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Satisfação no trabalho: realidade ou ilusão?

2011
carolina_careta@hotmail.com
Psicóloga clínica e escritora.

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Satisfação no trabalho: realidade ou ilusão?

Há um provérbio italiano que diz: “Quem faz o que gosta, nunca vai trabalhar na vida!”... Até que ponto esse pensamento é verdadeiro?

De acordo com alguns conceitos podemos chegar a conclusão que o trabalho requer convivência com colegas e superiores, a obediência a regras e políticas organizacionais, o alcance de padrões de desempenho e a aceitação de condições de trabalho geralmente abaixo do ideal. (ROBBINS, 2002).

E a esse idealismo se deve aos obstáculos encontrados no mercado de trabalho quando diz respeito ao ambiente organizacional, incluindo salários, benefícios, treinamentos e o fator mais importante: trabalhar naquilo que o agrada.

Vivemos numa sociedade capitalista, onde o dinheiro é a fonte de sobrevivência e para boa parte das pessoas a causa de sua frustração ocasionando infelicidade. Pois ao longo da vida, “colecionamos” sonhos e metas que exigem sacrifícios e muita paciência na maioria das vezes. Normalmente logo na adolescência queremos obter o sucesso profissional e como conseqüência uma vida confortável, mais especificamente atingir a riqueza. Acredita-se nessa fase que trinta anos já é ser “velho” e até essa idade já é possível atingir esses objetivos.

Com o passar do tempo é percebido que aos trinta anos é que podemos já iniciar ou mesmo desfrutar da colheita que plantamos muitos anos antes ou mesmo muitos sonhos que nunca foram possíveis alcançar. Mas por motivos maiores como casa, família e a própria sobrevivência é necessário continuar trabalhando, mesmo sem motivação. Nos deparamos com a simplicidade de muitos indivíduos que na infância sonharam em serem médicos, mesmo com a realidade escassa que atinge boa parte da população brasileira, na idade adulta ficam felizes em comprar uma caixa de lápis de cor que tanto desejaram nos anos escolares como prova de orgulho e satisfação de um desejo realizado.

É a realidade de uma população que muitas vezes só divulgam o lado de grandes empreendedores como fonte de motivação, mas não se atenta a simplicidade daqueles que também lutam, mas não atingiram as mesmas proporções, como o exemplo citado acima.

Dejours (1987) considera a insatisfação no trabalho como uma das formas fundamentais de sofrimento do trabalhador e relacionada ao conteúdo da tarefa. Tal insatisfação pode ser decorrente de sentimentos de indignidade pela obrigação de realizar uma tarefa desinteressante, de inutilidade de desqualificação, tanto em função de questões salariais como ligadas à valorização do trabalho, em aspectos como responsabilidade, risco ou conhecimentos necessários.

Por essa razão é que as organizações necessitam melhorias significativas no ambiente organizacional. Percebemos que a ARH já é uma progressão de valores, mas na prática nem sempre ela possui a mesma intensidade. É preciso que a população mesmo não desempenhando funções que sonharam, possam ter motivação igualmente, de acordo com a qualidade no trabalho. Isso para o benefício de ambas as partes, pois funcionários motivados é lucratividade para a empresa.

Estudos apontaram que funcionários insatisfeitos relatam mais sintomas físicos, como problemas para dormir e dores estomacais, do que seus companheiros satisfeitos. (SPECTOR, 2005). E assim, verificamos também a correlação entre insatisfação e emoções negativas no trabalho, como os transtornos mais repercutidos na atualidade: depressão, síndrome do pânico, ansiedade, entre outros.

E assim, partindo do pressuposto que passamos a maior parte de nossas vidas trabalhando (No ambiente organizacional), mais do que com a própria família, amigos ou mesmo se divertindo. Chegamos a conclusão que parte dos transtornos atuais podem ser justificados pela satisfação no trabalho, que acarreta a auto-estima.

 

 

BIBLIOGRAFIA

DEJOURS, C. Que sofrimento? In A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez e Oboré, 1987.

ROBBINS, S.P. Comportamento Organizacional. São Paulo, 2002.

SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações. Saraiva: São Paulo, 2005.