Consumidor exagerado: Santo ou pecador?
Nenhum nem outro, pode ser doença!

Os bens supérfluos tornam a vida supérflua.
P.P.Pasolini (escritor italiano, 1922-1975)

Você não consegue passar uma semana sem fazer alguma “comprinha”? Se não pode comprar sofre por isso? Se uma pessoa não precisa de um produto e independentemente disso dá um jeito de adquiri-lo, ela pode estar sofrendo de uma doença chamada de Oniomania. Quem apresenta o distúrbio na maioria das vezes não precisa do objeto adquirido, simplesmente é guiado pelo impulso da compra e não é o objeto comprado que lhe dá prazer e sim o ato da compra. Assim, o compulsivo deixa de ser um consumidor e torna-se um dependente como outro qualquer, seja de álcool, drogas ou de cigarros. O problema tomou proporções tão alarmantes que já foi estruturado o grupo de DA (devedores anônimos), tal qual o dos alcoólatras anônimos. O trabalho tem como foco a auto-ajuda e a partilha do problema vivenciado pelo grupo.

Segundo informações da Associação Americana de Psiquiatria, 1,1% da população mundial tem compulsão por comprar, no Brasil estima-se que 3% da população sofra com a doença. Uma pesquisa da empresa de recuperação de crédito Grupo Unido revelou que 10,6% dos consumidores brasileiros gastam mais do que podem, tornando-se inadimplentes. Segundo dados da Associação Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif), 30% dos trabalhadores tornam-se endividados justamente em função de gastos com supérfluos. Embora ainda não existam pesquisas conclusivas no Brasil, percebo que em média, de cada 10 pacientes que atendo em consultório pelo menos dois apresentam traços característicos de oniomania. Analise as características abaixo e veja se você tem motivos para se preocupar com o seu comportamento:

O oniomaníaco desenvolve sérios problemas psicológicos, pessoais e profissionais e, como qualquer outro dependente, tem uma enorme dificuldade em assumir o seu vício. Para agravar a situação, a família e os amigos também são atingidos indiretamente pois a pessoa vive endividada, muitas vezes coloca o patrimônio da família em risco, convive com o cheque especial como se ele fizesse parte do orçamento e se afunda em dívidas no cartão de crédito. Já atendi pacientes que tinham mais de trinta cartões e deviam para todos, outros que em uma “pequena visita” ao shopping compraram mais de 20 pares de sapatos.

É preciso estar atento pois a doença inicia de forma inofensiva, com gastos desnecessários como esquecimentos de devoluções de filmes na locadora, presentes fora de hora, alguns mimos pessoais como roupas de marca e jantares que extrapolam a renda familiar. Esse comportamento pode refletir um estado depressivo, de baixa auto-estima, carência ou de falta de maturidade, onde a compra entra como uma muleta, uma resposta para um problema mal resolvido. Quem sofre de oniomania necessita de tratamento psicológico e muitas vezes também de tratamento médico. Se você acha isso uma bobagem, saiba que muitos divórcios ocorrem devido a essa patologia e muitos profissionais não são contratados por estarem com o nome no Serasa. Portanto, fique de olho nos ‘pecadinhos’ de cada dia.

Até a próxima semana.