Os treinamentos são percebidos, de um modo geral, pelos colaboradores que deles participam, a partir de diferentes pontos de vista, tais como um benefício incorporado aos ganhos existentes na organização, como salário, alimentação, saúde, etc. Outra forma de encarar os treinamentos está relacionada ao desenvolvimento, levando a uma motivação intrínseca do colaborador, visto ser detectada uma oportunidade de crescimento, com variáveis que tendem para valores pessoais ou profissionais, ou ambas. É possível ainda, que os treinamentos sejam interpretados como uma obrigação, e em muitos casos, até penosa. Outra percepção a respeito sinaliza uma função comum, simplesmente formadora e/ou que objetive a atualização permanente de assuntos técnicos ou de temas gerais.

Com estas possibilidades apresentadas, encontramos situações que dificultam e outras que facilitam a aprendizagem necessária às pessoas de determinada empresa.

É possível que alguns colaboradores mudem a sua posição de resistência para uma melhor aceitação de algum treinamento, a medida em que vão tomando conhecimento do assunto abordado, da identificação para com o instrutor responsável, dos recursos utilizados durante as apresentações ou vivências, da sintonia e atmosfera que vai se estabelecendo entre os participantes ao longo do evento, etc. Todavia, isto não é fato comum, haja vista a cristalização de idéias pelas quais um colaborador mantém-se na postura contrária. Temos então, um ou mais participantes que não estarão disponíveis e conseqüentemente, pouco proveito tirarão de algum treinamento.

Há outro fator, intimamente ligado ao aproveitamento de um evento, que variará em cada participante, conforme o seu estado de espírito - e cada pessoa vem ao trabalho de um jeito muito peculiar, dada as circunstâncias - podendo estar bem ou não, variando em graus neste intervalo de sensações.

Devemos levar em conta os horários em que os treinamentos ocorrem, podendo ser logo no início da manhã ou no restante do dia, além da carga horária a ser ocupada, a exemplo de cursos que tomam o dia inteiro, e até por vários dias.

Existe uma identificação de temas para cada participante, podendo viabilizar a aprendizagem, quando do interesse próprio ir de encontro com o assunto ou reduzir a cota de estar disponível caso haja pouca sintonia com ele. E há, também, casos em que a pessoa se motiva por um assunto novo.

São muitas as variáveis presentes no eixo aprendiz-conhecimento, e sempre foi motivo de muitos estudos, principalmente das áreas de psicologia e pedagogia. Teorias foram elaboradas a partir da observância e reflexões. Métodos e modelos educacionais foram propostos e testados em escolas, instituições e no convívio familiar. Contudo, resultou que cada pessoa aprende de uma maneira diferente, encontrando certa identificação com uma proposta educativa ou outra.

Apesar desta forma particularizada de se aprender, do ponto de vista da aprendizagem, tornou-se claro que o ser humano possui habilidades universais, a exemplo de ser flexível e adaptativo aos modelos que foram criados, e isto abre nova linha de raciocínio para pensarmos acerca de outro fator: a pré-paração ou introdução que antecipa alguma tentativa de aprendizagem. Em outras palavras, o tempo que antecede algum treinamento, ser utilizado para gerar uma melhor condição de disponibilidade nos participantes, levando em conta, que qualquer evento preparatório desta natureza, deverá ser comum a todos, pois só assim será possível aumentar a motivação e o número de pessoas interessadas em aprender algo.

Na prática de treinamento existem dinâmicas de grupos que funcionam com esta finalidade de preparar as pessoas para algum curso ou uma palestra com algum tipo de aquecimento, seja ele de apresentação entre os membros do evento, seja em vivenciar algo mais prático, que facilitará a compreensão do assunto a ser explanado. E estas técnicas funcionam favoravelmente, porém, é preciso mais. Muitas vezes, alguns colaboradores realizam estes exercícios, com pouco estímulo, conforme a sua condição psíquica naquele momento. Alguns chegam a levantar a sua auto-estima e seguem bem, explorando melhor os conteúdos que serão apresentados posteriormente.

É aqui que entra um elemento novo que seja também colaborador neste intuito de predispor os colaboradores a ingressar num treinamento, com sensações equilibradas e até com um bom grau de otimismo e motivação.

Através da prática da arte é possível gerar um bem estar, criar maior espaço interno disponível, além de envolver os participantes numa aura de unidade, viabilizando a sinergia grupal. Falando mais especificamente, a nossa ferramenta complementar é a música, ou melhor, o canto.

Utilizando a expressão: "Quem canta seus males espanta", ilustraremos bem, ricas experiências obtidas no setor de Treinamento de uma indústria alimentícia para qual trabalho.

Quando introduzimos o programa de videokê, antes de iniciar cada atividade diária de nosso curso para os colaboradores da fábrica - com duração de cinco meses, sendo uma hora por dia - a proposta era a de atrair as pessoas a chegarem alguns minutos antes, a fim de cumprirmos o cronograma estabelecido. Visávamos a pontualidade, mas, ganhamos outro item: o aquecimento, que gerou maior participação durante as palestras e os exercícios, haja vista que uma hora é pouco para ser bem aproveitada em sua totalidade, mas era o tempo que dispúnhamos.

Já contentes com o objetivo (superado em alto grau!), percebemos novas e melhores situações. A qualidade na disposição em aprender aumentou nos participantes, que encontravam na sala de treinamento, uma atmosfera alegre e contagiante, ainda para aqueles que chegavam cabisbaixos; unidade no grupo, aumentando a sensação de pertencimento; expressão pessoal, e, por que não, artística, na forma de comunicação melódica; bom humor; tempo para relaxar, de verdade; estreitamento nas relações entre colegas e com o pessoal de chefia; espaço para o desenvolvimento da criatividade, da memória, da percepção, atenção e concentração, além de boa e divertida música, é claro.

O show tem duração de apenas vinte minutos, mas é o suficiente para ativar cada átomo do bem estar humano, tornando-o mais leve e aberto a novas situações, predispondo-o a abrir as portas de entrada do saber e ainda, compartilhar coisas pessoais com o outro.

Num ambiente em que a expressão encontra fluxo e a comunidade ganha maior força em seu relacionamento, encontramos, em boa parte, um antídoto para combater a individualidade e a obstrução em expressarmos quem somos, condições fundamentais de nossa espécie, porém, ausentes em larga escala, no convívio social contemporâneo.

Uma atitude simples como a de utilizar o videokê nos treinamentos fez uma diferença e tanto. Contudo, no início, ocorreu pensar que a direção da empresa talvez não compreendesse tal estratégia, uma vez que havia sido implantada de forma intuitiva e não baseada em critérios metodológicos; estes, cabíveis de serem estudados e então, passíveis de se tornar literatura pertinente.

Outra situação percebida foi a de que havíamos instituído um ritual, elemento que praticamente abolimos de nossas vidas para muitas coisas. O tempo que utilizamos para as nossas atividades diárias, profissionais e pessoais reduziu a possibilidade de rituais entre uma coisa e outra. A importância de um ritual, ainda que de curta duração, a exemplo do nosso momento artístico com o videokê, prova e dá crédito a este fenômeno.

Velhas condições como a dos rituais, somadas a inovações e recursos tecnológicos, com uma pitada de criatividade, propiciam mais motivação e participação de corpo e alma das pessoas, que têm muito a dizer, aprender e cantar.