Os construtivistas defendem uma visão da terapia mais como promoção de uma
actividade elaboradora/construtora de significado do que correcção de supostas
disfunções ou défices ao nível do pensamento, emoções ou comportamento.
Baseiam-se na premissa de que o ser humano realiza esforços activos para a
compreensão da sua experiência, procurando um propósito e significado
(constructo) para os acontecimentos que o rodeiam. Defendem, assim, a ideia de
que a pessoa cria e constrói activamente a sua realidade pessoal. A construção
de significado acerca da experiência constitui um processo global que implica o
uso de todas as funções humanas.
Propõem também que os sistemas humanos se caracterizam por um desenvolvimento
auto-organizado, que permite a protecção da sua coerência e integridade interna,
e por um movimento de evolução progressiva das suas estruturas de conhecimento.
Deste modo, perspectiva-se que os sujeitos que consideram que o consumo de
drogas poderá implicar limitações ao nível da sua capacidade de
elaboração/construção de significado estarão menos abertos a um percurso
caracterizado pela toxicodependência que aqueles que a entendam cos primeiros
contactos com a droga como algo que lhes permitirá antecipar, de modo
satisfatório, alguns aspectos da sua vida.
Para o construtivismo, a toxicodependência pode, então, ser entendida como
adaptativa, na medida em que poderá contribuir para a construção de alguns
aspectos do sistema de significação do indivíduo, que não seria possível sem o
consumo de drogas ou numa situação de abstinência.
Quando os sujeitos são confrontados com acontecimentos que se encontram fora das
categorias do seu sistema de constructos, poderão surgir sentimentos de
ansiedade que constituirão o principal motor para a mudança, já que o indivíduo
toma consciência de que as suas grelhas de leitura não abrangem todas as
situações que o rodeiam.
Neste âmbito, os construtivistas utilizam, entre outras técnicas, a planificação
e execução de comportamentos pré-estabelecidos, o questionamento de crenças
irrealistas, o treino de novas competências, a auto-monitorização e registo de
hábitos e/ou comportamentos, reformulação do sintoma (que consiste em
perspectivar o problema de um ponto de vista diferente daqueles adoptados pelo
cliente ou pela família, e que se apresenta como essencial para o desenho da
intervenção), dramatização familiar, paradoxo, fluxo de consciência, prescrição
de rituais, confrontação.
Em suma, defendem um ecletismo, podendo ser utilizadas todas as técnicas que se
apresentem como eficazes em termos da reconstrução do passado do cliente e
identificação de novos temas para um futuro mais promissor.