“Onde quer que veja um negócio de sucesso, pode acreditar que ali houve,
um dia, uma decisão corajosa.”
(Peter Drucker)
O fenómeno é observado geralmente em pequenas empresas. Um funcionário recém-admitido, ao fim da sua primeira semana de trabalho, vai ter com o director. Entra na sala meio cabisbaixo, trazendo nas mãos contas de luz e água atrasadas, e a notícia: o corte no fornecimento não passa do dia seguinte.
Desempregado que esteve nos últimos meses, sente-se hoje feliz com a oportunidade de trabalhar. Mas como as despesas familiares não dão tréguas e dinheiro emprestado é mercadoria escassa, não vê alternativa diferente do que solicitar ao patrão um adiantamento salarial.
O empresário recebe as tais contas, entra na internet, faz o pagamento e imprime os comprovantes. Aquela agonia acabou. Um motivo a menos para a angústia.
Mas o que denota uma acção admirável e até socialmente responsável, pode simbolizar um preocupante padrão de conduta na gestão dos negócios: o paternalismo corporativo.
O empresário ou executivo que faz da excepção uma regra, atendendo a todos os pedidos da sua equipa, coloca em risco a perenidade e o sucesso do próprio negócio. Neste processo, cargos e funções atribuídos deixam de ser respeitados, metas carecem de ser cumpridas, resultados ficam comprometidos. Decorre um natural relaxamento e acomodação, redução de responsabilidades, perda de produtividade, ausência de empenho.
A postura assemelha-se à de um pai super-protetor, que acolhe os filhos, enlaçando-os e reconfortando-os diante das dificuldades, tomando-lhes a frente em todas as decisões. Acreditam estar, desta forma, a contribuir para a sua formação, sem perceber que os está a privar da aprendizagem necessária, da experiência que precisa de ser vivida, da dor que pede para ser enfrentada para fortalecer e elevar.
Este paternalismo pode representar metas de vendas não atingidas por sucessivos meses, sob a alegação de que o mercado está num momento adverso ou porque a conjuntura económica é desfavorável, quando o problema pode estar na equipa que deveria ser substituída. Pode significar problemas de qualidade no processo produtivo justificadas pela procedência das matérias-primas ou por mau uso dos clientes, quando os padrões e procedimentos deveriam apenas ser seguidos. Pode expressar colaboradores desmotivados justificando insatisfação com a remuneração ou a política de benefícios, quando há carência de profissionais com orgulho de pertencer.
Aos gestores que se identificam dentro deste perfil vale a pena meditar sobre o porquê de tal comportamento. Pode ser fruto de insegurança, sinalizando o imperativo da aceitação e do reconhecimento, ou reflexo de arrogância, característica dos orgulhosos que se acreditam donos da palavra. Para os primeiros, falta-lhes a iniciativa; aos segundos, a humildade. Para todos, recomenda-se tomar decisões com coragem, sem confundir apoio com subserviência, pois as consequências podem ser a paralisia, o atraso e a falência da actividade empresarial.
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