Pergunto à minha filha Mariana, de 11 anos, o que pensa da seguinte situação: um pai, vendo um filho passar fome, resolve roubar alimentos em um supermercado no bairro em que mora. Ele agiu certo ou errado ao cometer esse delito?”. Ela me responde: “Acho que ele agiu certo porque ao ver o filho com fome não suportou  a cena de  miséria em sua casa e  não teve saída senão roubar. Por outro lado, também agiu errado por ter roubado o supermercado; afinal, roubar é uma ação feia”.

O que Mariana chama de “ação feia” um promotor, membro do Ministério Público, que representa a sociedade e atua como acusador contra os suspeitos de terem cometido alguma ação criminal,  poderá definir o  ato do pai  como “ apropriação indébita de bem alheio” e  um júri, formado por um juiz togado e cidadãos previamente selecionados  para o  julgamento do caso,  poderá julgar a prática do pai   como uma  transgressão imputável da lei penal por dolo ou culpa, ação ou omissão.

O exemplo acima pode nos dar uma idéia da complexidade que é viver em sociedade. A luta por um mundo melhor, por uma civilização mais humana, mais democrática e mais justa tem sido historicamente construída pelo homem. 

Atualmente, os governos, as organizações não-governamentais e os cidadãos do mundo lutam pela eqüidade. O que é a eqüidade? É uma forma de praticar a Justiça, isto é, o respeito à igualdade de direito de cada um, que independe do que está escrito nos códigos jurídicos.  No século XXI,  a sociedade, civil e política, quer que todos pratiquem a eqüidade como expressão de  um sentimento do que se considera justo,  que seja expressa em forma de  virtude de quem ou do que (atitude, comportamento, fato etc.) manifesta senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos dos homens.

Por isso, na Filosofia, a ética é o  ramo de estudos que cuida particularmente de investigar os princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

Podemos observar que as ações humanas,  em face de sentimentos,  estímulos sociais ou de necessidades íntimas,  requerem, para a boa convivência na vida social,    bons costumes, boa conduta, segundo os preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade.  Uma pessoa,  mesmo com as mais contundentes e sensíveis justificativas,  em  situação de privação material ou  situação de fome, comete um crime ao roubar para alimentar-se. Roubar é um ato que fere a moral e os bons costumes.

Os valores não surgem na vida  em sociedade como um trovão no céu. São construídos  na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas escolas, nas manifestações culturais, nos movimentos e organizações locais. Conhecê-los, compreendê-los e praticá-los é uma questão fundamental da sociedade atual, imersa numa rede complexa de situações e fenômenos que exige, a cada dia, atitudes éticas como  a honestidade, a bondade e a virtude, considerados, em todas as civilizações modernas,  como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens.      

 Sem a prática de valores, não podemos falar em cidadania. A cidadania é condição de pessoa que, como membro de uma sociedade, independente da cor de sua pele, raça ou classe social, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política e, outrossim, pode viver, como um indivíduo que usufrui de direitos civis e políticos garantidos pelo  Poder Público e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos para viver em sociedade.

Entre as diferentes ambiências humanas, a escola tem sido, historicamente, a instituição escolhida pelo Estado e pela família, como o melhor lugar para o ensino-aprendizagem dos valores, de modo a cumprir, em se tratando de educação para a vida em sociedade, a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mundo do trabalho.

Sendo assim, caberá às instituições de ensino a missão, por excelência, de ensinar valores no âmbito do desenvolvimento moral dos educandos, através da seleção de conteúdos e metodologias que favoreçam temas transversais (Justiça, Solidariedade, Ética etc) presentes em todas as matérias do currículo escolar, utilizando-se, para tanto, de projetos interdisciplinares de educação em valores, aplicados em contextos determinados, fora e dentro da escola.