A motivação tem sido alvo de muitas discussões. No campo clínico, quando se estudam as doenças como a depressão e o Transtorno Afetivo Bipolar (oscilação entre a depressão e a euforia). Na educação, voltada para os processos de aprendizagem. Na vida religiosa, quando se tenta compreender o que motiva alguém a ter fé numa determinada crença. E, nas organizações, buscando obter um maior rendimento dos profissionais que formam o quadro de uma corporação.

Algumas explicações relativas à motivação apresentam-se sob reflexões filosóficas, como a concentração de nossa existência no momento presente, desprendendo-se, grosso modo, das idéias passadas e do porvir, que roubam as energias, além de causar frustração mediante a sensação de baixa realização na vida.

Com base em outras proposições é possível compreender a motivação como resultado da busca pela satisfação das necessidades e desejos naturais do ser humano. Tal fato mobiliza a pessoa a agir, com determinado empenho, na busca de atingir os objetivos pessoais.

Sob outra ótica, o ser humano carrega consigo variadas potencialidades, que, em contato com o meio adequado, desencadeiam o desejo em realizar ou empreender. A motivação é acionada através desta combinação entre a predisposição e a adequação do meio em que se vive.

Deve-se, ainda, lembrar o fato de a motivação estar associada a fatores orgânicos, em cuja fisiologia, a função química determina os resultados. E, também, os aspectos de ordem psíquica e social, que podem causar efeitos motivacionais ou não. Ou ainda, o equilíbrio entre ambas as esferas.

Estudos sobre a motivação definiram algumas teorias e estabeleceram métodos para o campo da aprendizagem. O Comportamentalismo dá ênfase no controle educacional, referindo-se ao tipo de reforço que se dá para uma pessoa. Oferecer algo interessante como resposta a um comportamento adequado é capaz de motivar, mantendo inclusive, a freqüência deste mesmo comportamento.

De outro lado, há contestação sobre o Comportamentalismo, definindo-o como um método limitador, tendo em vista uma resposta comportamental que ocorre apenas mediante uma proposta de reforço. Portanto, defende-se a idéia de estimular o ser humano de forma intrínseca, ou seja, de dentro para fora. Desta forma, não se cria a limitação imposta por reforços externos.

Em breve reflexão pode-se perceber a importância de todos os pontos de vista, uma vez que a motivação deve ser espontânea. Por outro lado, o ser humano, de um modo geral, necessita de um estímulo externo para sentir-se motivado. O equilíbrio entre a motivação interna e externa deve ser a base na educação infantil e na reeducação do adulto.

Em suma, a complexidade existente na motivação, encontrada na realização do viver com maior intensidade no momento presente, a satisfação das necessidades e desejos naturais, a adequação ao meio em que se vive, as condições orgânicas, a educação e os fatores psíquicos, determina a quantidade e a qualidade em se empreender qualquer tipo de tarefa pelo ser humano.

Portanto, ao considerar a motivação, faz-se necessária uma profunda reflexão acerca de suas bases, e não são poucas, e, ainda são, em sua maioria, estruturas potentes e enraizadas.

A motivação determina o fazer, tornando-se o elemento chave para os resultados de várias propostas de vida, e, em particular, a obtenção da qualidade nos programas de excelência que muitas organizações objetivam introduzir, e, ainda mais difícil, conseguir a sua manutenção.

As técnicas de um programa de Qualidade Total são claras, e, teoricamente, são estimulantes, prometendo melhorias de várias ordens. Contudo, na prática, funcionam a partir do comprometimento das pessoas, ou seja, da motivação que deve permear o programa.

Comprometer-se com a qualidade nos processos produtivos depende do grau de motivação que está presente ao se praticar, de dentro para fora, intrinsecamente.

O que leva o ser humano a se motivar, voltando o seu foco para a busca da qualidade? De que maneira o comprometimento ocorre nas pessoas?

Se as organizações considerarem apenas a obrigação e a obediência de seus colaboradores, as técnicas e procedimentos da norma ISO 9001:2000 e seus termos internos, ainda que haja boa vontade por parte da direção, poderá ocorrer enorme dificuldade em fazer funcionar a implementação ou a manutenção de um programa de Qualidade Total. Faltará o essencial, pertinente ao recurso humano: a motivação. Ela não consegue ser acionada apenas pelo vislumbramento das possibilidades futuras, ainda que algumas ocorram em curto prazo.

Cada vez mais, percebe-se o surgimento de uma nova necessidade na vida organizacional: levar-se em conta os aspectos sutis do capital humano. O lado sutil dos colaboradores. A sua singularidade, sem perder de vista o comunitário. As suas emoções, aliadas à inteligência racional. A sua forma de aprender, em parceria com os demais de convivência. A integração que gera sinergia e motivação.

Os novos tempos demandam mudanças na gestão das pessoas. Novos conceitos como a visão holística, deve fazer parte da cultura organizacional, e não apenas como um instrumento a serviço de necessidades específicas. O ser humano precisa encontrar o seu verdadeiro espaço na dimensão profissional. Ele deve sentir a sensação de pertencimento no todo, e não uma peça que compõem a máquina. Para tanto, a liderança deve se preparar para servir, e não apenas ser servida. Os líderes e não somente chefes, localizados estrategicamente, são fundamentais neste processo. Eles atuam como facilitadores, que percebem as individualidades de seus seguidores, canalizando-as em prol da equipe, que por sua vez, dirige a sua energia partilhada para o todo da organização.

Nesta perspectiva, as pessoas percebem-se ouvidas e compreendidas, alargando o canal de comunicação, fator resultante do respeito e da motivação que se instala naturalmente neste tipo de relação humana. A forma de aprender e assimilar as mudanças, incluindo-se os programas de qualidade, torna-se parte da cultura da organização, a qual, sofre as transformações necessárias, com menor dificuldade, além de gerar possibilidades de maior êxito. Estimula-se o desenvolvimento motivacional contando com a força intrínseca e extrínseca. Percebe-se o corpo e a alma das pessoas. A sua totalidade é bem vinda na vida profissional.

Nota-se que os aspectos sutis, sendo observados e respeitados, são a base para uma nova compreensão acerca de si mesmo e sobre o todo. A qualidade de vida desenvolvida nas questões mais simples, e de baixíssimo custo financeiro podem formar a estrutura que se tornará o terreno fértil para a geração de um programa de Qualidade Total. Será, então, um processo natural, que faz parte do jeito de se sentir internamente de cada colaborador. Encontra-se a coerência: qualidade interna, motivadora da qualidade externa.

De um modo geral, expressamos externamente o que somos por dentro, na essência. Podemos até disfarçar em alguns casos. Todavia, acabamos por demonstrar o que sentimos e pensamos. Nos influenciamos pela vida interior e a representamos externamente. E, também, nos “alimentamos” do mundo externo, o qual também exerce ascendência no mundo interno.

Por todos estas razões, oferece-se ao ser humano o que o termo motivação tem de essência: motivos ou causas; determinação para a conduta de um indivíduo. Tais elementos, se considerados no todo de cada pessoa, torna-se um hábito, que servirá de modelo para todos os projetos que venham a se apresentar no cotidiano. Um paradigma mais adequado.

Motivação, ainda que complexa, é inerente ao ser humano, devendo ser cultivada por uma compreensão profunda a respeito das características naturais de existência. O seu desenvolvimento é básico para que as mudanças encontrem abrigo consciente e legítimo.

A qualidade é desejada a medida em que a motivação, decorrente dos resultados combinados em sua base, venha de dentro para fora e se harmonize com qualquer regra ou conduta externa, que servirá, apenas como orientadora para algum processo, nada mais do que isso. São a mente e o coração que determinam a vontade de realizar algo, e, não, pelo menos na essência, a norma escrita e a imposição que o fazem.

Motivar para a qualidade, portanto, está na base do ser humano, na sua essência. Naturalmente, e em combinação com objetivos comuns, é possível haver espaço para novos projetos, além de assegurar eficácia nos resultados.

A motivação para o comprometimento das pessoas a um programa de Qualidade Total encontra-se mais no fundo do que na forma. Ela é viva e não apenas palavra morta.