No contexto psicoterápico a criança brinca, verbaliza, desenha, dramatiza e expressa seus sentimentos e problemas. Às vezes, a criança não consegue expressar o que sente porque sua capacidade lúdica está inibida devido à psicopatologia que se manifesta. Para instrumentalizar o acesso à capacidade lúdica os psicólogos podem utilizar a Hora de Jogo Diagnóstica (Woscoboinik et al., 1981), a fim de conhecer a realidade que a criança trazida à consulta apresenta. A metodologia de tal recurso consiste em observar o brincar por meio dos indicadores da hora de jogo. Além deste recurso, a anamnese infantil deve ser levada em conta, pois é por meio dela que os psicólogos têm acesso às informações sobre a criança, o meio em que ela vive, sua história de vida, suas reações passadas e presentes. A hora de jogo permite aos psicólogos prever o curso do caso, fazer os encaminhamentos necessários e principalmente, direcionar a atuação buscando recuperar os aspectos menos preservados da criança, a fim de resgatar o seu desenvolvimento. Deste modo, o presente artigo procurará exemplificar a Hora de Jogo Diagnóstica por meio da apresentação de um caso clínico, de um menino de 9 anos de idade, com capacidade lúdica inibida. Seu desenvolvimento foi interrompido pelo assassinato de sua mãe por meio de seu próprio pai, passando ele então, a residir num orfanato, seguido de um processo de adoção frustrado. Segundo a anamnese infantil e os indicadores da hora de jogo, hipóteses diagnósticas de stress pós-traumático, comportamento agressivo, enurese noturna, dificuldade em manter a atenção e retraimento social foram levantadas, como conseqüência da ruptura do laço familiar, do abandono e da adoção. Em função de tais hipóteses, a criança foi encaminhada em situação de urgência para psicoterapia individual, para que a intervenção clínica pudesse contribuir para a elaboração de suas perdas.