O factor g é o factor comum, de maior ordem, que pode ser extraído numa
análise factorial hierárquica de uma vasta bateria de testes diversificados
sobre várias capacidades cognitivas. É o constructo psicométrico mais importante
no estudo de diferenças individuais relativas a capacidades cognitivas humanas.
Desde a sua descoberta por Spearman em 1904, o factor g estabeleu-se de forma
tão firme, enquanto importante constructo psicológico em termos de critérios
psicométricos e de análise factorial, que é muito improvável que a investigação
futura nesta área não confirme a validade do constructo de g ou acrescente algo
de novo à sua compreensão. De facto, g, ao contrário de qualquer factor primário
ou de primeira ordem revelado pela análise factorial, não pode ser descrito em
termos de conteúdos de conhecimento de itens de testes cognitivos ou em termos
de competências ou mesmo em termos de processos cognitivos teóricos. Não é na
sua essência uma variável psicológica ou comportamental, mas uma biológica, uma
propriedade do cérebro. Mas embora não seja uma capacidade cognitiva, o g é o
que provoca correlações positivas entre diferenças individuais de performance,
mesmo em tarefas cognitivas que diferem bastante em relação à modalidade
sensório motora, modularidade cerebral e competências cognitivas aprendidas e
conhecimento. O factor g derivado de testes psicométricos convencionais não
verbais apresenta correlações mais elevadas do que quaisquer outros factores
independentes de g com várias medidas de eficiência de processamento de
informação, tais como capacidade de memória de trabalho, tempos de reacção de
escolha e de discriminação e discurso perceptual. Um teste com saturação g é o
melhor preditor da sua hereditabilidade e da sua sensibilidade a determinados
tipos de depressão.
O g psicométrico também possui correlatos biológicos mais directos do que
qualquer outra fonte independente de variância do teste, por exemplo tamanho do
cérebro, potenciais evocados do cérebro, velocidade de condução nervosa e a taxa
de metabólica de glocuse do cérebro durante a actividade cognitiva. O árbitro
definitivo entre várias “teorias de inteligência” devem ser as propriedades
físicas do próprio cérebro. A fronteira actual da investigação sobre o g é o
estudo de aspectos anatómicos e fisiológicos do cérebro que causam o g. A
investigação atingiu o ponto em que o único destino que resta seguir é o
pressagiado pelo próprio Spearman, que escreveu que a compreensão final do g
deve vir do estudo mais profundo e detalhado do cérebro humano nas seus aspectos
puramente físicos e químicos” (1927, p. 403).