Por conta da minha profissão, recebo diariamente os mais variados tipos de pessoas com os mais diversos tipos de problemas na vida. Mas, chama atenção o fato de todos eles, independente do problema que trazem, apresentarem uma característica comum: a total desesperança aliada a um autodesprezo suicida por terem falhado na missão de viverem vidas que não lhes pertencem.

Dessa forma, atendo mães que sofrem por que os filhos não vivem a vida que elas querem que eles vivam e não são o que elas querem que eles sejam de acordo com os sonhos sonhados por elas e conforme os seus projetos cuidadosamente planejados e, portanto, passam pela vida em busca de penitências por não terem acertado como mães.

Recebo esposas de maridos traidores que querem descobrir razões para as suas falhas como esposas que permitiram aos amados o famoso “pular a cerca”.

Converso com pais desesperados de filhos drogados que querem saber onde eles erraram na criação dos queridos pimpolhos e tantas coisas mais.

E aí, eis a grande surpresa: mesmo depois de saberem que eles, na grande maioria dos casos, não são culpados pelas escolhas dos outros (por mais amor que eles tenham e por mais que eles queiram tal responsabilidade é esta a mais pura verdade), portanto, que não precisam arrastar durante a vida inteira, fardos que não são seus, os mesmos não conseguem realizar duas coisas importantíssimas para quem deseja ter uma saúde mental equilibrada por puro egoísmo, mas que nós, falsamente, chamamos de amor.

Em primeiro lugar, eles não conseguem se desvincular das coisas que passaram e vivem como eternos arqueólogos deles próprios, desenterrando fatos que não podem mais ser mudados e, pior, lamentando e chorando por coisas que eles não fizeram ou fizeram, mas que as consequências lhes causaram arrependimento.

E, em segundo lugar e em decorrência dessa primeira atitude, eles passam a viver em função das coisas que não são, que não foram e que não serão, já que o que passou já passou exatamente da maneira como foi e nada mais pode ser feito e pronto.

A consequência direta e ferozmente doentia desse estilo de vida é uma vida marcada profundamente pela amargura, ansiedade, depressão e angústia e essas pessoas quando doentes, são caracterizadas pela extrema habilidade de só perceberem o lado ruim das coisas e das pessoas, pelo hábito de, com raríssimas exceções, só abrirem a boca para reclamar, criticar, julgar e murmurar, de serem eternamente indecisas e de permanecerem vivas por absoluta falta de opção (já que a única alternativa a essa condição é o suicídio e nem todos tem a coragem e a nobreza que tal ato requer) acreditando que viver é um tormento e que tudo e todos conspiram contra ela.

Pois bem, para tais pessoas e para todas as demais, faz-se necessário dizer que o maior desafio do homem é convencer-se de que a vida vale a pena com tudo o que ela tem de bom e de ruim e que o homem nasceu programado para ser feliz não, apesar de tudo, mas por causa de tudo o que nos agrada e, principalmente, nos desagrada. Depois disso tudo fica mais fácil.

Dessa forma, precisamos entender que, se vivermos como um fraco, as pessoas vão nos proteger, porque esta é a nossa maneira de chamar atenção. Se vivermos como um indeciso, as pessoas decidirão por nós e se vivermos como um infeliz, as pessoas apenas terão “peninha” de nós.

Assim sendo, em nome da nossa saúde mental, não devemos nos acostumar com a nossa forma de enxergar o mundo sob o prisma único da nossa mediocridade e não devemos nos contentar com a merda que resulta dessa nossa visão de vida e de mundo. A resultante disso é uma vida de merda, também.

Partindo disso, só então, devemos empreender as mudanças que queremos ver na nossa vida (não na vida dos outros), entendendo que a nossa vida muda quando nós mudamos a nossa vida. Portanto, mude sem falar para ninguém, mude pra você, aos poucos, sem muita propaganda, com paciência e sabedoria. Mude para melhor, mude para ser feliz, hoje, amanhã e todos os dias novamente sabendo que a vida do outro, mesmo que este outro seja seu filho, seu marido, seu amigo, inimigo ou quem quer que seja, não lhe pertence e que você não tem nenhum poder sobre ela, por mais que você queira ter e acredite que tem.

Portanto, preciso entender que sou eu que tenho que sair da cômoda e covarde condição de eterno coitado, que vive se lamentando de tudo e de todos o tempo todo; sou eu que tenho que ter o entendimento necessário para deixar a condição de exímio enxergador das coisas ruins e de ser aquele que, em tudo, só percebe as dificuldades e as desgraças; sou eu quem precisa compreender o belo no feio, a proatividade nas coisas difíceis e, principalmente, sou eu quem precisa saber que as oportunidades que fazem a vida ser vida se encontram nas coisas que não saem como eu quero e nas perdas que a vida me proporciona como oportunidade de crescimento e melhora.

Por tudo isso, todos nós, doentes e sadios, precisamos evitar o uso de problemas para chamar a atenção, ganhar carinho ou reconhecimento, pois quando o caminho do sofrimento é usado como opção de vida, quem sempre sai perdendo é o próprio dono do caminho já que nós sempre vivemos a vida que escolhemos ter.