Os últimos anos têm sido tortuosos para a juventude angolana. Cada vez que medito sobre o estado dela, remeto a essência do pensamento à génese psíquica dos factores determinantes da perda de valores.
Quando se caracteriza o conjunto de disposições
fisiológicas de cada indivíduo denominada idiossincrasia, associa-se logo à
perda de valores, excesso de álcool, abandono das responsabilidades e, de
modo geral, desleixo sobre o modo de vida.
Tendo em conta o crescimento económico e a reconstrução (ainda que
subjectiva) que Angola atravessa, é impreterível encomendar-se um estudo
exploratório sobre a predominância dos comportamentos negativos, a perda dos
valores morais e cívicos e a carência de instrução.
Este último aspecto está intimamente associado aos dados do Ministério da
Educação de Angola que avançou números positivos sobre o sucesso escolar no
ano transacto.
I.
As três décadas de conflito armado que os angolanos
passaram propiciaram sequelas graves e influências negativas na conduta dos
indivíduos. Em suma, podemos postular que, do ponto de vista psicológico, um
percentual considerável de jovens tem ligação directa ou indirecta com este
triste acontecimento.
Normalmente, quando um país sai duma crise militar, não só se perderam
homens e a destruição de cidades, mas também laços afectivos, famílias, bens
materiais, sensibilidade das pessoas, altruísmo e amor à pessoa humana.
Em palavras mais simples, o convívio quotidiano de situações de dor,
tristeza e luto podem proporcionar no indivíduo demasiada compaixão em
relação ao mundo, como reverter-se numa total destruição da personalidade do
mesmo.
Neste contexto, entende-se como personalidade o conjunto das características
essenciais (inteligência, carácter, temperamento, constituição) e as suas
modalidades próprias de comportamento.
II.
Do ponto de vista psicológico, julgo que a perda de
valores e consequente adopção da 'incultura' (falta de cultura, estado de
inculto) não se devem unicamente aos anseios e perspectivas de vida da
camada em epígrafe.
Se hoje em dia os pais não disponibilizam parte do seu tempo para se sentar
à mesa com os filhos (este encontro permite a transmissão de valores, troca
de experiência, rotina no horário, bem como actualização dos passos que as
partes têm tomado), os modelos de imitação e identificação tornam-se cada
vez mais difíceis, ou seja, no plano estrutural o jovem acaba por se
identificar com aquilo que aprende fora de casa, nomeadamente no círculo de
amigos, vizinhos e colegas de escola.
III.
Não se pode entender o conceito de jovem como 'desbunda', farra, sexo, incoerência e isenção nas grandes decisões públicas. Os anseios da juventude devem passar pela actual fase em que se encontra o País. E isso só será possível com duas componentes fundamentais: educação e saúde. Essa acepção tem como base o facto de esta camada constituir a força motriz da sociedade. Neste contexto, a visão hermética de que o jovem não se deve preocupar com questões que estão distantes do seu ambiente não pode servir para justificar o desvario.
IV.
(...) Se cada indivíduo mudar de atitude, o país muda
também. Tal facto deve começar pelo círculo restrito de cada um. Devemos ter
a capacidade de promover bons costumes, novos valores, não descorando o
lazer e a diversão. É necessário não fazer destes últimos aspectos a
prioridade da vida de cada um. O futuro certamente reserva-nos uma pétala de
esperança.
Quando um órgão de televisão, que é um veículo de transmissão de valores,
conhecimentos, mas durante o seu processo de reestruturação não tem em
consideração a educação cívica da juventude, não se pode esperar grande
coisa do comportamento da referida camada.
Se por um lado, os jovens estão agarrados aos canais da parabólica, deve
reconhecer-se que a televisão pública apresenta uma precariedade enorme em
todos os domínios, tanto em conteúdos, programas, formação dos
apresentadores e imparcialidade na definição dos padrões de difusão.