Finalmente, chegamos ao século XXI, a globalização dos países industrializados parece estar a exercer influência ascendente sobre os países em desenvolvimento. No século XX, tivemos a oportunidade de contemplar um crescimento incomensurável da tecnologia e dos meios de comunicação que, de certo modo, minou as relações afectivas entre os seres humanos.

 

 I.

Por natureza, o ser humano necessita de estabelecer relações afectivas com os seus semelhantes. O intuito primário de estar no ambiente harmónico, dentro dos padrões morais e éticos numa sociedade modernizada despida do senso indulgente.   

A cosmovisão que cada indivíduo possui sobre a realidade, joga papel imprescindível na conduta e nas atitudes individuais, e interferem na colectividade.

Actualmente, as pessoas estão muito apegadas ao consumismo económico, aos bens materiais, deixando de lado a fidelidade às relações afectivas e aos vínculos fraternos. As sociedades em vias de desenvolvimento ressentem-se deste aspecto, pois as pessoas procuram crescer individualmente em termos financeiros, ainda que necessitem de rasgar os princípios éticos e morais, que passam a ser encarados como frequentes e amorais.

 

II.

A compreensão dialéctica sobre o significado da amizade remonta desde os primórdios da antiguidade. Porem, as relações de amizade são feitas com base em interesses económicos, políticos, sociais e até psíquicos, retirando a sua veia humana. 

O conhecimento inconsciente de um pensamento ocorre quando duas partes são acompanhadas de eliminações da imagem motora da palavra. O pensar consciente é uma acção transformada em um certo tipo de actos verbais. Da mesma maneira que todas as vivências de satisfação, as vivências dolorosas também foram inicialmente recordadas sob a forma alucinatória e, diferentemente, das primeiras, deram lugar a defesas primárias.

Nesta fase derradeira (reconstrução dos processos psíquicos individuais e colectivos bem como adopção de postura cívica globalizada), é impreterível lembrar as indagações do filósofo Kierkegaard na sua obra "Desespero Humano - Doença até a Morte", uma espécie de estudo básico, no qual o autor procura reflectir sobre o significado do desespero, ou melhor, dos desesperos e como podemos lidar com eles de uma maneira optimizada para a nossa existência, questionando:                                                                                                   

 Entre os inúmeros tipos de desespero, dois são muito comuns:

  1. O desespero pelo desejo de não ser um eu próprio – denominado de desespero-fraqueza.

  2. O desespero pelo desejo de ser um eu próprio – denominado de desespero-desafio;·

Para Kierkegaard, o homem em desespero tem o costume de se considerar uma vítima das circunstâncias porque o desespero revela a miséria e a grandeza do homem, pois é a oportunidade que ele possui de chegar a ser ele mesmo, chegar a ser um eu próprio. O desespero é algo universal. Todos os homens vivenciam o desespero, mesmo não tendo consciência plena dessa situação.

 

III.

 No século XIX, o filósofo dinamarquês, Sören Aabye Kierkegaard, dedicou a sua vida para entender ao desespero no qual o ser humano, pela sua condição de estar no mundo, vivendo, sua quotidianamente.

Discorre com muita propriedade sobre o desespero não como uma questão filosófica somente, mas também como um problema concreto do dia-a-dia. O desesperado enfraquecido pode materializar a sua autonegação, usando possibilidades relacionadas a coisas que estão fora do seu alcance, ou mesmo, ficando parado, congelado, estático diante de possibilidades fantasmagóricas que ele coloca para si como se fossem suas. Não conseguindo assim se movimentar em direcção da mudança, do vir-a-ser um indivíduo de sua própria invenção. Isso leva o indivíduo a criar um escudo diante de si, pois uma das suas maiores ilusões, já que ele vive num mundo de pura fantasia é: " Se o mundo à minha volta mudar eu também mudo". Ele afirma quase que, constantemente, "se tivesse à inteligência de fulano ou as riquezas de beltrano, tudo seria diferente". Ele não consegue se ver como o gerente das circunstâncias da sua própria vida

Kierkegaard dizia que é possível que o indivíduo tenha êxito e sucesso material, mas apesar de tudo, apesar de ter uma vida normal aos olhos do mundo, não consegue ser um "Eu" de sua própria criação, ser ele próprio. E isto, trará um profundo vazio, que não poderá ser preenchido por qualquer coisa, a não ser, pela decisão de se autoreformular, de fazer de si um projecto da sua própria determinação .

Na aldeia global, o amor ao próximo tem pouca relevância. Os amigos do círculo restrito questionam: porquê acreditar em coisas que não são palpáveis?