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O Objecto e o Individuo: uma identidade

2007
nvundat@gmail.com
Bacharel em Psicologia

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O Objecto e o Individuo: uma identidade

A capacidade biológica de ter um filho e o facto de o ter tido nada revela sobre a capacidade de o criar de forma a fazer dele uma criança feliz e mais tarde um adulto equilibrado, capaz de enfrentar a vida de forma adaptada. O que organiza as verdadeiras dimensões da relação paterno-filial não é a consanguinidade, mas o desempenho efectivo da função parental (Carlos Cardoso, 2007).  

 A cidade de Luanda, é o epicentro desdobrável de escabrosidade, desordens, anarquia, vandalismo, engarrafamentos e cenas caricatas. Por razões de segurança durante o conflito armado, muitas mulheres (na condição de mães) viram-se forçadas a abandonar as suas zonas de origem e instalaram-se na capital do país. Refiro-me a(s) zungueira(s). A estimada irmã(s), filha(s), mulhere(s), amiga(s), musa(s) inspiradora(s) dos poetas contemporâneos, que diariamente percorrem em busca de um futuro prospero numa sociedade onde os valores cívicos e morais passaram a figurar em segundo plano. Carregam nos braços a esperança, nas costas, os seus bebes, crianças, sobrecarregam o início da vida.

I.

O nascimento da ideia de partilhar neste espaço, informações sobre o início da vida humana, obriga-nos a um exercício de reflexão vital, perpassando por vivências do quotidiano e visões que cada indivíduo têm em relação aos tempos e as conquistas, sem esquecer a globalização dos ideais.

Por natureza, o homem vive em comunidade e a criança desde o seu nascimento, é treinada ao convívio social. Em primeira instância, é no seio da família onde aprende ou adquire as primeiras noções, regras que seguidamente irá aplicar quando estiver inserida na colectividade. Na primeira infância, os hábitos se formam mecanicamente, como respostas condicionadas, especificas a determinadas situações e estímulos do meio.

II.

Alguns pesquisadores em Psicologia Evolutiva consideram o verdadeiro inicio da vida humana na fecundação, ou seja, na união dos gametas (o espermatozóide paterno e o ovulo materno). Esse ponto de vista permite sustentar a ideia de que não se trata unicamente de uma simples fecundação, pois elimina a crença sobre as etapas pré-humanas no desenvolvimento.

Por outras palavras, desde o momento que a mulher carrega algo dentro do seu ventre merece atenção especial, respeito e posteriormente algum repouso físico e mental. Isso implica que o cônjuge, pai e posteriormente a sociedade em geral, necessita de tratar este ser com mais complacência e caridade.

Dentro do ventre materno, a vida humana se desenvolve não só em termos anatómicos e fisiológicos, mas também psíquicos. Embora muitos cientistas discordem desta afirmação, por ser inconsciente (a vida psíquica pré-natal). Na época medieval, os homens já faziam referência a vida pré-natal, aos movimentos do feto, à sua alimentação e portanto, à existência da alma.  

III.  

No primeiro mês de gestação existem movimentos reflexos e no terceiro o feto responde globalmente a estímulos internos. No quarto e no quinto mês responde a estímulos da superfície cutânea e a modificações do metabolismo da mãe com movimentos e mudanças de posição. No sexto mês responde globalmente a estímulos externos e, a partir do sétimo mês, reage à luz e à escuridão. Em linhas gerais, podemos assegurar a existência do psiquismo pré-natal, pois se observam antes do nascimento actividades de conduta que supõem desejos, sensações e afectos.  

Paul Osterrieth, afirma que um prematuro de seis meses é capaz não só de sugar e engolir (sucção e deglutição), mas também de reagir a diferentes sabores (doce - salgado) e a estímulos olfactivos. Ao passo que o prematuro de sete meses já diferencia a luz da escuridão e observam-se respostas aos estímulos cutâneos de pressão, de dor e de temperatura, ou seja, uma organização psíquica presente antes do nascimento.    

IV.

 Período embrionário

12- 13 dias

Termina o processo de implantação ou nidação

14 dias

Inicia-se o desenvolvimento placentário

15-20 dias

A placenta desenvolve-se rapidamente. O cordão umbilical passa a ser a via de intercâmbio entre o embrião e a placenta. Inicia-se o desenvolvimento do tubo neural   

21-28 dias

O coração do embrião já está constituído, com suas quatro cavidades, e começa a bater. Começa a funcionar a circulação infante-placenta materna. Todo o sangue umbilical passa pelo lóbulo hepático. Inicia-se a formação dos olhos e orelhas. O embrião tem um comprimento de cerca de 5 mm e cresce em media 1 mm por dia

5 semanas

Esboça-se a coluna vertebral; já é um eixo cartilaginoso. Desenvolvem-se os braços e as pernas  

8 semanas

Termina o período embrionário. O novo ser tem um comprimento de 2,5 a 3 cm e pesa 1g. Os órgãos fundamentais já estão esboçados, excepto os sexuais. Termina o período da organogênese. O embrião adquire as formas características do ser humano e é denominado feto.

V.

O feto humano e a criança, expostas ao sol, chuva, lama, mosquitos, cheiro nauseabundo das ruelas, a correria com os fiscais do governo da provincial, etc, põe em causa não só o vinculo entre a mãe e o bebé durante a gestação e processo de criação. As consequências deste abuso contra o feto humano e a criança podem ser devastadoras.

1 - Danos Físicos -  pequenas cicatrizes até danos cerebrais permanentes e morte

2 - Psicológicas - baixa auto-estima até desordens psíquicas severas,

3 - Cognitivas -  deficiência de atenção e distúrbios de aprendizagem até distúrbios orgânicos cerebrais severos

4 - Comportamentais - dificuldade de relacionamento com colegas até comportamentos suicidas e criminosos, decorrentes de abusos físicos, psicológicos, sexuais e de negligência.

Pode-se racionalmente concluir que o Estado tem o dever prima facie de intervir para proteger crianças de situações seriamente danosas para elas .

Toda a sociedade deve examinar sisudamente a construção do futuro destas crianças (nem vou escrever sobre a mendicidade), pois não está em causa apenas este ou aquele João, mas uma colectividade representativa. A experiência amestra que é preferível para a criança e para a sociedade que as crianças aprendam a lidar com o mundo a partir de uma posição de protecção relativa, que permita garantir prima facie seus direitos específicos, sem impedir o desenvolvimento biopsicossocial, cuja característica principal é o exercício de cidadania, baseado na autonomia com responsabilidade.

Para terminar, permitam-me salientar que a violência, que estão diariamente sujeitas as zungueiras na cidade de Luanda é um problema social e histórico . No domínio da saúde pública, no entanto, apenas nas últimas décadas tem sido objecto de atenção especial, havendo actualmente forte demanda para intervenção naqueles casos considerados moralmente reprováveis

Quando passamos indiferentes ao sofrimento destas mães, quanto elas põem-se a correr a toa com embrulhos na cabeça, nasce o risco de deitarmos a força daqueles que iriam juntamente com os outros, erguer um país de amor, paz e prosperidade.

 

Bibliografia consultada:

NOVELLO, Fernanda. Psicologia Infantil. Ed. Paulinas, 1987  

GRIFFA, Maria Cristina. Chaves para a psicologia do desenvolvimento, tomo 1. Ed. Paulinas/ São Paulo, 2001