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Trauma: o escondido sempre presente

2010
psicologia@paulosobral.com
Licenciado em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP), com especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos. Consultor de Recursos Humanos. Psicólogo clínico, no sector privado.

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Trauma: o escondido sempre presente

 

Um trauma psicológico deriva de uma experiência dolorosa que, por não se suportar ou por se encarar com dificuldade, decide esconder-se à memória.

Há, no entanto, um legado que, sempre que pode, não desaproveita a oportunidade de se manifestar. E aquilo que a mente procura esconder é sistematicamente narrado pelos comportamentos, pelas verbalizações, pela postura e, várias vezes, pela patologia de órgãos e sistemas do corpo humano.

Nos contextos mais nocivos para a sanidade psíquica e somática, importa tornar consciente essa faixa invisível com a qual continuadamente se esbarra. Nesse âmbito, existem condições basilares que contribuem para facilitar uma atmosfera propícia ao trabalho monitorizado e sistemático de desenterro dos monstros adormecidos: Uma atmosfera de confiança e tranquilidade; O relaxamento, psíquico e fisiológico; A recordação das vivências e a reconstrução de significados; A expurga ou catarse; A aceitação; A redefinição de valores e atitudes.

As memórias, incluindo as traumáticas, são subjectivos processos de construção baseados em experiências. Isso explica a razão pela qual, perante um mesmo episódio ou ocorrência, duas ou mais pessoas podem ter recordações diferentes, com dissemelhantes graus de emocionalidade e discrepantes níveis de detalhe lembrado.

Dentro da mesma linha de raciocínio, também se torna claro o porquê de evocarmos de forma diferenciada um determinado evento, à medida que a nossa vida evolui. Por exemplo, um acontecimento da juventude em que parecia que o mundo desabava, na idade adulta pode entender-se como ridículo ou sem importância.

Variados estudos têm demonstrado que os traumas psicológicos não falados ou não partilhados, estão relacionados com a maior incidência de doenças. Já o acto de se falar sobre as dolorosas reminiscências, com interlocutores adequados, diminui a tensão emocional e auxilia a reconstruir a estrutura da personalidade. Ajuda a ter mais tranquilidade para novos projectos e a pacificar as espinhosas experiências vividas.

Quem não se recorda de se sentir aliviado depois de abrir o jogo, ou fazer alguma revelação mais íntima, num contexto de segurança e aceitação? É precisamente esse alívio que liberta o indivíduo e o faz partir para outra. Uma nova vida. Um recomeço com arejadas perspectivas.

 

Paulo Sobral

Paulo Sobral, possui Licenciatura em Psicologia pela Universidade do Porto (FPCEUP), com especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Iniciou a prática profissional na área da Psicologia, conciliando a actividade clínica de âmbito privado, com a de membro de uma equipa multidisciplinar do Centro de Acolhimento Aos Sem Abrigo, em Viana do Castelo, e a de Professor da disciplina de Psicologia da Comunicação no Instituto Multimédia, no Porto, pelo período de 3 anos.
Foi, durante cerca de uma década, Consultor de Recursos Humanos de variadas empresas de dimensão nacional e multinacional, na área do recrutamento, avaliação e selecção de recursos humanos.
Actualmente, desenvolve a actividade de Psicólogo Clínico, no sector privado, em Lisboa e no Porto.

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