O conhecimento é concebido por seu conteúdo e pela beleza de suas possibilidades quando em contato com a aprendizagem humana. A sua imagem chega-nos como um bem precioso e inquestionável. E, de fato, havemos de concordar com a proposição de seus valores. Apenas, não envidamos esforços em avaliar a sua presença contextual na história da evolução humana.

Para compreender parte da dinâmica de funcionamento da construção do conhecimento, torna-se relevante estudar o ponto de desenvolvimento em que nos encontramos e o progresso que o antecedeu.

Imaginamo-nos altamente capacitados no reino da razão, e que os avanços tecnológicos atestam esse conceito. Cremos em demasia na superioridade intelectual conquistada e habilmente descrita pela história. E, embora este autoconceito seja simpático do ponto de vista da vaidade e da auto-estima, se observarmos ao nosso redor, na convivência social, encontraremos a negação, em alto grau, dessa proposta.

Vivemos como adultos civilizados e portadores de padrões considerados ótimos mediante o pacto social, conforme bem o descreveu o filósofo inglês Hobbes (2002). Contudo, na prática, agimos como crianças, através de comportamentos birrentos, verificáveis na vaidade egóica de nossas atividades comuns; de trabalho e relacionamento familiar, até as decisões de alta esfera nas cúpulas governamentais: atividades bélicas, conchavos financeiros e outras ações, ditas fundamentais. São máscaras que justificam a prepotência infantil de pouca consciência acerca do desenvolvimento. É claro que nos mantemos na rota da evolução, mas a questão é: Em que velocidade? Não me refiro a uma corrida sem precedentes, mas a uma acomodação conveniente, como a do personagem Peter Pan, quando se refere ao fato de ter de crescer, demonstrando revolta e conseguindo manter-se infantilizado na Terra do Nunca.

Contextualizar o homem no modelo de ciência que temos pode dar amostras de que há um jogo constante de interesses, no qual, vale os fins, sem se ater muito aos meios que os compõem, ou seja, as preocupações quanto a pesquisas feitas para se obter títulos e ocupações de fama e prestígio em detrimento de trabalhos relevantes, reduzem a progressão evolutiva do conhecimento. O que importa é manter-se no pódio, independendo se a corrida trará benefícios.

Outra forma clara de compreender este conceito são os milhares de livros publicados anualmente, dos quais, pequena porcentagem é capaz de acrescentar valores e pontos produtivos para quem os lê, excluindo o fato de melhorar o cabedal de palavras, quando o fazem!

Ressalto que não podemos fugir da metodologia, mas de seu exagerado rigor sim. Conforme Alves (1984), fazer ciência pela ciência é mero exercício, sem levar em conta o seu uso para fins, cuja finalidade seja resolver questões humanas de importância, tais como a miséria.

Como faremos ciência? Instrumento vital para o desdobrar das nossas questões mais fundamentais. Neste período ainda infantilizado, faremos como quem quer um prêmio no final, e poucos estarão destituídos deste desejo que, segundo Fadiman (1986), provêm do id freudiano, e é residente no imenso oceano inconsciente, nossa maior porção mental.

Outra questão vem a ser o desejo de nos manter presos ao modelo social de convivência. Contudo, nos falta maior compreensão sobre a nossa vida interior. Pouco estudamos e compreendemos a respeito dos conflitos existenciais pelos quais passamos continuamente e deles podemos extrair excelentes lições de amadurecimento. Quando nos conhecemos melhor encontramos facilidade em entender o outro, e, conseqüentemente, as relações humanas.

Como verdadeiros adultos e educadores sérios, entenderemos que as transformações trazem consigo dor e ansiedade, com as quais temos que lidar. Diferentemente das crianças, que preferem fugir ou tardar a sua experiência ante a possibilidade do menor desprazer.

Não é possível a mudança e a evolução sem o caos, que em seguida se reestrutura, dando ordem novamente, para logo depois caotizar e transformar, num ciclo espiral ininterrupto. Disse-nos Jesus em passagem com seus discípulos: “Não vim trazer a paz, mas a espada”. Não encontrei homem mais sensível e brilhante até então. Pregador do amor ao próximo, mais por comportamento do que por palavras. Seria sua frase uma contradição? A vida é uma contradição, desde que compreendida como um benefício que proporciona progressão e desenvolvimento.

Empreender a função de educador tem esta vasta responsabilidade. Transformar a sociedade é uma meta audaciosa que precisa ser cumprida pelos objetivos de melhoria na qualidade de vida.

Por mais que coloquemos nossas questões e interesses na construção do conhecimento, tornando-o, em certa medida, parcial, cabe dobrar os esforços para reduzir a interferência. Talvez, neste caso, a velocidade para o desenvolvimento tenha um ritmo adequado respeitando cada pessoa. Todavia, devemos cobrar e extrair do ser humano a sua participação na ordem da evolução, propiciando espaço para o seu desenvolvimento criativo.

Ao incorporarmos a prática do pensamento crítico, da abertura para a criatividade e maior aceitação das diferenças entre as pessoas, podemos, pouco a pouco, crescer e trazer o novo adulto a participar das transformações necessárias. Recorro a Wheatley (1999), quando propõem que: “Vivemos numa sociedade que acredita poder definir o que é normal e então julgar tudo com base nesse padrão fictício. Empenhamo-nos em nivelar as diferenças, em ajustar tudo aos padrões, em definir parâmetros. Porém, na vida, o novo só pode aparecer como diferença. Se não estamos procurando diferenças, não podemos ver que tudo mudou e, em conseqüência, não temos condições de reagir a isso”. Veja o quanto perdemos com nossa forma cega em encarar o dinamismo da vida.

Temos essa realidade acerca da construção do conhecimento para administrar, levantando importante reflexão às instituições de ensino, as quais, são cruciais para a formação do ser humano. É tarefa árdua e carece de muita vontade e empenho. O educador tem a responsabilidade de proporcionar aos alunos a discussão sobre a limitação com a qual convivemos.

Afinal, o que queremos para nós? E em que velocidade?

 

Referências Bibliográficas

ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez Editora, 1984.

FADIMAN, James. Teorias da personalidade. São Paulo: Editora Harbra, 1986.

HOBBES, Tomas. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Sumaré: Martin Claret, 2002.

WHEATLEY, Margareth J. Liderança e a nova ciência. São Paulo: Editora Pensamento-Cultrix, 1999.