Nos dias de hoje, nas sociedades em que nos inscrevemos, falar na necessidade de escolas multiculturais, inclusivas, genericamente, não faz muito sentido, para nós.

Educação para todos é um dado adquirido, na nossa cabeça, para além de institucionalizado, quer na carta de direitos humanos, quer em declarações mundiais várias – Salamanca, por exemplo ….

Sabemos que muitas vezes é difícil aceitar a diferença, mas nos nossos contextos, nós educadores informados, sensibilizados, a discussão sobre a necessidade, a pertinência, de escola para todos, educação inter e multicultural, a existir, não faz sentido.

Não vamos entrar em teorizações, pois, já muito se tem dito e escrito sobre tal temática. Senão leiamos Valentim, Cardoso, D´Hainaut, por exemplo.

Seremos breves, pois, temos pouco a dizer, apenas uma opinião, embora reflectida.

Assim, e de facto, a nossa convicção ou presunção, é que está generalizada, no seio da classe dos educadores, a ideia que a escola é e deve ser, sem reticências, para todos. Hoje, e cada vez mais, isto se impõe. Por convicção, por ideologia, por estratégia, ...... É uma asserção que não tem retorno nem contra-argumentos. Enquanto pensamento, política, é partilhado de forma, julgamos, consensual.

Mas se assim é, então, porque continua a ser, ainda, uma temática tão discutida?

Não há fumo sem fogo.....

Há que interrogar, 1º- cognitivamente: aceitamos mesmo que a escola é para todos? Aceitamos que devemos conviver em comunidade eclecticamente, com as diferenças, sem perda de identidade?

Posta esta questão, se aceitamos, então, porque as misturas nos gerem ou podem gerar mal-estar?

Julgamos que a grande questão subjacente não é a aceitação cognitiva da diferença, antes, a percepção da incapacidade de lidar com essa mesma diferença.

Eventualmente, e somente por questões académicas, separamos sujeitos nas classes, ou em outras situações.

Quer queiramos, quer não, embora o que vamos dizer não seja pedagogicamente correcto, tendencialmente, gostamos de funcionar com a homogeneidade. Se bem que pouco desafiante, parece-nos, sem dúvida, mais cómodo e fácil.

Sabemos o quanto é complicada a acção educativa, as exigências que nos são solicitadas.

Perante este estado de coisas, e mesmo os mais avisados, podem e caiem na tentação, porque mais fácil, por tradição, até de formação, de funcionar, mesmo que efectivamente saibamos que somos todos diferentes, como se fossemos ou fossem todos iguais.

Julgamos, todavia, que neste aspecto, a educação pré-escolar, quer em termos da formação dos educadores, quer das suas práticas, leva, há já longo tempo, um largo avanço, relativamente à educação dos restantes níveis etários. Mesmo assim, é, ainda, frequente, parece-nos, a queixa da dificuldade de funcionar com grupos com, por exemplo, idades diferentes ……

Mas, pensemos ou especulemos um pouco sobre o assunto:

São os educadores de infância mais sensíveis e humanistas?

Será porque lidam com idades onde as diferenças são menos acentuadas?

Será, eventualmente, repercussão da formação?

Ou serão outras questões, mais de ordem estrutural, organizacional ou curricular?

Inclinamo-nos mais para este conjunto de hipotéticas explicações.

A não existência de programas curriculares, com conteúdos informativos, disciplinares, julgados necessários cumprir, pode tornar-se uma resposta possível. Considera-se que pode gerar ou implicar uma maior plasticidade e flexibilidade da acção pedagógica ou educativa.

De facto, por razões várias, os educadores de infância possuem condições, virtualmente, mais favoráveis ao exercício pleno da educação para todos, sem máscaras de preconceitos, ao atender às individualidades, às idiossincrasias, às diferenças, sejam elas de que tipo forem.

Mas, o que ressalta, então, destas breves notas?

Se a discussão sobre os objectivos da escola de hoje, em termos de público alvo, nos parece oca e vã, já pertinente seria a discussão do como efectivar e concretizar melhor os ideais, mais ou menos, partilhados por todos.

A assunção da escola multicultural é um dado adquirido, sem comentários maiores. Mesmo a inventariação das estratégias ou instrumentos para a viabilizar é tarefa quase completa. Julgamos, mesmo, que o há que pensar e fazer é testar as formas de actualizar os objectivos que lhe estão subjacentes. Implementá-las e testá-las, em contexto, em função e tendo como critério, apenas, as características específicas das diferentes situações.