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"Uma grande Trumpalhada"

2017
safetydialogues@gmail.com
Psicóloga. Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos

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"Uma grande Trumpalhada"

Assunto do dia em todos os recantos do mundo: Donald Trump.

Trump isto Trump aquilo. Enfim, uma grande Trumpalhada. Uma Trumpalhada que já era prevista. A ilusão de muitas pessoas era acreditar que o Trump seria como outro político qualquer que prometia para ser eleito e, depois, sentadinho na cadeira do poder, dava o dito pelo não dito e, delicadamente, distrairia o povo do rumo da nação. Mas não! Nada disso! Afinal, Donald Trump não é um político e, por isso, está a colocar em prática todas as promessas eleitorais ao seu povo. Devo dizer que neste ponto ganhou a minha admiração. É sem dúvida um homem de ações, não de palavras. O único “senão” prende-se com as ditas promessas e o atropelo a toda a liberdade e respeito para com o outro.

De tempos em tempos, surge um ditador que consegue conquistar um cargo importante e arrasta todo um povo para a ilusão de uma perfeição desmedida criada no desprezo pelos outros. Basta dar uma espreitadela numa Enciclopédia de Historia Mundial para constatarmos esta cíclica verdade.

A humanidade gosta de se iludir num sentido de solidariedade, paz e interajuda. A questão é que estes sentimentos funcionam como as pulsões de vida e de morte. A humanidade manifesta dentro de si duas pulsões contrárias que lutam pela supremacia. Arrisco-me a dizer que, por um lado, queremos ser considerados justos, humanos, e por outro, queremos ser superiores ao outro.

Nós, humanos, estamos constantemente a nos comparar com os outros. Tudo o que o outro tem, também eu pretendo alcançar. Quando a sociedade tem abundância para todos, a paz tem mais probabilidades de se instalar. Mas quando as dificuldades socioeconómicas começam a surgir, quando os empregos começam a faltar, quando o vizinho começa a ter mais do que eu, então a solidariedade e interajuda começa, lentamente, timidamente a transformar-se em acusação, xenofobia e racismo. Começa a Trumpalhada porque as pessoas movidas por sentimentos menos positivos apoiam-se na esperança que o país vai ser despejado de emigrantes e, portanto, vai ter muitos empregos. Mais empregos, mais dinheiro, mais estabilidade.

Temos como um bom exemplo a nossa 2º guerra mundial, onde Hitler destituiu dos seus bens os judeus e outros, enviando-os de seguida para morrer nos campos de concentração. Esta governação, para os alemães apoiados pelo ditador, foi uma época de prosperidade, ainda que tenha sido alicerçada sobre a morte e sofrimento de milhares. Ditadores deste género apoiam-se no medo das pessoas e na esperança de virem a ser exaltados como bons, perfeitos, melhores que outro. 

Não podemos esquecer que ditadores deste género foram eleitos, livremente pelo povo e isso indica muita coisa acerca da nossa humanidade.

O Donald Trump vai continuar, orgulhosamente, a pôr em prática aquilo em que acredita e todos os que se opuserem serão, delicadamente “convidados a sair”. A frase “ Quem não está comigo, esta contra mim” remata bem o estado da nação. Afinal, ele tem “a faca e o queijo na mão” e, com todo esse poder, pouca coisa o vai incomodar.