Conforme Michaelis (2000), poder significa: 1 Ter a faculdade ou a possibilidade de. 2 Ter autoridade, domínio ou influência para. Ainda, 1 Autoridade. 2 Império, soberania. 3 Posse, domínio. 4 Governo de um Estado. 5 Meios, recursos. E, poderoso, quer dizer 1 Que tem poder ou exerce o mando. 2 Que tem poder físico ou moral.

A julgar pela variedade de palavras que significam poder, é possível distribuir, em escala, as suas formas existentes. Ao imaginar uma formação vertical ascendente, encontra-se o poder impositivo; violento. Em outro extremo, a influência. Nesta variação compreende-se a limitação ou a magnitude que alcança o poder. Quem exerce o grau de poder encontrado na escala variável é o ser humano. A sua personalidade determina, em boa parte, o tipo de poder a ser empregado.

Os termos autoridade, domínio e soberania variam de acordo com a escala. Eles não querem dizer, taxativamente, que seja uma coisa ou outra. Apenas o exprimem de acordo com a situação.

O poder é um instrumento a serviço do desenvolvimento humano. Tal é a busca constante por ele. O que falta, bem sabemos, é a consciência a respeito. Então, variará o caráter individual com relação ao seu emprego. Isto é confirmado em Siqueira (2003), quando declara: “imaginamo-nos altamente capacitados no reino da razão (...) embora este autoconceito seja simpático do ponto de vista da vaidade e da auto-estima, se observarmos ao nosso redor, na convivência social, encontraremos a negação, em alto grau, dessa proposta”. É bom lembrar que a nossa enorme imperfeição poderá, oportunamente, nos encaminhar a comportamentos de abuso do poder quando as circunstâncias assim demandarem.

A evolução transporta o ser humano a condições, cada vez mais elevadas, de manifestar o poder, elemento inerente ao seu crescimento. Na história, líderes, em sua maioria, exerceram domínio de forma atroz. Outros empregaram a sutil influência quando dominaram, de acordo com Michaelis (2000) 1 Conter-se, vencer as próprias paixões. 2 Estar bem por cima de. Um grupo de pessoas. Fosse um pequeno clã ou um império.

Tendo em vista estes conceitos sobre poder e liderança, lançaremos, então, nossa atenção para alguns líderes que utilizaram o ato de influir sobre os seus seguidores. Numa breve investigação, observam-se semelhanças e congruência na forma de pensar e agir, tal como em Thoreau, Gandhi e Luther King.

Em 1948, quando tinha dezenove anos, Martin Luther King (1929-1968), foi ordenado pastor batista. Em seguida cursou pós-graduação em Boston. Seus estudos o levaram a se aproximar das idéias daquele que o influenciaria: o indu Mohandas K. Gandhi (1869-1948). A tônica que permeava a forma de ser de ambos estava centrada nas ações sociais não-violentas. Movimentos pacíficos que atingissem resultados sem qualquer intervenção violenta. Os protestos tinham grande vulto, tal como em Gandhi, pela independência da Índia, cuja dominação inglesa tornava a vida do povo bastante explorada.

Luther King, por exemplo, conseguiu da justiça, a proibição da segregação em transportes públicos. As suas manifestações ganharam vulto crescente. Porém, as atuações pacíficas provocaram o triste fim àquele que era averso a violência. Não obstante, possibilitou mudanças fundamentais relacionadas às questões raciais. Alguns dias após o assassinato de King, o presidente Lyndon Johnson assina uma lei acabando com a discriminação social nos Estados Unidos.

Cabe ressaltar que os dois grandes líderes foram influenciados por um terceiro homem: Henry David Thoreau (1817-1862), filósofo, escritor e naturalista. Thoreau chegou a permanecer preso por uma noite, em lugar de pagar os impostos a um tipo de governo que admitia a escravidão. Esta atitude ficou conhecida como resistência passiva, transportada para seu ensaio “Desobediência Civil”.

Nos movimentos realizados por Gandhi e King havia muitos seguidores. Ainda que soubessem dos perigos que os rondava. Afinal, o que existiu nestes líderes, a ponto de mover tantas pessoas a favor de suas ações, apesar das dificuldades? Encontra-se nos dois os símbolos de liberdade e justiça. É nesse ponto que a reflexão deve ganhar espaço e ponderar sobre liderança e poder.

No desenvolvimento humano encontramos algumas concepções a respeito das etapas evolutivas do homem. Como descrito em Hobbes (2002), há o aspecto natural e a necessidade do controle para uma convivência social (Estado). Entretanto, existe, também, uma essência que o favorece quanto aos pensamentos e atos relacionados à justiça e o bem da espécie.

Aquino (1996) afirma que a ordem moral, pois, não depende da vontade arbitrária de Deus, e sim da necessidade racional da divina essência. Isto é, a ordem moral é imanente, essencial. Inseparável da natureza humana, que é uma determinada imagem da essência divina, que Deus quis realizar no mundo. Desta sorte, agir moralmente significa agir racionalmente, em harmonia com a natureza racional e própria do homem.

Ao estudarmos a personalidade de Gandhi e Luther King, encontraremos, não apenas essa essência virtuosa presente, mas, o poder de influenciar seus seguidores por meio da razão paciente. Parece, existir uma influência ainda anterior aos pensadores aqui descritos. Encontra-se em Gálatas 5:13 “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros”. Vemos ai a sabedoria de um tipo de liderança que age estimulando parte de nosso ser em potencial. É um convite ao desenvolvimento de certas capacidades presentes na espiral da evolução humana bem observadas por Tomas de Aquino, apesar do poder usado no controle social descrito em Thomas Hobbes.

Como se não bastasse tal poder, os dois líderes tinham algo que fortalecia as relações com aqueles que os seguiam: a consistência e firmeza dos propósitos. A expressão clara dos valores internos, da visão e missão contidas em seus comportamentos. Em suma, o exemplo vivo do que se acredita, se pleiteia e mantêm-se firme a eles, somada à motivação que se estabelece em cada pessoa que integra o movimento de idéias e ações, no caso deles, pacíficas. Uma combinação de sucesso.

O educador-líder que vê no conhecimento a chance de tornar o educando um ser livre em sua construção de conhecimento, demonstra servir com sabedoria. Aquele que estimula o seu próximo a refletir sobre o conhecimento e a liberdade realiza um trabalho de grande alcance. Respeita as características individuais do aluno. A sua postura é bem clara quanto aos valores que defende e expressa a respeito do desenvolvimento e autonomia. Gera o crescimento e mantém a limitação distante. É a favor da liberdade. Repele o cerceamento.

Quem educa com o propósito de ajudar o ser humano a criar a própria chave da libertação é digno de servir como mestre. Gandhi, Luther King e outros líderes pacíficos trouxeram ao mundo o sabor da conquista sem a imposição que limita. Ao contrário, evidenciaram a existência de um tipo de poder possível na liderança, através de servir o outro. Esta serventia age por meio de formas mais brandas para o exercício da expressão humana. E este modelo de liderança resulta em possibilidade de se atingir objetivos. Sejam da grandeza que for, e, sobretudo, gerar liberdade, nas suas variadas formas.

 

Referências

AQUINO, Tomás. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

HOBBES, Tomas. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Sumaré: Martin Claret, 2002.

MICHAELIS: minidicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 2000.

SIQUEIRA, Armando Correa Neto. A função do educador frente à construção do conhecimento científico. Internet, disponível em: www.psicopedagogia.com.br. Acesso em 27/10/03.