propositada conveniência dirigida aos intuitos individuais, em detrimento da justa e de direito conveniência, centralizada em intentos e benefícios comunitários, gregários e ambientais.

Comemore a nobreza da felicidade substituindo-a pelo flácido e falso entusiasmo momentâneo de uma alegria intoxicada ou de um (comprado) louvor imerecido.

Aluda ao trabalho, sobretudo ao trabalho psicológico do crescimento e da cívica evolução, derrubando os alicerces do defeito (quase crónico) transmitido com a roupagem do altruísmo, da equidade e das boas intenções.

Derrube, igualmente, o que está na convicta certeza do disparate e da instituída falcatrua da errática trajectória existencial e do chico-espertismo.

A origem da corrupção não está, garantidamente, na segurança do amor que dá o prazer do crescimento.

A origem da vocação para a corrupção, está na mágoa das arcaicas feridas psicológicas sem restauro. Está no abandónico e sangrento percurso histórico-psicológico, confirmado pela denegação e pela mentira.

Não há tempo a perder com a falsidade da diplomacia discursiva.

Não há tempo a perder com os hipócritas e patéticos sorrisos.

Não houve (há) nenhuma preocupação de conceptualização diplomática, ou outra, no acto de explorar, de lograr e de roubar, pela parte dos protagonistas.

 Não há tempo para se perder, pagando pelos astronómicos devaneios efectuados e canalizados aos interesses individuais das camadas populares oportunistas, galhistas e favorecidas.

Não há tempo a perder: cada dia que passa é maior a distância do jardim-de-infância e maior a proximidade do lar de terceira idade.

Levante à vida, vivida na dignidade e não na mendicidade.

Levante contra a infecção nacional (a portugalite), para denunciar as doenças da estrutura e do feitio psicossociológicos.

Levante ao apelo à implícita justiça da existência, que não poderá permitir que sejam crucificadas as pessoas alheias aos erros (intencionais ou por incompetência) que se cometeram e aos ilícitos enriquecimentos de outros.

Levante ao desenvolvimento centrado na lealdade e na confiança.

Ode à substituição do marasmo, da estagnação, da pasma mansidão com que se permite a prevalência da mentira, pela sã mobilidade psicológica em iluminar a cegueira institucional, social e familiar que se tem mantido abafada pela própria mortalha.  

Levante contra a vivência do imundo chafurdo social e institucional.

Levante às odes que arrastam em si o poder da liberdade para se experimentar os dourados raios da bela aura da completa existência.

Levante às igualdades, pluralidades e sintonias das liberdades.

Levante contra o poder das doenças dos feitios, das doenças dos carácteres.

Sem as descoloridas dores das lusitânias.

Sem bigodaças…

Sem colares aos peitos…

…nas suas vertentes de argamassa ocupante de vazios ou dolorosas moléstias psíquicas e psicológicas…!

Faz mal às saúdes.

Faz mal às saúdes.

Faz, DEVERAS, mal às saúdes.