Ser mãe é essencialmente saber amar. Significa dar afeto, estimar, proteger, cuidar e esta função maternal não se esgota na relação com os filhos biológicos mas pode ser exercida em relação a todas as pessoas com quem assumimos este papel cuidador e afetivo.

Podemos dizer que também na psicoterapia a relação que se estabelece entre o terapeuta e o paciente tem semelhanças com este tipo de relação, na medida em que a principal finalidade do terapeuta é também promover o crescimento e a maturidade emocional do paciente, a descoberta do seu caminho pessoal e a conquista da sua autonomia.

É comum encontrarmos muitas mulheres que se questionam se estarão a ser boas mães e esta acaba por ser uma dúvida que traz consigo alguma dose de angústia e de sofrimento.

O desempenho de vários papéis em simultâneo por parte da mulher, tais como de mãe, esposa, profissional, filha, dona de casa, pode trazer uma pressão psicológica excessiva que acaba por gerar sentimentos de falha e culpa.

Mas ser mãe é antes de mais ser pessoa e ser mulher e como tal importa  a realização pessoal e a busca do prazer noutras esferas da vida que vão para além da maternidade e que contribuem para a mudança, para a auto-descoberta e em última instância para o crescimento contínuo e renovador da mulher. A maternidade será tanto mais vivida na sua plenitude quanto mais feliz e realizada a mãe se sentir noutras áreas da sua vida. O investimento que a mãe faz em si enquanto mulher irá servir de modelo para a criança mais tarde, orientando-a na sua forma de relacionar-se consigo, com  os outros e com o mundo.

Aspirar a ser a super-mulher e a super-mãe lá de casa que tudo faz e tudo resolve não passam de metas inatingíveis condenadas ao fracasso que apenas geram stress e angústia. O bom funcionamento da dinâmica familiar não depende exclusivamente da mãe, mas também do pai, dos próprios filhos e das condições e circunstâncias de vida.

Ideais de perfeição são conceções irrealistas e inimigas do  bem estar emocional, pois resvalam inevitavelmente em situações de frustração e desilusão.

As crianças não precisam de mães perfeitas para as amarem mas sim de mães suficientemente boas, capazes de aceitar e de amar não só as qualidades pessoais mas também as limitações e as fragilidades, ensinando os seus filhos a fazerem o mesmo, sem caírem na auto-crítica permanente.

Por isso não há que ter medo de errar com os filhos, eles não se fazem acompanhar de um manual de instruções ao nascer e como tal a parentalidade é algo que inevitavelmente se aprende ao longo do tempo e que decorre do conhecimento mútuo de mãe e filho e da experiência de vida. As crianças têm o seu próprio temperamento e personalidade, e como tal é natural que ocorram divergências e conflitos ao longo do caminho, que traduzem nada mais que o processo natural de diferenciação dos filhos. Acima de tudo importa uma atitude disponível e atenta  da mãe às reais necessidades emocionais dos filhos e não a padrões idealizados.

Voltando à questão inicial, entendo que ser mãe é viver a braços com paradoxos e inquietações que só o amor incondicional consegue diluir e resolver, transformando a dor dos filhos em serenidade, atribuindo um nome e um sentido ao que parece incompreensível e inominável, validando as aspirações e desejos dos filhos mesmo que não se coadunem com as suas expetativas e libertando-os para a autonomia, por mais que doa o vazio que fica no seu colo.