As directrizes de tratamento da dependência da nicotina incluem, entre as suas recomendações, a realização de um “screening” da comorbilidade psiquiátrica. Uma abordagem holística desta dependência requer considerar-se factores como a acção ansiolítica da nicotina, o papel do hábito de fumar na relação social, o uso do tabaco como mecanismo adaptativo aos agentes de stress e como “automedicação”, etc.

Neste artigo apresenta-se uma breve revisão às bases neuroquímicas e clínicas que sustentam a associação entre perturbações da ansiedade e dependência da nicotina. A acção da nicotina pode ser bimodal dependendo da concentração (ansiolítica/ansiogénica), podendo, mesmo assim, ser diferente em tipos distintos de ansiedade (crónica-generalizada, aguda ou tipo pânico, social), actuando em áreas cerebrais diversas como o hipocampo dorsal, o septo lateral e a amígdala.

A acção ansiolítica seria veiculada através de vários sistemas de neurotransmissão (5-HT, NA, DA, Ach, GABA, Opióide), pelo que seria mais complexa do que a das benzodiazepinas. Por sua vez, os estudos clínicos verificam uma prevalência aumentada de perturbações de ansiedade e depressivos nos fumadores, com maiores níveis de neuroticismo e distúrbios emocionais.

A utilização de escalas autoadministradas de ansiedade e depressão em alguns fumadores com suspeita de comorbilidade psiquiátrica poderia detectar estas alterações, contribuindo assim para melhorar os resultados de alguns tratamentos anti-adictivos.