O presente trabalho objetiva ser uma análise crítica sobre as principais inquietações da razão e da emoção na atualidade, no intuito de cartografar alguns de seus modos de designação, a partir do surgimento de novas modalidades de representação e de expressão do sofrimento psíquico, notadamente em função do advento do contexto da saúde mental. Observamos que, por volta dos anos 80, começam a surgir no cenário mundial os primeiros trabalhos que tomam como ponto de reflexão a problemática do individualismo contemporâneo, ao mesmo tempo em que o discurso sobre o sofrimento psíquico passa a impregnar de maneira inédita a vida cotidiana, revelando-se objeto de grande preocupação social e política.

A partir dos anos 90, os trabalhos de Ehrenberg destacam o peso psíquico da obrigatoriedade de ser autônomo, onde o indivíduo se vê portador de uma autonomia que lhe foi concedida, porém nem sempre dispondo dos meios suficientes para fazê-la valer na forma de uma liberdade de produção de si.

Neste novo contexto, a interconexão entre temas sociais e questões mentais parece ser de tal ordem que podemos supor a hipótese do advento de uma nova forma social, o âmbito da saúde mental, que engendra uma nova linguagem e um novo espaço de designação em torno da noção de sofrimento psíquico e que inclui uma perspectiva de análise que contempla a problemática social, uma vez que o campo da saúde  mental  abrange uma proposta de bem-estar subjetivo imperativa numa conjuntura normativa que faz apelo à autonomia dos indivíduos e às suas competências pessoais de decisão e de ação.