O presente artigo tem por objetivo discutir algumas pequenas questões relacionadas à temática de gênero atreladas especificamente ao campo pesqueiro artesanal. Em relação ao reconhecimento e a valorização das práticas sociais é sabido, por quem faz pesquisas em comunidades de pescadores, que atividade pesqueira é intrinsecamente associada aos homens, cabendo às mulheres o auxílio aos seus companheiros. Esse estado de coisas é legitimado por homens e mulheres sob o argumento do ´sempre foi assim´. No entanto, quando algumas mulheres subvertem essa ordem, a discussão no campo teórico e no mundo vivido ganha contornos que escapam para além dessas fronteiras. Em um estudo etnográfico sobre um grupo de mulheres no litoral do nordeste brasileiro que trabalham na pesca, observou-se que em suas situações enunciativas há um processo de hibridização profissional, cultural e econômica. Estas mulheres trabalham lado-a-lado com os homens na pesca, e, ainda, têm a responsabilidade do trabalho domestico e do cuidado com os filhos. Na posição da mulher como profissional da pesca, no momento atual, assiste-se a um intenso debate sobre o conceito de cidadania da mulher no mercado de trabalho já que antes, a mulher do pescador trabalhava com seu companheiro e/ou marido como auxiliar, sem ter o merecido reconhecimento como uma profissional da pesca. No entanto, a realidade histórica mostra que as mulheres sempre contribuíram para auxiliar nos recursos econômicos para ajudar a manter a família. Nas entrevistas, observou-se que as mulheres pescadoras da comunidade de Ipioca ainda executam a maior parte do trabalho doméstico necessário para manter em funcionamento a unidade doméstica familiar.